
Bras�lia - Delatores da Odebrecht relataram � Procuradoria-Geral da Rep�blica que a contrata��o e os pagamentos feitos em Angola ao empres�rio Taiguara Rodrigues, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, foram para "agradar" ao petista.
O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso aos depoimentos e aos anexos de tr�s executivos, ainda mantidos em sigilo, que citam a participa��o do ex-presidente no caso investigado na Opera��o Janus.
Lula e Taiguara s�o r�us por lavagem de dinheiro e tr�fico de influ�ncia em processo originado na investiga��o da Janus.
A filial da Odebrecht em Angola contratou a Exergia, da qual o empres�rio se tornou s�cio. O ex-diretor de Rela��es Institucionais da empreiteira Alexandrino Alencar afirmou que o ex-presidente pediu a contrata��o da empresa.
Ernesto S� Baiardi, ex-diretor da construtora em Angola, relatou solicita��o do petista para que a construtora ajudasse o empres�rio. Antonio Carlos Daiha Blando, sucessor de Baiardi, disse ter adiantado pagamentos � Exergia para "agradar" a Lula.
Baiardi foi o diretor da Odebrecht respons�vel pelo mercado de Angola at� 2013. Ele afirmou que foi procurado pela primeira vez por Taiguara em 2011. O primeiro contato n�o foi respondido e, por causa disso, Alexandrino teria ligado para pedir que o empres�rio fosse recebido.
"Entendi que essa solicita��o era de interesse da companhia para atender a pedido de Lula e, imediatamente, chamei Taiguara para uma reuni�o", relatou o executivo no anexo.
A interven��o direta de Lula teria ocorrido no mesmo ano, quando o ex-presidente visitou Angola e participou de um caf� da manh� com Em�lio Odebrecht, no qual estava presente Taiguara.
Baiardi disse em depoimento que, ap�s o caf�, o petista o chamou de lado e falou que Taiguara era honesto, trabalhador, que estava iniciando carreira empresarial e que, se poss�vel, era para ajud�-lo.
Blando disse que, ap�s assumir a diretoria em Angola, Baiardi lhe pediu que recebesse Taiguara. O delator relatou que recebeu o empres�rio quando chegou ao pa�s africano e que a "aten��o diferenciada" com que tratou "os assuntos da Exergia tinha por finalidade agradar ao ex-presidente Lula".
'Adiantamento'
Ainda segundo Blando, em 2014, Taiguara pediu "adiantamento contratual" a que sua empresa "n�o tinha direito", mas, mesmo assim, os repasses foram realizados em duas parcelas. Uma de US$ 500 mil e outra de US$ 200 mil. O delator declarou que a "necessidade" de "agradar a Lula" resultou em ordem aos diretores da filial angolana para adiantar o pagamento.
Segundo Alexandrino, apontado como um dos executivos mais pr�ximos ao ex-presidente, Lula apresentou seu sobrinho em um caf� da manh� no hotel HCTA, em Luanda, capital de Angola. O ex-executivo disse ainda que o petista teria pedido que a Odebrecht avaliasse a possibilidade de contratar as empresas de Taiguara. A solicita��o teria sido levada ao patriarca do grupo, Em�lio Odebrecht, que, segundo ele, "concordou prontamente".
Janus
O juiz Vallisney de Souza Oliveira aceitou em outubro de 2016 a den�ncia criminal do Minist�rio P�blico Federal em Bras�lia contra o ex-presidente e Taiguara no caso. A acusa��o tem origem na Opera��o Janus, que chegou a levar Taiguara coercitivamente para depor.
A acusa��o afirma que a Exergia n�o prestou os servi�os para os quais foi contratada. O trabalho teria sido executado pela pr�pria Odebrecht em retribui��o ao fato de ter sido contratada pelo governo angolano com base em financiamento para exporta��o de servi�os, concedido pelo BNDES. A acusa��o feita pelo MPF � de que Lula recebeu propina nesse caso por meio de terceiros.
Defesas
Procurada desde a quarta-feira, 26, a defesa de Lula n�o respondeu � reportagem. � �poca da Opera��o Janus, o petista afirmou que j� esclareceu os fatos sobre Taiguara. Ainda conforme a defesa, Lula "nunca fez lobby", "nunca apresentou Taiguara a nenhum dono de empresa" e, quando Lula foi fazer palestra em Angola, "Taiguara j� estava naquele pa�s trabalhando com empresa portuguesa".
A reportagem n�o conseguiu contato com o advogado Fabio Souza, que representa as empresas de Taiguara. Ap�s a Janus, o advogado negou que a Exergia tenha sido usada para lavar dinheiro. Em depoimento � CPI do BNDES, o pr�prio Taiguara confirmou a contrata��o pela empreiteira e disse que os valores recebidos s�o referentes a servi�os de sondagem, avalia��o da topografia e gerenciamento de obras prestadas pela empresa. Segundo ele, todos os contratos foram obtidos por meio de licita��es.