
Embora na quarta-feira n�o seja o �ltimo cap�tulo da novela “Lula presidenci�vel” em outubro, o julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Regi�o, em Porto Alegre, ser� acompanhada com lupa pelo mundo pol�tico e econ�mico. Pr�-candidatos de todos os partidos e correntes ideol�gicas sabem que, qualquer que seja o resultado definido pelos tr�s desembargadores, os desdobramentos v�o interferir no futuro de cada um dos postulantes ao Planalto.
Os efeitos mais diretos est�o, obviamente, no campo da esquerda. Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSol), Manuela D’�vila (PCdoB) e Marina Silva (Rede) sonham em arrebanhar uma parte dos votos petistas caso o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva n�o saia candidato e seja obrigado a apoiar um outro nome do PT. O PSB, que, desde as elei��es de 2014, se divorciou do n�cleo petista ao lan�ar o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos — morto em um desastre a�reo no meio da campanha —, ainda vive o dilema de ter um nome pr�prio ou aderir � press�o do vice-governador de S�o Paulo, M�rcio Fran�a, que defende uma alian�a com o PSDB, de Geraldo Alckmin.
“Eu, pessoalmente, acredito que o melhor seria que Lula fosse julgado pelos eleitores. Mas n�o � nenhuma novidade o fato de o PSB estar procurando um caminho diferente do PT. Fizemos isso n�o apenas em 2014 (com Eduardo Campos), mas tamb�m em 2002 (com Anthony Garotinho)”, recordou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
Para o ex-l�der do PT na C�mara, deputado Carlos Zarattini (SP), a polariza��o das candidaturas de esquerda n�o deve ser vista como algo ruim. “Eles sempre tiveram projetos pr�prios. As candidaturas que, por ventura, n�o tenham vingado n�o t�m nada a ver com a aus�ncia do PT, mas pela falta de for�as internas. Na minha opini�o, para todos do campo da esquerda, o melhor � que Lula seja candidato”, ponderou Zarattini.
Para o cientista pol�tico da Arko Advice Murillo Arag�o, a dimens�o pol�tica do julgamento de quarta-feira n�o � algo que possa ser desprezado, apesar de n�o ser o cap�tulo final da hist�ria. “A figura do Lula evoca uma s�rie de quest�es: a volta dele ao poder, caso consiga concorrer e seja eleito, ressuscita, na mem�ria das pessoas, os erros do governo Dilma e os �xitos do governo dele pr�prio”. Arag�o ainda analisa o aspecto multifacetado do debate. “O caso Lula tem uma dimens�o econ�mica, jur�dica e pol�tica que aumenta as expectativas em torno da decis�o”, apontou.
O professor de hist�ria contempor�nea da UnB Antonio Jos� Barbosa admite que � dif�cil, neste momento, tra�ar progn�sticos sobre os efeitos do julgamento. “Historiadores s�o profetas do passado”, brincou ele. “Mas � claro que tudo vai depender do resultado do julgamento. Se o placar for 3 a 0, as pe�as v�o se movimentar de um jeito. Se for 2 a 1, o movimento ser� distinto. De qualquer maneira, ser� uma senten�a que vai alterar o jogo eleitoral”, disse Barbosa.
Esse peso acaba recaindo tamb�m nas estrat�gias dos advers�rios de Lula. Pr�-candidato do PSL, Jair Bolsonaro (RJ) — que levantou a hip�tese de que a viagem de Lula � Eti�pia em 26 de janeiro, dois dias ap�s o julgamento do TRF-4, poderia ser uma tentativa do petista de pedir asilo em caso de condena��o — tem se destacado pelas cr�ticas contundentes ao PT e ao ex-presidente. Ao mesmo tempo, h� quem diga que ele necessita dessa ant�tese para se manter vivo politicamente. “Sem Lula, a candidatura de Bolsonaro definha. Ele n�o tem com quem polarizar de maneira t�o intensa”, afirmou o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino.
O professor de ci�ncia pol�tica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Antonio Celso Pereira afirma que n�o h� como uma decis�o de tal envergadura envolvendo Lula acontecer sem abalos no tabuleiro pol�tico. “Lula ganhou ares de sacralidade em seus seguidores por tudo que ele representa. N�o em termos pessoais, mas em termos de capacidade pol�tica, ele equipara-se a Juscelino Kubitschek e Get�lio Vargas. Tem uma intui��o invej�vel, sabe para onde o vento aponta e, mais importante, nunca se coloca contr�rio a ele”, analisou Pereira.
Para o atual grupo que est� no Planalto, uma elei��o sem Lula tornaria, em tese, as coisas mais simples. O presidente Michel Temer defende o legado de que assumiu o pa�s, ap�s o impeachment, e conseguiu recuperar os rumos da economia, devolvendo a credibilidade aos investidores nacionais e estrangeiros. Esse discurso de ajuste fiscal para que se abra espa�o para o aperfei�oamento dos programas sociais alimenta as pr�-campanhas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Toda a campanha feita at� o momento serviu para tornar Lula incendi�rio. E isso estimula as candidaturas do campo governista. Acharam um meio jur�dico para encerrar o cap�tulo pol�tico do impeachment”, afirmou o diretor de documenta��o do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.