
“Existe uma pol�tica que faliu, a da politicagem. Agora existe uma nova pol�tica. Vou falar uma coisa: � muito mais f�cil voc� dar o cargo e nunca mais ver a cara do vereador, que � o que faziam aqui. Agora, n�o. S�o atendidos, s�o recebidos, trazem as comunidades, as associa��es, o prefeito atende, escuta. Ser republicano � muito trabalhoso”, diz.
Cortejado pelo governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin, e ainda assediado por eleitores para selfies, Alexandre Kalil tem, em seu projeto pol�tico, a ideia de concorrer � reelei��o. Mas ser� um ator a ser considerado na disputa ao governo de Minas e, no segundo maior col�gio eleitoral do pa�s, nas elei��es presidenciais.
De que lado estar� – ele que tem em seu secretariado representantes do PT, do PSDB, PSB e PHS –, Kalil ainda n�o sabe dizer. Mas critica duramente a condu��o da Lava-Jato, que considera seletiva em vazamentos. “Eu acho isso e me dou o direito de achar como brasileiro. Isso pode desvirtuar, atrapalhar o princ�pio da investiga��o”, afirma.
Ap�s completar 100 dias de administra��o, o senhor poderia apontar o principal acerto e o principal erro do seu governo?
A escolha do secretariado foi um grande acerto. Agora, erros s�o tantos que tenho de pensar. Acho que o meu grande erro foi querer as coisas com muita pressa. Isso me desgastou muito. Fiquei muito ansioso. Ah, eu quero projeto, tenho o dinheiro mas n�o consigo fazer a obra, porque tem de fazer licita��o, porque entra na Justi�a, porque o Minist�rio P�blico n�o deixa. O meu grande erro � a minha ansiedade. Mas o pior � que ela n�o pode passar porque, se passar, entro no ritmo da m�quina.
E politicamente qual foi o seu principal erro?
Eu deveria ter chamado no primeiro momento os vereadores para conversar, coisa que s� fiz depois. Isso foi erro. Demorei a chamar. Quando chamei, as coisas se encaixaram.
Na campanha, o senhor disse que a prefeitura seria t�cnica e que a pol�tica ficaria “com quem entende de pol�tica”, desconsiderando o fato de ser esta uma atividade do prefeito. Agora chegou ao ponto de compreender que o cargo de prefeito � pol�tico, que pol�tica � fundamental na gest�o de uma cidade?
Cheguei. Abri a conversa com a C�mara Municipal, estou tendo muito trabalho para atender a todos: um quer asfalto na rua, outro quer rotat�ria. Mas s�o demandas leg�timas. Agora, entrar no jogo do toma l� da c� n�o vou. Cargo n�o tem, n�o vai ter. Vou falar uma coisa: � muito mais f�cil voc� dar o cargo e nunca mais ver a cara do vereador, que � o que faziam aqui. Agora n�o. S�o atendidos, s�o recebidos, trazem as comunidades, as associa��es, o prefeito atende, escuta. Ser republicano � muito trabalhoso.
O senhor � candidato a governador? N�o. Tenho compromisso. Sou homem de compromisso, sempre fui.
Em que campo estar� na disputa ao governo de Minas?
Tive o privil�gio de me eleger sem campo nenhum. E agora n�o me sinto obrigado a me jogar no colo de ningu�m. Eu tenho tempo e ser� o meu tempo para resolver isso, pela independ�ncia que adquiri quando fui eleito prefeito de Belo Horizonte.
Entre os poss�veis candidatos ao governo de Minas, alguns o apoiaram. Por exemplo, Vittorio Medioli e, no segundo turno, com discri��o, o governador Fernando Pimentel.
N�o, o governador n�o me apoiou. Ele apenas apertou o 31 pois se apertasse o 45 o dedo dele cairia. Agora, o Medioli me apoiou, mas acho que ele n�o � candidato porque me disse que n�o seria.
No primeiro escal�o do seu governo h� v�rios partidos representados e muitos integrantes do governo do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB). Como ser� o comportamento da administra��o nas elei��es do ano que vem?
Aqui � zool�gico de todo jeito. Tenho filiado do PT, do PSDB, do PSB, tudo no primeiro escal�o. Eu n�o olhei isso. Por isso a minha escolha foi muito boa, porque foi t�cnica. Agora, secret�rio para apoiar algu�m publicamente vai ter de conversar comigo, por uma quest�o de hierarquia. Al�m disso, o secret�rio � da prefeitura. Isso aqui n�o vai ser usado para campanha. Se quiserem fazer campanha ter�o de deixar o cargo.
Na sexta-feira passada, o senhor iria jantar com o governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Quem desmarcou o compromisso?
Foi anivers�rio do meu filho. Eu adiei o convite.
Logo que ganhou as elei��es, uma das primeiras declara��es pol�ticas que deu, ap�s o duro embate com o PSDB de Minas, foi a de que iria abrir a interlocu��o com um leque de pol�ticos de diferentes partidos. Entre os nomes, citou Geraldo Alckmin e o governador Fernando Pimentel (PT). O que significa essa aproxima��o pol�tica com o tucanato paulista?
Voc�s me viram no dia da elei��o e eu estava magoado. Depois disso j� conversei com o senador A�cio Neves (PSDB) por telefone. Ele me ligou, foi muito gentil comigo, eu com ele. Sou um cara que – pode n�o parecer – mas fui bem educado pela minha m�e. Agora, o Alckmin � uma aproxima��o com o prefeito de Belo Horizonte. Eu sou prefeito, ele � poss�vel candidato � Presid�ncia da Rep�blica. Vejo com naturalidade. Acredito que o Lula vai querer tamb�m. O Ciro Gomes deve querer falar com o prefeito da cidade tamb�m. N�o � comigo. � com o prefeito eleito de BH.
Se os principais candidatos lhe procurarem, quem apoiar�? Digamos que Geraldo Alckmin ou Jo�o D�ria o procurem pelo PSDB e Lula pelo PT. Com quem ficar�?
N�o sei. Tudo ter� o seu tempo. Se eu disser alguma coisa agora ser� leviano. Com essa hist�ria da Lava-Jato, ningu�m sabe o que vir�. Tem muita �gua para correr, diferentemente de outros anos. O Brasil explodiu. Os pol�ticos abrem o jornal tremendo. Eu, n�o, gra�as a Deus. Mas o que vai vir pela Lava-Jato � uma maluquice. Por isso acho que as elei��es est�o longe. Agora, a dela��o ainda n�o chegou, est� meio escondida, s� soltam o que querem. N�o gosto disso, acho muito feio. Se vai soltar a dela��o ou solta de todo mundo ou n�o solta de ningu�m. Por exemplo, com toda a m�goa que tive do A�cio na campanha – que � leg�timo, pois tenho cora��o, sangue na veia e acho at� que xinguei pouco – acho que � uma sacanagem pegar e vazar ali. Para qu�? � mais ou menos assim: ou voc� pisa no canal de esgoto ou voc� pisa no coc� do cachorro. Se est� no canal do esgoto est� todo mundo ali. Mas no coc� s� ele pisou.
A sua cr�tica � ao vazamento seletivo e ao uso pol�tico de uma investiga��o que deveria estar restrita ao �mbito jur�dico?
Sou cidad�o brasileiro e tenho o direito de pensar isso. Eu acho isso e me dou o direito de achar como brasileiro. Isso pode desvirtuar, atrapalhar o princ�pio da investiga��o. Por isso acho que n�o estamos perto da campanha. Estamos muito longe. Pode n�o sobrar pedra sobre pedra.
O senhor se elegeu como outsider da pol�tica e como prefeito percebe que o cargo � pol�tico. � bom para a democracia refor�ar uma narrativa de que para se eleger n�o pode ser pol�tico porque todos os que est�o na pol�tica seriam corruptos?
N�o � bom n�o. Existe uma pol�tica que faliu, a da politicagem. Agora existe uma nova pol�tica, que voc� tem de ser respeitado pelo seu secretariado, que sabe de sua inten��o. Voc� tem de respeitar o seu secretariado porque conhece a inten��o dele. Voc� tem de respeitar os vereadores porque eles t�m compromissos regionais e querem obras em seus redutos eleitorais. Voc� tem de cumprir isso com eles, para ter a maioria. S�o interesses leg�timos, republicanos, que favorecem � popula��o daquelas regi�es. Provavelmente, se tudo correr muito bem, a C�mara ser� reeleita e o prefeito tamb�m, porque teremos feito um bom trabalho. Tive de fazer pol�tica e construir a minha base na C�mara informando que eu n�o iria me desmoralizar negociando cargos, pois havia prometido para a popula��o que n�o iria fazer isso. Ent�o tenho compromisso pol�tico com o povo que me elegeu, o compromisso de enxugar a m�quina e de n�o dar cargo.
Pensa em disputar a reelei��o?
N�o sei, provavelmente sim. Vi que o segundo mandato � muito importante. Acho que voc� tem chance de errar menos.
O senhor foi questionado por ter feito viagem a Bras�lia em avi�o fretado, no qual gastou cerca de R$ 40 mil. Como responde a isso?
A viagem foi feita numa emerg�ncia pois o presidente e os ministros abriram a agenda. Fomos l� e buscamos R$ 3 bilh�es em investimentos. A cr�tica vem do complexo de vira-lata. Conseguimos na viagem reabrir o Hospital do Barreiro, oficializamos a libera��o do Isidora, mantivemos os 10 mil apartamentos do Minha casa, minha vida e pleiteamos um financiamento maior para a Secretaria de Sa�de, al�m da agenda do presidente da Rep�blica. Ent�o, � cr�tica de capiau. Surgiu o neg�cio eu tive de pegar o avi�o e ir. S� que antes n�o se publicava no Di�rio Oficial do Munic�pio (DOM). Complexo de vira-lata foi o que peguei no Atl�tico. Avisei � torcida que �ramos grandes, que t�nhamos de frequentar Bras�lia, n�o de jato. Ali�s, porque sou dos poucos pol�ticos que posso andar em aeroporto. Tem uns que s� podem andar de jato. S� sou parado em aeroporto para tirar retrato. Ent�o eu posso frequentar aeroporto. Foi emerg�ncia. Fui l� buscar bilh�o. Quando necess�rio, podemos fretar avi�o sim. N�o para fazer farra, porque eu n�o fa�o farra. A Coca-Cola aqui eu compro. A prefeitura nunca pagou um almo�o para mim desde que sentei aqui dentro. O meu ado�ante, porque o daqui � muito vagabundo, sou eu quem compro.