S�o Paulo, 29 - A herdeira do apartamento 121 do Edif�cio Hill House - que a for�a-tarefa da Lava Jato acusa ser um presente dado a Lula, registrado em nome de um "laranja" -, Tatiana de Almeida Campos, informou � Receita Federal que em 2010, quando foi feita a escritura de cess�o de direitos do im�vel, foi informada por sua advogada que o bem estava sendo alienado para o ex-presidente.
O apartamento � o vizinho ao que Lula mora, na cobertura do Hill House, em S�o Bernardo do Campo, e � usado pelo petista desde 2003, pelo menos. At� 2007 era alugado pelo PT do falecido pai de Tatiana, Augusto Moreira Campos. De 2007 a 2011 foi a Presid�ncia da Rep�blica que locou o im�vel, que era usado durante os dois mandatos do petista para abrigar as equipes de seguran�a.
Filha bastarda do antigo dono do apartamento 121, Tatiana informou � Receita, em 2016, em documento anexado ao processo, que em 20 de setembro de 2010 sua advogada Lacier Pereira de Almeida Souza, que � sua prima, a buscou para "assinar a venda da cobertura, apto 121, para o Lula". "Foi isso que ela me falou no t�xi, na ida ao cart�rio."
"Como eu confiava muito nela, somente perguntei se estava tudo correto, ela fez um sinal positivo e me disse onde assinar. Eu n�o li nada, simplesmente assinei acreditando estar vendendo a cobertura para o Lula. O valor era R$ 504 mil (hoje desconfio ter sido muito mais, mas n�o posso dizer com certeza)", escreveu Tatiana.
Tatiana afirma que s� em 2016 tomou conhecimento que o verdadeiro comprador era Glaucos Costamarques, ap�s ter sido revelado pela Lava Jato. "Pra mim ele (Lula) era o dono, de modo que se perguntarem � minha fam�lia, todos v�o dizer que eu 'vendi' a cobertura do meu pai para o Lula."
No documento de 12 maio de 2016 enviado para a Receita, a herdeira diz que s� em 2016 buscou o cart�rio e descobriu que n�o se tratava de uma venda e sim de uma cess�o de direito heredit�rio e que o bem ainda estava em nome do falecido pai, n�o tendo sido oficialmente transmitido a Costamarques.
Na acusa��o contra Lula, o Minist�rio P�blico Federal destaca que depois de efetivada a aquisi��o do apartamento, Roberto Teixeira peticionou como representante de Costamarques a a��o de invent�rio da fam�lia do antigo dono, que correu na 2ª Vara da Fam�lia e Sucess�es da Comarca de S�o Bernardo do Campo, "apenas em 17 de mar�o de 2011". "Naquela peti��o, nada constou sobre a transa��o que j� havia sido realizada" em agosto de 2010.
Um m�s antes, em 1º de fevereiro de 2011, Costamarques assinou um contrato feito por Teixeira de loca��o do apartamento em nome da ex-primeira-dama Marisa Let�cia (que morreu em fevereiro), na condi��o de cession�rio, tendo como cedentes a vi�va Elenice Silva Campos e a filha bastarda Tatiana.
Na a��o de invent�rio do im�vel, Teixeira, como representante de Costamarques, noticiou a cess�o de direitos heredit�rios e de mea��o assinada em setembro de 2010 e requereu a adjudica��o do apartamento 121 em favor do primo de Bumlai em 1º de julho de 2016 - quase seis anos depois, quando Lula j� era alvo dos processos da Lava Jato.
A herdeira relata no documento que, antes da venda do apartamento 121 para Costamarques, houve um tentativa de a exclu�rem da propriedade, em 2009, em uma partilha amig�vel que ela diz nunca ter assinado. "Em 2013 comecei a estudar Direito, para poder entender melhor tudo que estava acontecendo, e tamb�m porque sempre que eu falava isso tudo para um advogado ele dizia: 'deixa isso, voc� vai mexer com a m�fia do PT? Pode correr risco de morte'."
Inquilino
Lula afirma que � inquilino do im�vel, que foi alugado em 2011 por dona Marisa para receber os filhos e ser usado para reuni�es pol�ticos. Na semana passada, o defensor do ex-presidente Cristiano Zanin Martins, que � genro e s�cio de Teixeira, apresentou 26 recibos, que v�o de 2011 a 2015, para comprovar que os alugu�is eram pagos normalmente.
S� a partir de novembro de 2015, quando Glaucos afirmou ter sido informado por Teixeira que passaria a receber aluguel, � que a Lava Jato identificou nos extratos banc�rios do laranja "dep�sitos em dinheiro em seu favor em valores compat�veis com o suposto aluguel".
Ap�s a entrega dos recibos pela defesa de Lula, Glaucos disse por meio de seus advogados que os documentos foram assinados por ele no mesmo dia, em novembro de 2015, quando Teixeira o teria informado que passaria a pagar os alugu�is.
A acusa��o do MPF nesse processo diz que Lula, dona Marisa (que deixou de figurar no processo ap�s a morte), Costamarques e Teixeira agiram "em conluio" e "dissimularam a origem, disposi��o, movimenta��o e propriedade de R$ 504 mil, provenientes, direta e indiretamente, dos crimes de organiza��o criminosa, cartel, fraude � licita��o e corrup��o praticados pelos executivos do Grupo Odebrecht", na Petrobras.
(Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo e Luiz Vassallo)