Bras�lia, 25 - Depois do desgaste no relacionamento com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), C�rmen L�cia, o presidente Michel Temer come�ou a se aproximar do ministro Dias Toffoli, que assumir� a Corte em setembro de 2018. As conversas entre os dois provocaram desconfian�as e estocadas do outro lado da Pra�a dos Tr�s Poderes.
Sob o argumento de estar preocupado com a harmonia entre o Executivo e o Judici�rio, Temer perguntou a interlocutores, nos �ltimos dias, se achavam que ele tamb�m deveria procurar outros ministros do Supremo e foi incentivado a seguir esse caminho. Advogado constitucionalista, o presidente mant�m amizade no tribunal com Gilmar Mendes - que chegou a redigir o esbo�o de uma proposta para instituir o semipresidencialismo no Brasil - e com Alexandre de Moraes, ex-titular da Justi�a.
O mais recente di�logo com Toffoli ocorreu em 19 de novembro, no Pal�cio da Alvorada. Temer j� havia manifestado h� tempos a inten��o de cham�-lo para um caf�, mas preferiu esperar a �poeira baixar� depois que a Corte julgou processos delicados, como o pedido para afastar o ent�o procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, no caso JBS.
A reuni�o foi vista no Supremo como uma tentativa de Temer de estreitar la�os com o futuro presidente do tribunal, mas incomodou alguns magistrados, para quem o di�logo institucional deveria ser feito com C�rmen. No Alvorada, o peemedebista chegou a discorrer sobre a recupera��o dos indicadores econ�micos e perspectivas para 2018.
�Sempre tive uma boa rela��o com ele�, afirmou Toffoli. �Foi um bate-papo muito cordial. Perguntei, por exemplo, como foi o encontro dele com Trump�, completou o ministro, referindo-se ao jantar ocorrido em Nova York, em setembro, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na pr�tica, Temer come�ou a se afastar de C�rmen em maio, depois que vieram � tona as dela��es do empres�rio Joesley Batista e de outros executivos da J&F, no �mbito da Lava Jato. A portas fechadas, auxiliares do presidente dizem que, naquele momento, ficou evidente o desejo dela de ser uma esp�cie de �salvadora da P�tria�.
�Solu��o�. Na avalia��o do Pal�cio do Planalto, C�rmen atuou com o objetivo de aparecer como �solu��o de consenso� para a crise pol�tica. Aliados de Temer n�o t�m d�vidas de que a magistrada fez articula��es para ser indicada, em caso de elei��o indireta no Congresso, como o nome que assumiria o comando do Pa�s at� 2018, se ele n�o resistisse �s den�ncias de corrup��o. Desde essa �poca, a rela��o entre os dois ficou estremecida e hoje � distante e protocolar.
Quando os depoimentos da JBS foram revelados, C�rmen afirmou que o Brasil sobreviveria �s dela��es e rebateu rumores de que poderia ser candidata � cadeira de Temer. Em conversas reservadas, assegurou que essas especula��es n�o faziam o m�nimo sentido.
�Estou no lugar que eu tenho a obriga��o constitucional de estar e estarei com muito gosto�, disse ela, na ocasi�o.
N�o � de hoje, por�m, que o Planalto carimba atitudes de C�rmen como estrat�gia de marketing. Exemplos citados na sede do governo s�o justamente as visitas que ela fez a pres�dios, ap�s v�rias rebeli�es. O diagn�stico foi de que houve ali muitos holofotes para pouco resultado concreto, uma percep��o tamb�m compartilhada por integrantes do Conselho Nacional de Justi�a (CNJ), presidido pela magistrada.
No ano passado, em reuni�o dos chefes dos tr�s Poderes para discutir o espinhoso tema da seguran�a, o ent�o ministro da Justi�a, Alexandre de Moraes, hoje no Supremo, fez um coment�rio que irritou C�rmen. �No Brasil, a gente prende muito e prende mal�, constatou Moraes. A presidente do STF discordou de forma enf�tica e muitos dos presentes tiveram a impress�o de que ela queria todas as aten��es.
Na lista de cr�ticas que saem do Planalto em dire��o � Corte, pelo menos uma se refere ao voto de desempate que C�rmen deu no julgamento do senador A�cio Neves (PSDB-MG), considerado muito confuso.
Alvo da Lava Jato, A�cio foi gravado pedindo R$ 2 milh�es para Joesley. Na sess�o que conferiu ao Congresso o poder de reverter medidas cautelares impostas a deputados e senadores, a ministra foi a respons�vel pelo voto decisivo, abrindo caminho para o Senado devolver o mandato de A�cio.
Gest�o. A nove meses do fim da gest�o de C�rmen � frente do STF, cresce no governo a expectativa sobre a administra��o de Toffoli. O magistrado possui um dos gabinetes mais �geis da Corte, com um acervo de 2,2 mil processos. O de Marco Aur�lio Mello, por exemplo, re�ne 7,3 mil casos.
Toffoli acumula experi�ncia nos tr�s Poderes, o que pode, na vis�o do Planalto, ajudar a diminuir atritos em um ano eleitoral. Antes de vestir a toga, ele foi advogado do PT e do ex-ministro Jos� Dirceu, al�m de assessor da lideran�a do partido na C�mara, quando Temer era presidente da Casa. No governo Lula, atuou como subchefe para Assuntos Jur�dicos da Casa Civil e advogado-geral da Uni�o. H� tempos, por�m, se distanciou do PT e faz dobradinhas com Gilmar Mendes.
O Supremo aguarda, agora, a devolu��o do pedido de vista de Toffoli sobre a limita��o do foro privilegiado. Logo ap�s o encontro com Temer, no Alvorada, o ministro solicitou mais tempo para analisar o assunto, que tem grande impacto sobre o mundo pol�tico.
Se o foro for reduzido, parte expressiva de processos contra parlamentares, em tramita��o no STF, migrar� para a primeira inst�ncia, que costuma ser mais c�lere. H� maioria na Corte para limitar essa prerrogativa apenas a crimes relacionados aos mandatos, e cometidos no exerc�cio do cargo, mas o debate foi interrompido por Toffoli, que s� deve liberar a a��o por volta de mar�o. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Vera Rosa e Rafael Moraes Moura)