Pr�-candidato ao governo de Minas Gerais, o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) tenta se tornar mais conhecido fora da capital para a disputa ao Pal�cio da Liberdade em 2018. Nos �ltimos meses, Lacerda visitou 110 cidades pelo interior mineiro.
“N�o quero ser uma terceira via, quero ser a principal op��o”, afirma o ex-prefeito. Em entrevista ao Estado de Minas, Lacerda criticou a gest�o do governador Fernando Pimentel (PT) e lamentou que o estado se compare com o Rio de Janeiro: “O governo atual se consola por estar um pouco melhor do que o Rio. Isso � muito grave”.
Depois de receber muitos ataques de Alexandre Kalil (PHS) durante a campanha de 2016, Lacerda ressalta que a atual gest�o da PBH tem dado continuidade aos seus projetos e encontrou a “casa arrumada”. “Ele fez uma auditoria detalhad�ssima e n�o achou nada errado em nossa gest�o. Est� trabalhando para concluir nossos projetos”, diz o ex-prefeito.
O sr. tem feito muitas viagens pelo interior para se tornar mais conhecido fora da capital. Como est� sendo o contato com o eleitor fora de BH?
Pesquisa feita por n�s mostra que sou conhecido por apenas 22% da popula��o do estado. E esse conhecimento est� concentrado aqui na regi�o metropolitana. Entre os que me conhecem tenho uma alta inten��o de voto. Ent�o, o desafio, em primeiro lugar, � me tornar mais conhecido. Com o objetivo fundamental de fazer uma peregrina��o de aprendizagem. Minas Gerais � muito grande e as realidades variam muito de regi�o para regi�o. Variam na geografia, na hist�ria, na economia, na pol�tica, na cultura. Cada regi�o, sub-regi�o e cidade tem peculiaridades em rela��o ao momento atual e � crise. Nesse giro, percebi que existe uma certa identidade de problemas que t�m a ver com a situa��o nacional e com a situa��o dif�cil do estado. O objetivo � chegar no final do primeiro trimestre do pr�ximo ano com um plano de governan�a para Minas Gerais. Acho que nesse momento, em que o povo est� cansado de falsas promessas e milagres, o povo recebe bem quando falamos o que realmente podemos fazer. Por isso � preciso ter uma proposta franca e transparente, mostrando caminhos, solu��es e alternativas. Ganhar elei��o por ganhar, sem ter viabilidade, n�o vale a pena. Tamb�m n�o vale a pena fazer promessas que sabemos que n�o v�o ser cumpridas.
Em 2008 e 2012, o sr. se apresentou como gestor, um outsider da pol�tica. Ap�s ser prefeito por dois mandatos e presidente do seu partido, o sr. pretende se apresentar como um gestor?
As pesquisas mostram que mais de 60% dos entrevistados querem votar em um bom gestor, seja pol�tico de carreira ou n�o. Mas com experi�ncia comprovada e ficha limpa. Vejo muita incompreens�o quando as pessoas falam sobre o que � ser pol�tico e o que n�o � ser pol�tico. A maioria das pessoas, ou quase todas, faz pol�tica o tempo todo. Pol�tica � discutir a situa��o do ambiente em que voc� vive, � fazer escolhas no ambiente coletivo. Seja no curto, m�dio ou longo prazo. A maioria das pessoas acha que pol�tica s�o elei��es e partidos. Mas na realidade isso � o que a Constitui��o definiu para organizar a rotatividade no poder. Temos pol�ticos de carreira, que se ligam aos partidos durante a vida inteira, e pessoas que se filiam aos partidos para disputar elei��es. Desde que fui para o Minist�rio da Integra��o Nacional, como secret�rio-executivo, em 2003, passei a ser um agente pol�tico, no sentido de prestar servi�o p�blico. Mas vim me filiar ao PSB em 2007, tendo quatro anos de experi�ncia no governo federal. Portanto, nesTe momento eu estou pol�tico, filiado ao partido para concorrer ao cargo. Mas no final a pol�tica � discutir as demandas e car�ncias para resolver problemas atrav�s de di�logo.
Como avalia a administra��o do governador Fernando Pimentel (PT)?
A gest�o atual assumiu em momento que ficava claro que est�vamos mergulhados em uma recess�o. O governo assumiu falando que era uma situa��o dif�cil, mas se comportou, inexplicavelmente, como se a situa��o n�o estivesse dif�cil. Ampliou as estruturas, deu aumentos de sal�rios, ou seja, n�o fez ajustes. Na Prefeitura de BH, em 2014 e 2015, fizemos um ajuste forte e entregamos a gest�o com uma folha de pagamento com 39% sobre a receita corrente l�quida. A segunda capital com o menor peso da folha na receita. A m�dia brasileira foi de 49%. Hoje, parece que a folha de pagamento do estado est� consumindo 70% da receita. O governo atual n�o fez qualquer ajuste. O estado n�o tem um plano, n�o tem vis�o de futuro, aparelhou politicamente a m�quina e n�o tem unidade de a��o. A impress�o que d� � de um governo que est� organizado para disputar as pr�ximas elei��es. A maioria dos cargos pol�ticos est�o vinculados a essa a��o de curto prazo. Minas Gerais mereceria um secretariado de muito alto n�vel, de dimens�o internacional. Vemos um estado que tem dificuldades nas finan�as, que se compara com o Rio de Janeiro, um desastre total na gest�o. O governo se consola por estar um pouco melhor do que o Rio. Isso � muito grave. O recurso que j� � limitado n�o est� sendo bem usado. A sa�de vive uma situa��o grave, o estado deve bilh�es �s prefeituras e hospitais, e vemos claramente que esse recurso n�o � distribu�do com crit�rios t�cnicos, mas com crit�rios pol�ticos. Os aliados que t�m compromisso com a reelei��o (do governador Pimentel) s�o melhor tratados que os demais. Isso n�o � justo com a popula��o. Al�m disso, Minas Gerais n�o � um ambiente favor�vel para neg�cios. O governo aumentou absurdamente impostos, n�o temos isonomia competitiva com estados vizinhos, uma burocracia muito pesada no licenciamento das atividades. T�nhamos participa��o no PIB de quase 13%, hoje temos menos de 9%. Estamos em decad�ncia.
O sr. acha que a situa��o econ�mica do estado continuar� ruim a partir de 2019 ou o cen�rio pode melhorar?
Este ano a economia n�o cresce. Parou de cair, mas vai crescer menos de 1%. Este trimestre n�o foi bom o desempenho. A agricultura teve queda. As proje��es feitas pelo governo federal apontam crescimento de 3% no pr�ximo ano, se crescer 2,5% j� ajudar�. Mas precisar�amos de um crescimento constante e sustent�vel pelos pr�ximos 5 a 8 anos para que o pa�s alcance uma rela��o d�vida/PIB administr�vel. Hoje, n�o conseguimos pagar as d�vidas e elas aumentam a cada ano. Minas Gerais hoje n�o pode tomar novos empr�stimos e isso � muito ruim. Existe uma legisla��o federal que permite ao estado se ajustar nessa situa��o, suspender o pagamento de d�vidas e tomar novos empr�stimos, mas precisaria cumprir obriga��es, vender patrim�nio e segurar o crescimento de despesas, mas o governo do estado vinha se recusando a fazer isso. O Rio j� assinou esse acordo. Agora, o governo j� fala em vender 49% da Codemig, o que pode ajudar um pouco nas contas. Acho que privatiza��o de estatais, de acordo com a Constitui��o mineira, � um tema que exige um plebiscito. Ent�o, era o caso de discutir com a popula��o. N�o sei se � a melhor situa��o. O governo fala em Lei Kandir, mas isso � uma miragem neste momento. O fundamental � que n�s n�o temos plano. O estado n�o tem projeto, nem de curto, m�dio ou longo prazo.
Em 2008, Pimentel e A�cio se uniram para apoi�-lo � Prefeitura de BH. Ano que vem eles podem ser seus advers�rios pelo governo de Minas. Como v� a disputa com antigos aliados?
Em 2008, realmente, foi uma uni�o e converg�ncia hist�rica e in�dita. Orgulho-me muito de ter sido algu�m capaz de propiciar essa uni�o. E governar com essa uni�o. No primeiro mandato a participa��o dos dois partidos no governo (PT e PSDB) funcionou bem. Isso n�o continuou porque eles se separaram, n�o porque eu me separei deles. Acho que tenho condi��es de di�logo com muitas tend�ncias pol�ticas e ideol�gicas. Esses di�logos est�o acontecendo no sentido de discutir o momento atual e buscar alian�as para o pr�ximo ano. Est� muito cedo ainda. Acho que sobre a candidatura do governador ele n�o tem alternativa, digamos assim, � o �nico caminho, tentar a reelei��o. Com rela��o ao senador A�cio, n�o sei. � mais prov�vel que ele se candidate ao Senado.
Outros nomes tamb�m j� se colocaram na disputa, como o ex-presidente da Assembleia Dinis Pinheiro, o empres�rio Romeu Zema e o deputado Rodrigo Pacheco.
Todos s�o pessoas com uma boa hist�ria. Alguns eu conhe�o mais, como o Dinis Pinheiro, tenho uma boa rela��o com ele. Rodrigo Pacheco � um deputado novo, n�o conhe�o a hist�ria dele e a experi�ncia dele para fazer uma avalia��o. Mas � uma experi�ncia mais como parlamentar e advogado. Romeu Zema � um empres�rio herdeiro de uma grande cadeia de lojas e postos de gasolina. � um bom empres�rio, mas sem nenhuma experi�ncia de gest�o p�blica. O desenvolvimento das ideias e debates sobre os planos de governo v�o demonstrar quem tem mais viabilidade e as pesquisas ir�o tamb�m mostrar isso.
Um dirigente do PSB afirmou que o sr. n�o � unanimidade dentro do pr�prio partido. Como est� a rela��o dentro do partido?
Ele deveria ter dito que n�o tenho apoio de toda a executiva estadual, mas ela � uma comiss�o provis�ria, pode ser mudada a qualquer momento pela dire��o nacional. Mas mesmo na atual executiva estadual tenho certeza de que teria maioria nela pela minha candidatura a governador.
As disputas pol�ticas est�o agressivas nos �ltimos anos e durante a audi�ncia que o sr. participou na C�mara Municipal sobre a CPI da PBH Ativos houve muita confus�o. Esse clima polarizado e radicalizado deve se repetir nas elei��es?
Houve ali uma iniciativa do PT e do PCdoB, apoiados por vereadores novos e que tinham pouca informa��o sobre nossa gest�o, baseados em uma den�ncia feita por uma economista aposentada ao Minist�rio P�blico. Eu disse desde o in�cio e compareci ao gabinete de v�rios vereadores: voc�s n�o v�o achar nada de errado e v�o me dar um atestado de honestidade. E foi feita uma devassa, com dezenas e dezenas de oitivas. Consultaram o Tribunal de Contas da Uni�o, do Estado, o Minist�rio P�blico, a Comiss�o de Valores Imobili�rios, v�rios �rg�os oficiais, e no final houve uma chicana para n�o ter um relat�rio votado. A den�ncia da economista foi apurada em detalhe pelo MP e estamos esperando que o �rg�o oficialize seu relat�rio, que ser� absolutamente a meu favor, eu espero. Agora estou processando essa economista, porque ela foi em uma r�dio e fez acusa��es graves. Entrei com processo por cal�nia e difama��o. Ent�o, esse clima polarizado pode se repetir, a internet sabemos como � usada. Mas espero que a campanha seja limpa. A popula��o n�o quer essa briga toda.
Em 2016, o prefeito Alexandre Kalil, ent�o candidato, fez muitas cr�ticas ao sr. e � sua administra��o. Esses ataques podem atrapalhar sua campanha no ano que vem?
Pelo que eu sei, ele fez uma devassa em minha administra��o, fez uma auditoria detalhad�ssima. At� onde sei ele n�o achou nada de errado em nossa gest�o e est� trabalhando para concluir nossos projetos. Obras que deixamos em andamento, financiamentos que deixamos bem encaminhados para garantir mais recursos para investimentos. Entregamos a prefeitura em situa��o financeira invej�vel em rela��o a outras capitais. Tanto que est� podendo tomar dinheiro emprestado. No ano passado, a Controladoria-Geral da Uni�o (CGU) nos deu nota m�xima em transpar�ncia. Rankings mostram que na �rea de sa�de BH foi a segunda melhor cidade do pa�s, ficando atr�s apenas de Vit�ria. Fomos a capital que mais investiu por habitante em sa�de. Ent�o, o Kalil encontrou uma prefeitura bem organizada, com obras em andamento e dinheiro em caixa, que permitiram a ele apresentar resultados � popula��o. Fizemos escolas infantis de Primeiro Mundo. Tanto que a classe m�dia buscava a Justi�a querendo vagas nas UMEIs. Esse hospital do Barreiro que fizemos deve ser hoje um dos melhores, sen�o o melhor, hospital 100% SUS do pa�s. N�s o entregamos todo equipado. Mas um grande hospital, mesmo no setor privado, nunca � colocado em funcionamento 100% ocupado. � uma opera��o complexa, precisa treinar o corpo cl�nico, treinar as equipes. Ele n�o foi ocupado mais rapidamente porque infelizmente os governos federal e estadual n�o se dispuseram a cumprir sua parte. N�o sei se foi por motivos pol�ticos, j� que t�nhamos o PT nos governos federal e estadual. O clima eleitoral tamb�m pode ter afetado isso, j� que o hospital do Barreiro foi muito usado na campanha. Mas n�o faltava nada l� dentro.