
O racioc�nio do baiano surpreendeu muitas das mais de 250 pessoas que lotaram o local no in�cio da noite, muitas delas antigos militantes ou jovens simpatizantes de partidos e novas organiza��es de esquerda.
"Uma sociedade precisa persistir e para persistir ela tem que ter um aspecto conservador de si mesma. Isso n�o se manifesta necessariamente em atos reacion�rios. N�o necessariamente todo conservadorismo � reacion�rio. De todo modo, algum conservadorismo � necess�rio. Pode n�o ser desej�vel mas � necess�rio", provocou o cantor.
Caetano comentava o surgimento de novos grupos assumidamente de direita como o Movimento Brasil Livre (MBL, que n�o foi citado nominalmente pelo artista) ao lado do veterano ativista Cl�udio Prado, um dos ide�logos da M�dia Ninja. O cantor, que foi perseguido pela ditadura e precisou viver exilado em Londres no final dos anos 1960 e come�o dos anos 1970, disse ver alguma semelhan�a entre grupos da nova direita e os movimentos ruidosos que representavam minorias no passado.
"Esse barulho feito pelos conservadores pode significar que eles est�o se sentindo como os n�o conservadores se sentiam, ou seja, de alguma forma minorit�rias. Eles n�o representam a parte silenciosa do conservadorismo natural das sociedades", afirmou.
Caetano identificou na estrid�ncia desses grupos um aspecto que, do ponto de vista da esquerda, pode representar uma vantagem. "Isso, embora assuste, pode denotar alguma fragilidade", disse ele.
De acordo com o compositor baiano, o protagonismo alcan�ado pela nova direita nos �ltimos anos � um avan�o, pois deixam claras as posi��es ideol�gicas colocadas hoje na sociedade brasileira ao contr�rio de algum tempo atr�s, quando uma "maioria silenciosa" dava sustenta��o velada ao sistema vigente.
"Estamos vivendo um per�odo no mundo e no Brasil em que for�as neoconservadoras est�o explicitadas e se apresentando como grupos de atividade clara e definida. Isso n�o � ruim. Antigamente a direita americana usava a express�o maioria silenciosa que era aquela gente que n�o faz barulho, mas segura o aspecto conservador da sociedade. Hoje essas tend�ncias conservadoras n�o est�o silenciosas e � bom porque ficam claras as vis�es de mundo que est�o espalhadas no seio das sociedades", afirmou.
O tema do debate foi o livro Verdade Tropical, relan�ado 20 anos depois da edi��o original em vers�o revista e ampliada. Depois do evento Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, comandou uma reuni�o do grupo "342 Arte" que contou com a presen�a de artistas radicados em S�o Paulo al�m do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e do l�der do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. O evento faz parte do calend�rio da Casa do Baixo Augusta, sede do bloco carnavalesco Acad�micos do Baixo Augusta, o maior de S�o Paulo, inaugurada duas semanas atr�s com o objetivo de ser um espa�o para reflex�o, difus�o de conhecimento e debate para al�m das fronteiras do Carnaval.
Caetano tamb�m comentou os ataques feitos pelos grupos neoconservadores a exposi��es e outras atividades art�sticas. Segundo ele, estas manifesta��es s�o uma "cortina de fuma�a" usada para enganar uma parcela "inocente" da popula��o e, de alguma forma, desmoralizar a classe art�stica.
"Tem gente que se utiliza disso (acusa��es de pedofilia) de uma maneira c�nica porque sabem perfeitamente que n�o se trata disso e dizem que sim para assustar os inocentes. Ent�o um n�mero grande de pessoas inocentes possivelmente pode estar desconfiada dos artistas, o que � uma coisa j� velha nas sociedades atrasadas. Uma cantora popular, uma atriz, quando eu era crian�a essas pessoas eram olhadas como merecendo pouco confian�a moral", disse ele.
Pouco antes, respondendo a uma coloca��o de Cl�udio Prado, que sacou o celular do bolso e comparou o aparelho a um coquetel Molotov, Caetano fez uma revela��o surpreendente para a plateia jovem e conectada que lotou a Casa do Baixo Augusta: "Eu nunca tive um telefone celular".
(Ricardo Galhardo)