
As obras no s�tio de Atibaia (SP), apontado como pe�a fundamental na investiga��o contra o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, foram executadas com notas frias negociadas pelo advogado do petista, Roberto Teixeira, segundo depoimento do ex-diretor de Rela��es Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar, respons�vel pelo acompanhamento do servi�o. A reforma no s�tio foi pedida pela ex-primeira-dama Marisa Let�cia diretamente � Odebrecht, que teria gasto R$ 1 milh�o para um servi�o or�ado em R$ 500 mil. Para evitar suspeita sobre o trabalho feito no local, a empreiteira orientou seus funcion�rios a n�o usarem uniforme e todo o material comprado em lojas da regi�o teria sido pago com dinheiro vivo.
Ap�s explicar os detalhes da opera��o que fizeram a construtora assumir a reforma do s�tio, Alexandrino afirmou que, no fim dos trabalho, foi chamado por Roberto Teixeira para “formalizar” o processo. Conforme o delator, as notas fiscais foram forjadas para “encaixar no perfil” de Fernando Bittar, oficialmente propriet�rio do s�tio. “Tudo foi feito de forma escalonada, para que n�o suspeitasse: como o Fernando (Bittar) pagou essa conta?”, revelou. Com a justificativa de que o envolvimento da empreiteira na reforma causaria “sensibilidade”, porque que se tratava de um s�tio que seria usado por Lula, Alexandrino afirmou que orientou seus funcion�rios.
“Em fun��o da sensibilidade do processo, nenhum dos nossos funcion�rios usou macac�o da Odebrecht, e as contas dos materiais na regi�o foram feitas com dinheiro vivo. Para n�o comprometer, j� que era o presidente Lula, o sistema Odebrecht. Eles (sem explicar quem) acharam por bem, e eu acho que faz sentido tomar essa precau��o”, afirmou o delator.
Em nota, Roberto Teixeira afirmou: “Jamais combinei com Alexandrino Alencar ou com qualquer outra pessoa de 'forjar' notas fiscais”. De acordo com o defensor, a ila��o � "absurda e caluniosa" e n�o tem respaldo na dela��o. "Sou advogado atuante h� 47 anos, j� fui presidente por duas vezes da Subscecional de S�o Bernardo do Campo da OAB e jamais participei de qualquer ato il�cito", diz nota do advogado. "Dela��o n�o � meio de prova e muito menos pode ser utilizada por jornalistas ou ve�culos de imprensa para construir suas pr�prias vers�es", conclui Teixeira.
Caixa 2 para campanhas de Alckmin
O ex-chefe do setor de infraestrutura da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Junior entregou � Opera��o Lava-Jato c�pias dos registros de pagamentos de caixa 2 para o governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), das planilhas do Setor de Opera��es Estruturadas - o chamado "departamento de propinas". S�o as provas de corrobora��o do que disseram tr�s delatores da Odebrecht sobre pagamentos acertados e efetuados para as campanhas de 2010, de R$ 2 milh�es, para o codinome "Bel�m", e de 2014, de R$ 8,3 milh�es, para o codinome "M&M".

Nas planilhas, al�m do codinome M&M h� registro das datas de entrega, as senhas usadas para o recebimento dos valores e refer�ncias �s obras Linhas 6 do Metr� e Emiss�rio Praia Grande relacionados aos pagamentos. "O diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura, respons�vel pela regi�o Sul e o Estado de S�o Paulo, Luiz Antonio Bueno Junior, me relatou que foi procurado por Marcos Monteiro", contou o delator. "Para solicita��o de contribui��o de campanha para o candidato do PSDB ao governo de S�o Paulo, no valor de R$ 10 milh�es."
BJ afirma que o prop�sito da aprova��o da doa��o "era a proemin�ncia de Geraldo Alckmin no cen�rio nacional, a sua lideran�a e de seu partido no Estado de S�o Paulo". "Tamb�m era garantir interlocu��o qualificada na discuss�o dos projetos vislumbrados como participa��o na nova rodada de concess�o rodovi�ria no estado, novas participa��es em projetos com parceria da Sabesp e potenciais novas concess�es de trens regionais."
O delator afirmou que "em todos esses segmentos no ano de 2015" a Odebrecht teve "oportunidade de discutir antecipadamente com o governo estes projetos, modelo de contrata��o, fontes de financiamento etc." "Considerando o perfil progressista de Geraldo Alckmin, candidato ao governo do Estado de S�o Paulo em 2010, incentivador das parcerias p�blico privadas, com objetivo de promover investimentos na �rea de infraestruturas, o que era de interesse da companhia, foi realizada contribui��o para as campanhas por meio de caixa 2, em esp�cie", afirmou BJ em seu anexo sobre o caso. "Nosso objetivo com doa��es ao candidato Geraldo Alckmin era manter a companhia bem posicionada em termos de relacionamento, comparativamente com as duas outras estrelas do PSDB - A�cio Neves e Jos� Serra."
DEFESA
O governador Geraldo Alckmin negou qualquer irregularidade, por meio de nota. "Jamais pedi recursos irregulares em minha vida pol�tica, nem autorizei que o fizessem em meu nome. Jamais recebi um centavo il�cito. Da mesma forma, sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei." O secret�rio de Planejamento do governo de S�o Paulo Marcos Monteiro afirmou que as contas da campanha de 2014 do governador Geraldo Alckmin foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. "A gest�o financeira da campanha de 2014 foi feita dentro da lei e todas as contas foram aprovadas pelo TRE”, completou.
Rio de Janeiro era “Casa de doidos”
Em fun��o da grande quantidade de demandas e pol�ticos a serem atendidos ao mesmo tempo pelo Setor de Opera��es Estruturadas, o famoso "departamento de propinas" da Odebrecht, a construtora deu � conta destinada a "pagamentos extempor�neos" ao estado do Rio a rubrica "Casa de doidos". A revela��o � do executivo da Odebrecht Benedicto da Silva J�nior, em dela��o premiada com a for�a-tarefa da Opera��o Lava-Jato. "Tinha esse nome porque a gente dizia que o Rio de Janeiro era uma Casa de Doidos. Era uma conta que se usava para pagar v�rias coisas ao mesmo tempo", disse. "Era uma rubrica para pagar coisas extempor�neas", explicou Silva J�nior, conhecido como BJ.
Quando falou da "Casa de Doidos", BJ explicava os pagamentos que, segundo ele, foram realizados ao ex-secret�rios de Transportes do Rio J�lio Lopes. Segundo o executivo, Lopes recebeu em 2013 mais de R$ 6,5 milh�es por meio de tr�s codinomes. Foram R$ 1.105.900 na cota "Pav�o", R$ 2.259.000 para "Velho" e outros R$ 3.170.420 na rubrica "Casa de doidos", segundo BJ. Os pagamentos foram feitos naquele ano, segundo o delator, para garantir que J�lio Lopes "n�o criasse problema" nas obras de constru��o da linha 2 do Metr� do estado. "Aqui o que posso assegurar ao sr. � que o que ele acabou fazendo foi n�o gerar nenhum problema a gest�o do dia a dia do Metr� linha 2, que era a coisa mais importante que estava acontecendo no Rio de Janeiro", disse ao procurador da Rep�blica que tomou seu depoimento.
Ele tamb�m relatou pagamentos em 2008 e em 2012 a serem repassados ao PP para que a legenda se mantivesse na base de apoio do PMDB. J�lio Lopes � descrito por Benedicto J�nior como a "extens�o dos bra�os" do hoje vice-governador do Rio, Francisco Dornelles. Na planilha que apresentou como "prova de corrobora��o" de sua dela��o, BJ relata o pagamento de R$ 246,6 milh�es, via caixa 2, a pol�ticos de diversos partidos e estados entre 2008 e 2014. Entre eles est�o quatro ex-governadores do Rio e o atual mandat�rio do Executivo fluminense, Luiz Fernando Pez�o, e dois ex-prefeitos da capital, C�sar Maia e Eduardo Paes, al�m do presidente da Assembleia Legislativa do estado Jorge Picciani. Todos os citados por Benedicto negam irregularidades. A reportagem procurou o deputado J�lio Lopes, mas n�o obteve resposta. O espa�o est� aberto para sua manifesta��o.