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Estado de Minas

Comiss�o da Verdade completa dois anos sem puni��es

Entrega do relat�rio da Comiss�o Nacional da Verdade completa 24 meses sem que citados por crimes durante o regime militar no pa�s sejam submetidos a qualquer tipo de julgamento


postado em 19/12/2016 06:00 / atualizado em 19/12/2016 07:38

Os mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia foram tema de uma das audiências da Comissão Nacional da Verdade(foto: Antônio Cruz/Agência Brasil - 12/8/14)
Os mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia foram tema de uma das audi�ncias da Comiss�o Nacional da Verdade (foto: Ant�nio Cruz/Ag�ncia Brasil - 12/8/14)

Com uma lista de 377 nomes de agentes que cometeram atos de viola��o aos direitos humanos, o relat�rio final da Comiss�o Nacional da Verdade (CNV) completou no fim de semana dois anos sem que nenhum dos respons�veis citados tenha respondido pelos seus crimes. Em 10 de dezembro de 2014, os integrantes da comiss�o entregaram para a ent�o presidente Dilma Rousseff o relat�rio que tinha como principal recomenda��o que as For�as Armadas assumissem a responsabilidade (inclusive juridicamente) pelas viola��es e que indiv�duos fossem responsabilizados. At� agora, a recomenda��o passou longe de se tornar realidade.

O coordenador da CNV, o jurista e professor de direito da Universidade de S�o Paulo (USP) Pedro Dallari, avalia que apesar de trazer de forma detalhada e sistematizada os epis�dios obscuros dos por�es da ditadura, a falta de continuidade no processo foi uma escolha do Pal�cio do Planalto e de outras institui��es brasileiras.

“O Estado brasileiro optou por n�o produzir consequ�ncias institucionais ao estudo que foi feito sobre tudo que se passou naquele per�odo. Embora a lei determinasse que fossem feita recomenda��es ap�s as apura��es, tanto o governo Dilma, quanto o atual governo de Temer, escolheram n�o dar andamento”, lamenta Dallari.

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A aus�ncia de julgamentos ou puni��es efetivas se torna motivo de maior frustra��o uma vez que houve grande expectativa de que os resultados das apura��es avan�assem em um governo de esquerda, que era presidido por uma presidente que foi v�tima de torturas durante a ditadura. Dilma foi presa e torturada no in�cio dos anos 1970 e se emocionou muito durante a cerim�nia de apresenta��o do relat�rio final. “Se em um governo mais comprometido com a busca da mem�ria e da verdade os desdobramentos n�o aconteceram, dificilmente se espera que venham a acontecer no futuro”, diz o coordenador da CNV.

DESAPARECIDOS O relat�rio final aponta 434 mortos e desaparecidos durante o regime militar, sendo que 210 pessoas que sumiram ap�s serem presas acusadas de “terrorismo” ou “subvers�o” permanecem sem que o paradeiro de seus corpos seja conhecido. Durante as investiga��es da comiss�o, corpos de 33 desaparecidos foram localizados.

Pedro Dallari, jurista e coordenador da CNV(foto: José Cruz/Agência Brasil - 5/9/14)
Pedro Dallari, jurista e coordenador da CNV (foto: Jos� Cruz/Ag�ncia Brasil - 5/9/14)
Em maio de 2014, antes da conclus�o do relat�rio, a Justi�a aceitou den�ncia contra militares acusados de participar do atentado no Riocentro. O Minist�rio P�blico pediu que eles respondessem pelos crimes de tentativa de homic�dio doloso, organiza��o criminosa, transporte de explosivos e favorecimento pessoal. No entanto, dois meses depois o caso foi considerado prescrito pelo Tribunal Regional Federal (TRF) e n�o houve qualquer puni��o para os envolvidos. Decis�es reiteradas em tribunais brasileiros – inclusive do Supremo Tribunal Federal (STF) – entendem que crimes praticados durante a ditadura est�o perdoados pela Lei de Anistia, de 1979.

Na semana passada, o Minist�rio P�blico Federal (MPF) do Rio de Janeiro denunciou o ex-sargento do Ex�rcito Ant�nio Waneir Pinheiro de Lima, conhecido como “Camar�o”, que foi caseiro da chamada “casa da morte de Petr�polis”, centro clandestino de tortura usado durante a ditadura. A den�ncia levou em conta depoimento de In�s Etienne Romeu, ex-presa que foi torturada na Casa da Morte, falecida no ano passado. Ele foi denunciado pelos crimes de estupro e sequestro. Ainda n�o existe data para que “Camar�o” seja julgado.

Apesar de destacar que os militares brasileiros n�o apoiaram tentativas de ruptura democr�tica mesmo em momentos de crise institucional como as enfrentadas este ano, Dallari afirma que ainda existe grande dificuldade em lidar com os militares no pa�s. “Hoje, n�o se aventa a volta dos militares, fora um ou outro maluco que vemos no meio das manifesta��es por a�. Mas n�o h� segmentos expressivos que apostam na ruptura. Ainda assim, temos uma dificuldade de lidar com quest�es que envolvem os militares. O exemplo maior aconteceu com a proposta de reforma da Previd�ncia que deixou de fora os militares”, diz Dallari.

• EXEMPLO DOS PA�SES VIZINHOS

Se no Brasil os acusados de cometer viola��es continuam distantes dos tribunais, em outros pa�ses da Am�rica do Sul que passaram por per�odos de ditadura a realidade � bem diferente. Julgamentos de militares s�o comuns na Argentina, Uruguai e Chile, com duras puni��es para os condenados. No fim de 2014, quinze militares da reserva argentinos foram condenados � pris�o perp�tua por viola��es dos direitos humanos em um centro clandestino.
Em maio deste ano, um tribunal argentino condenou o ex-ditador Reynaldo Bignone, de 88 anos, e o coronel uruguaio reformado Manuel Cordeiro, de 77 anos, a 20 e 25 anos de pris�o por participarem do Plano Condor, um sistema de coordena��o repressiva adotado pelas ditaduras da Am�rica do Sul nas d�cadas de 1970 e 1980. Bignone foi o �ltimo presidente da ditadura argentina. No Chile, os principais nomes da ditadura tamb�m enfrentaram as cortes. Em junho, a Corte Supremo determinou o aumento das penas para dois militares condenados por assassinar jornalistas durante o regime de Augusto Pinochet.

“Diferentemente de nossos vizinhos que tamb�m viveram per�odos de ditadura, com graves viola��es dos direitos humanos, n�o se criou um �rg�o no Brasil para dar segmento e se apurar as responsabilidades individuais penais, civis e administrativas. O Brasil � um caso �nico, em que n�o houve nenhuma puni��o. Nem sequer os julgamentos avan�aram”, avalia Pedro Dallari.

Documentos destru�dos

H� tr�s meses, a reportagem do Estado de Minas enviou, por meio da lei de acesso � informa��o, um pedido para pesquisar arquivos dos Centros de Informa��o e Intelig�ncia do Comando do Ex�rcito, do Comando da Marinha e do Comando da Aeron�utica. As tr�s institui��es que comp�e as For�as Armadas informaram ser imposs�vel o acesso a tais documentos. “O Decreto 79.099, de 6 de janeiro de 1977, estabelecia que documentos sigilosos, bem como os seus eventuais Termos de Destrui��o, deveriam ser destru�dos pela autoridade que os elaborasse ou pela autoridade que detivesse a sua cust�dia, ap�s decorridos determinados prazos”, diz a resposta do Comando do Ex�rcito, que afirma que os documentos “se existiram, foram destru�dos.”


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