S�o Paulo, 15 - Executivos da Odebrecht Ambiental confessaram ter pago R$ 300 mil de caixa dois ao ex-prefeito de Mairinque Binho Merguizo (PMDB-SP), nas elei��es municipais de 2012. O nome dele, com o apelido Figura consta em planilha entregue pelo ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, em seu acordo de dela��o premiada com o Minist�rio P�blico Federal de S�o Paulo.
O executivo estimou que pelo menos R$ 20 milh�es tenham sido doados pela Odebrecht Ambiental a candidatos, com o objetivo de manter ou obter contratos na �rea de saneamento. O valor mistura caixa dois e doa��es oficiais, muitas intermediadas entre o pr�prio pol�tico e a empreiteira. Na planilha, s�o identificados 80 nomes de pol�ticos - 10 repasses constam com nomes gen�ricos, como vereadores, v�rios e deputado. Somente em S�o Paulo, executivos da companhia de saneamento e tratamento de �gua do grupo dizem ter pago R$ 9,1 milh�es em caixa dois, para financiar elei��es municipais com caixa dois. Eles identificaram 23 candidatos cujas campanhas foram contaminadas.
Por decis�o do ministro relator da Opera��o Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o destino das 13 peti��es da Procuradoria Geral da Rep�blica para investigar supostas propinas envolvendo a Odebrecht Ambiental nos munic�pios paulistas � o Tribunal Regional Federal da 3� Regi�o.
"Eu era totalmente inexperiente", recordou Guilherme Paschoal, diretor regional de S�o Paulo da Odebrecht Ambiental, sobre o ano de 2012, quando foi designado pelo ent�o presidente da empresa, Fernando Cunha Reis, para pin�ar candidatos que n�o criassem nenhum �bice ou dificuldade contratual em munic�pios aonde a construtora j� tinha concess�es ou que tivessem o interesse de privatizar os servi�os de saneamento em suas cidades. No Estado, Paschoal foi o respons�vel por identificar pol�ticos que se enquadrassem nesses perfis e indic�-los ao executivo, que bateria o martelo sobre quanto seria doado aos candidatos.
� �poca, a prefer�ncia da Odebrecht Ambiental era pelo caixa dois. Um dos motivos seria o impedimento que a lei eleitoral imp�e �s concession�rias e permission�rias de servi�os p�blicos de doarem a campanhas eleitorais.
O presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis repassava aos diretores regionais a tarefa de mapear munic�pios que tivessem �ndices baixos de tratamento de esgoto e fornecimento insuficiente de �gua pelas autarquias locais respons�veis. Ao prometer financiamento de campanhas a candidatos nessas regi�es, os diretores da empresa eram orientados a mostrar planos da construtora para as cidades e que deixassem claro que as doa��es - quase sempre, via caixa dois - tinham como objetivo abrir caminho para privatizar aqueles servi�os.
Mairinque.
Na cidade de Mairinque, interior de S�o Paulo, a Odebrecht Ambiental operou desde 2010, por meio do controle da Saneaqua. Em 25 de abril deste ano, com a compra da empresa do grupo pela Brookfield, a BRK Ambiental passou a ser acionista, ao lado da Sabesp, da concess�o. Em 2012, quando chegou � diretoria regional da Odebrecht em S�o Paulo, Guilherme Paschoal foi escalado para indicar caixa dois em nome da regularidade contratual da Odebrecht na regi�o.
"S� tinha um candidato � elei��o. Os outros n�o tinham chance qualquer. Nesse munic�pio, foi o Binho Merguizo Rubens Merguizo Filho, do PMDB. Fernando Reis aprovou o nome dele e definiu o valor de R$ 300 mil para a contribui��o de campanha. Ele pediu para que eu procurasse o candidato para identificar que contribuir�amos e a raz�o da contribui��o � nossa inten��o de manter boa rela��o, canal aberto, de forma que consegu�ssemos implementar os investimentos e operar o contrato dentro da normalidade", relatou.
Em uma primeira reuni�o, no escrit�rio da Odebrecht, o delator diz ter recebido Binho Merguizo, acompanhado de um senhor engenheiro de sobrenome Zaparolli. No encontro, o diretor da empreiteira diz ter apresentado os investimentos da companhia no setor de saneamento desde o in�cio da concess�o, e o cronograma para novos valores. "Ele ficou muito satisfeito, entendia a import�ncia do projeto para o munic�pio. Inclusive, na reuni�o, apresentou alguns questionamentos em rela��o � prioriza��o dos investimentos que o contrato determinava, mas disse que entendia a import�ncia do contrato".
"Informei que ir�amos contribuir de fato com a campanha. N�o informei o valor a ele. N�o tinha ainda � �poca. Disse que ir�amos contribuir e que a contribui��o iria via caixa dois", lembrou.
Definido pelo ent�o presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, o caixa dois a Merguizo foi de R$ 300 mil. Ele aparece com o codinome "Figura", no sistema Drousys do departamento de propinas da Odebrecht, onde constam repasses da empreiteira a pol�ticos. Na planilha da empresa, o pagamento aparece dividido em duas parcelas de R$ 150 mil.
Como de praxe, o diretor da Odebrecht Ambiental, Eduardo Barbosa, recebia os valores dos repasses de Fernando Reis e marcava hor�rios, datas e senhas para que o dinheiro, em esp�cie fosse retirado pelo candidato. Ficou a cargo de Guilherme Paschoal informar Merguizo sobre como proceder para receber o caixa dois.
"Entrei em contato com o Zaparolli, pedi que ele passasse na sede da Odebrecht ambiental em Mairinque para receber informa��es de endere�o, senha, data e hora para a retirada do valor. Telefone, liguei para o celular dele do meu escrit�rio. E as informa��es foram entregues por algu�m que n�o me recordo quem. Eu enviei um envelope lacrado l� entregue ao Zaparolli", relatou.
Durante o mandato de Binho Merguizo (PMDB-SP), que foi eleito em 2012, o delator diz ter conversado da com o peemedebista abertamente sobre a concess�o. "Havia uma revis�o de tarifa, que ele queria entender por que. Ele questionou muito. At� que � bem capacitado. Tinha um equipe que gostava de interagir, e acompanhava de perto a concess�o", disse.
COM A PALAVRA, BINHO MERGUIZO
A reportagem entrou em contato com o diret�rio do PMDB em Mairinque, mas n�o obteve resposta. O espa�o est� aberto para manifesta��o.
(Luiz Vassallo)