Uma das maiores for�as pol�ticas do estado em termos de voto, capilaridade e n�mero de eleitos est� dividida. O PMDB mineiro hoje s�o dois. De um lado, o grupo liderado pelo vice-governador Ant�nio Andrade, rompido com o governador Fernando Pimentel (PT). Do outro, o presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, aliado de primeira hora de Pimentel. No meio, parlamentares e caciques da legenda se movimentam de acordo com seus interesses e de suas bases, mas tendo como norte, na maioria das vezes, a caneta do governador.
J� antevendo dificuldades para se manter no comando, Andrade, cada dia mais isolado dentro da legenda, busca apoio da dire��o nacional para que a disputa seja adiada e ele permane�a no cargo. No ano passado, no auge da tens�o entre governador e vice, Pimentel come�ou a reduzir o espa�o de Andrade no governo.
Um dos limados foi seu afilhado pol�tico Mateus Gomes, que era vice-presidente da Cemig, substitu�do por Paulo Castellari, executivo do setor de minera��o, cujo padrinho � Adalclever Lopes. Logo depois foi a vez da exonera��o de Jo�o Cruz Reis Filho, tamb�m ligado a Andrade, deixar o cargo de secret�rio da Agricultura. Em seu lugar foi estrategicamente nomeado Thiago Cota, hoje no PMDB, mas eleito pelo PPS. Cota, que por problemas familiares nem chegou a ocupar a pasta de verdade, foi escolhido a dedo para impedir que o suplente Jo�o Alberto Lage (PMDB), do grupo de Andrade, assumisse uma vaga na Assembleia caso o escolhido fosse algu�m eleito pelo PMDB. Para o lugar de Cota foi indicado Pedro Cl�udio Coutinho Leit�o, ligada ao grupo de Adalclever.
Enquanto o vice vai sendo emparedado, Adalclever se movimenta para garantir sua elei��o para o comando do PMDB mineiro e, caso a candidatura de Pimentel n�o seja viabilizada, ser o candidato do partido ao governo do estado. Mas por enquanto, o governador e as bancadas est�o no maior amor. E n�o � para menos. O PMDB tem quatro secretarias importantes no governo, entre elas uma das mais cobi�adas, a da Sa�de, e muitos cargos relevantes no segundo escal�o. E o governador, que pode precisar muito do PMDB caso a Assembleia tenha que se pronunciar sobre um poss�vel afastamento do cargo, trata a ala aliada do partido a p�o de l�. No come�o deste m�s, Pimentel, parte do seu secretariado e diversos prefeitos, deputados e lideran�as partid�rias do PMDB participaram de um almo�o em homenagem a Adalclever oferecido pelo ex-governador Newton Cardoso (PMDB) em sua fazenda, em Pitangui.
O presidente da Assembleia conta com o apoio do cacique peemedebista, que passou o bast�o para o filho, deputado federal Newton Cardoso J�nior (PMDB), mas continua dando cartas dentro do partido. Nesse almo�o, segundo revelou um dos participantes, um dos principais assuntos foi a disputa pelo comando da legenda e as elei��es de 2018. Aos peemedebistas, Adalclever tem defendido fidelidade ao governador e a manuten��o da dobradinha com o PT em 2018, desde 2006, quando as duas legendas disputaram juntas pela primeira vez o governo do estado. Desde ent�o, elas se revezam nessa alian�a, a cada pleito com um partido na cabe�a da chapa. Adalclever tem ainda o apoio de cinco dos seis deputados federais mineiros. Apenas Rodrigo Pacheco, terceiro colocado na disputa pela PBH e eleito recentemente presidente da Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) da C�mara, est� com Andrade.
Curiosamente, apesar de o partido ter estreitado os la�os com o PT, em n�vel nacional, a legenda em Minas foi majoritariamente favor�vel ao afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, que levou ao poder o peemedebista Michel Temer. Mas isso em nada estragou as rela��es com o governador e com o PT. Para o deputado Ivair Nogueira (PMDB), essa divis�o dentro do partido � normal e “faz parte do jogo pol�tico”. “O importante � na hora certa todo mundo se juntar para vencer as elei��es”, defende.
Coadjuvante Para o cientista pol�tico e professor da Escola Brasileira de Administra��o P�blica e de Empresas da Funda��o Getulio Vargas (FGV/EBAPE) Carlos Pereira, que elabora uma pesquisa sobre o PMDB e partidos com perfil semelhante na Am�rica Latina, a legenda � uma das mais exitosas da Am�rica Latina, sempre atuando na zona de conforto ao lado de governos vitoriosos nas urnas. Segundo ele, desde 1994, data da primeira elei��o direta ap�s o fim da ditadura, o partido tem se caracterizado como uma legenda coadjuvante, mas fundamental para os governos de coaliz�o. “Para que um partido cumpra esse papel coadjuvante, que � ultrarrelevante em um regime presidencialista multipartid�rio, � necess�rio que esse partido tenha algumas caracter�sticas: tenha distribui��o no territ�rio nacional, ocupe uma parcela consider�vel de cadeiras na C�mara dos Deputados e no Senado, tenha posi��es ideol�gicas amorfas e mal definidas, seja formado por lideran�as regionais diversas, e n�o apresente candidatos competitivos para a Presid�ncia.” Caso, de acordo com ele, do PMDB.
Embora esse padr�o tem sido mais comum na esfera federal, afirma Pereira, tamb�m � poss�vel encontrar PMDBs coadjuvantes em muitos estados da federa��o. “Ou seja, o partido prefere permanecer na ‘zona de conforto’ do legislador mediano apoiando vencedores de matizes ideol�gicas distintas do que arriscar a ofertar candidatos majorit�rios perdedores”. De acordo com ele, contrariamente ao pensamento dominante que v� riscos em ser ref�m de partidos como o PMDB, o levantamento identificou que os custos de governabilidade s�o menores “quando tem na sua coaliz�o partidos grandes, amorfos e coadjuvantes”.
MEM�RIA
Aliado recorrente
At� 1979, o Brasil tinha dois partidos: Arena e MDB. Mas com a institui��o do pluripartidarismo houve uma reorganiza��o das agremia��es, nascendo, ent�o, em 1980, o PMDB, cujo registro oficial foi obtido em 1981. Logo no ano seguinte, a legenda elegeu nove governadores. Em 1985, o partido, via elei��o indireta feita pelo Congresso, elegeu Tancredo Neves presidente e Jos� Sarney vice (foto). Com a morte inesperada de Tancredo, assume Sarney e a legenda se consolida como uma das mais importantes do pa�s. O PMDB elegeu 22 governadores dos 23 cargos em disputa e conquistou quase a metade das cadeiras no Congresso em 1986, passando a liderar, por meio de um dos seus fundadores, o deputado federal Ulysses Guimar�es, o processo de elabora��o da nova Constitui��o. Apesar de toda essa for�a, a legenda nunca teve unidade para lan�ar um candidato forte � Presid�ncia da Rep�blica. Tentou com Ulysses (1989) e Orestes Qu�rcia (1994), mas ambos tiveram baixo desempenho nas urnas. Com a elei��o de Fernando Henrique, em 1994, o partido aderiu ao governo e, desde ent�o, tem sido o balizador das coaliz�es presidenciais e tamb�m de muitas estaduais, independentemente da matriz pol�tica e ideol�gica de quem est� no comando do Executivo. Ano passado, o partido chegou novamente ao poder de forma indireta, com o afastamento de Dilma Rousseff e a posse de seu vice, Michel Temer.