Natal – A luta pelo dom�nio da Penitenci�ria Estadual de Alca�uz, na Grande Natal, superou ontem 120 horas, com cenas de batalha campal, duas mortes e tentativa de assassinato at� do diretor da cadeia. � noite, a Tropa de Choque entrou na pris�o para tentar criar uma “parede” que separasse os detentos ligados ao Sindicato do Crime (SDC) dos filiados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Ao longo do dia, o ponto em disputa era o pavilh�o 3 da unidade, antes ocupado por detentos considerados neutros e tamb�m por aqueles ligados ao SDC. Perto dali, integrantes do PCC, que ganharam for�a desde o massacre do s�bado, quando mataram 26 presos rivais, queriam avan�ar ainda mais no territ�rio e conquistar mais um pavilh�o – al�m do 5, o 4 j� havia passado para a organiza��o de origem paulista. Essa disputa, travada com armas artesanais, entre lan�as e escudos, e com os p�s na areia, representou o confronto mais intenso entre as partes na cadeia desde o in�cio da semana.
O sexto dia de rebeli�o em Alca�uz come�ou cedo. Nas primeiras horas da manh�, detentos de lado a lado voltaram a ocupar os telhados dos pavilh�es e tra�ar objetivos para amea�ar e confrontar a parte rival. A pol�cia, que havia entrado no local na noite de anterior para transferir detentos do SDC, s� ocupava as guaritas. A transfer�ncia foi apontada como um dos fatores que desencadearam a nova briga. Isso porque as duas centenas de presidi�rios retirados da unidade eram ligados ao Sindicato, o que enfraqueceu a resist�ncia contra o PCC, que optou por avan�ar. Do alto dos muros, o barulho dos disparos de armamento n�o letal efetuados por PMs e agentes penitenci�rios ecoavam na regi�o, al�m das explos�es das bombas de efeito moral. A corpora��o queria evitar � bala a aproxima��o dos grupos criminosos.
No meio da manh�, a tens�o aumentou e os ataques se sucederam com pedras, paus, lan�as e at� com disparos de arma de fogo. No momento de maior conflagra��o, o diretor da unidade, Ivo Freire, subiu em uma das guaritas e virou alvo dos presos. Um tiro de arma de fogo disparado em sua dire��o com inten��o de mat�-lo atingiu a parede da guarita, esfarelando o cimento atr�s dele. No pres�dio, o cen�rio visto desde o domingo passado continuava: bandeiras hasteadas e falta de controle sobre a circula��o dos presos. V�rios detentos feridos foram retirados por colegas. � noite, o governo confirmou duas mortes nos confrontos.
� tarde, o clima de relativa tranquilidade, em compara��o com a manh�, s� foi rompido por um inc�ndio no pavilh�o 3 que espalhou uma fuma�a negra pela unidade. Pouco depois, �s 17h, agentes do Batalh�o de Choque, do Batalh�o de Opera��es Especiais (Bope) e do Grupo de Opera��es Especiais (GOE), dos agentes penitenci�rios, entraram na unidade com objetivo de cessar a livre circula��o e a amea�a de confronto entre os presos. At� as 20h, o �nibus da equipe permanecia no interior da cadeia, avan�ando aos poucos. Os presos se recolheram aos pavilh�es.
For�as Armadas Depois do registro de mais de 30 ataques em dez cidades do Rio Grande do Norte em pouco mais 24 horas, o presidente Michel Temer autorizou ontem o envio das For�as Armadas para refor�ar a seguran�a nas ruas de Natal. O revide das for�as de seguran�a locais resultou em pelo menos uma morte e nove pris�es. O contingente militar a ser deslocado para a regi�o ser� formado principalmente por homens do Ex�rcito, que devem iniciar as opera��es na pr�xima semana. “Ap�s pedido do governador do Rio Grande do Norte, autorizei o uso das For�as Armadas para refor�ar a seguran�a nas ruas de Natal”, escreveu o presidente em sua conta pessoal no Twitter.
Ao ser informado que os presos continuavam fora de controle na Penitenci�ria Estadual de Alca�uz, na Grande Natal, o presidente admitiu que a solu��o � de longo prazo. “A curto e m�dio prazos, destinamos R$ 150 milh�es para bloquear os celulares e R$ 80 milh�es para as revistas, mas depende da conex�o com os estados. Vamos fazer 30 pres�dios no pa�s, mas amanh� ou depois n�o vai estar resolvido”.
A situa��o no Rio Grande do Norte se agravou depois do motim em Alca�uz. Entre a noite de quarta-feira e a tarde de ontem, 22 �nibus, 2 micro-�nibus, 4 carros e uma ca�amba foram incendiados em diferentes pontos de Natal e tamb�m no interior. Tamb�m havia relatos de tiroteios pela capital e o registro de uma execu��o em uma das principais avenidas da cidade. Diante do agravamento do quadro de seguran�a p�blica, a prefeitura autorizou que t�xis, vans escolares e carros credenciados fizessem servi�o de lota��o.
O resultado disso foi o recolhimento da maioria dos ve�culos de transporte coletivo na capital, sem previs�o para o retorno dos �nibus �s ruas. Pelas vias da cidade, pouca gente circulava, mesmo de carro. O com�rcio tamb�m fechou as portas mais cedo. Nos pontos de �nibus, era poss�vel ver pessoas caminhando em busca de algum tipo de transporte. Alguns estabelecimentos p�blicos e privados tamb�m liberaram os funcion�rios mais cedo.
enquanto isso...
… Rio diz estar sob controle
O sistema penitenci�rio do Rio est� sob controle, e o monitoramento dos pres�dios n�o aponta risco iminente de que a convuls�o verificada em unidades do Norte e do Nordeste chegue ao estado, disse ontem o secret�rio estadual de Administra��o Penitenci�ria, Erir Ribeiro Costa Filho. ‘Eu n�o posso prever o futuro, usar achismo. At� o momento, est� sob controle, n�o tem como analisar risco. Estamos monitorando. Pode acontecer? Eu n�o sei”, disse Costa Filho. “Em se falando de sistema prisional, mesmo dentro da normalidade, a preocupa��o � constante, independentemente do que est� acontecendo no pa�s. Estamos lidando com seres humanos. As pessoas s� falam do Primeiro Comando da Capital (PCC), que n�o est� no Rio. Isso traz uma situa��o de conforto”, continuou o secret�rio, que espera a volta ao trabalho dos agentes penitenci�rios para hoje, depois de tr�s dias de paralisa��o.