
No momento em que come�am a surgir os primeiros indicadores consistentes de perspectiva de fim da recess�o econ�mica, o pa�s volta a atravessar uma grave crise pol�tica. Em primeiro lugar, vale destacar que, independentemente do desfecho do processo de instabilidade, � preciso serenidade e equil�brio neste momento delicado para n�o se perderem as conquistas concretizadas nos �ltimos meses – neste sentido, as a��es de controle de danos, tomadas pelo Minist�rio da Fazenda e outros agentes p�blicos, merecem o devido destaque. Mas o que � preciso tamb�m ressaltar n�o apenas por chamar a aten��o, mas causar revolta, � a postura de aquiesc�ncia do Minist�rio P�blico diante das benesses concedidas ao empres�rio Joesley Batista no seu caso particular da dela��o que chocou o Brasil. Como foi poss�vel acertar um acordo no qual o delator, que confessa crimes e mais crimes, sai praticamente impune e ainda lucra com o epis�dio? Inaceit�vel.
Quando a dela��o veio � tona, o sr. Joesley divulgou carta contendo termos como “erramos” e “pedimos desculpas” pelos crimes cometidos. E ainda se permitiu elogiar outras na��es, nas quais “fomos capazes de expandir nossos neg�cios sem transgredir valores �ticos”, indiretamente atribuindo ao Brasil os seus conluios nada �ticos. A culpa, ent�o, tamb�m pode ser debitada ao pa�s? A carta p�blica do sr. Joesley chega a ser um esc�rnio � sociedade brasileira.
Vale lembrar que a dela��o vem � tona no exato momento em que o frigor�fico JBS, j� consolidado como uma das maiores empresas aliment�cias mundiais, est� muito pr�ximo de se estabelecer definitivamente fora do pa�s. Com o processo na reta final, o empres�rio acelerou a sua confiss�o e sua empresa ainda fez movimenta��es cambiais para lucrar com o impacto previs�vel da dela��o. A a��o, por si s� indecorosa, foi admitida pela empresa e classificada sob o eufemismo de “pol�tica de gest�o de riscos”.
O resultado � o que estamos vendo, lendo e escutando nos �ltimos dias: uma bomba de consequ�ncias imprevis�veis e que mergulha o pa�s, novamente, em um cen�rio de incerteza. Uma bomba detonada por algu�m que vai viver no exterior, com a fam�lia, sem amargar um dia na pris�o, nem sequer usar tornozeleira. Como resumiu a revista piau�, foi um aut�ntico “golpe de mestre”: “Os donos da JBS prepararam uma dela��o que os deixou de m�os livres e bolsos cheios”.
O que causa espanto � o Minist�rio P�blico aceitar um acordo extremamente vantajoso para uma das partes. Isso � fazer justi�a? Que justi�a � essa que permite a liberdade de um cidad�o que faz o Brasil explodir, vai embora para se estabelecer em territ�rio norte-americano e ainda lucra com isso? O mesmo clamor popular, que apropriadamente reage com indigna��o �s grava��es que escancaram a podrid�o pol�tica nacional, deveria se voltar para o questionamento deste tipo de a��o. Os fins n�o justificam os meios. Da forma como o processo foi conduzido, fica uma certeza. Houve um grande premiado: o delator.