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Estado de Minas

Filha de Temer defende legaliza��o do aborto e das drogas

Luciana Temer, 48 anos, a filha primog�nita do presidente Michel Temer, em entrevista, diz que ela e o pai t�m pensamentos diferentes sobre esses e outros temas


postado em 09/02/2018 07:36 / atualizado em 09/02/2018 08:23

Luciana Temer(foto: Reprodução/Internet)
Luciana Temer (foto: Reprodu��o/Internet)

S�o Paulo - Ela cresceu ouvindo o pai declamar Castro Alves. Dele herdou a consci�ncia moral e da m�e, a consci�ncia crist�. E ent�o foi construindo sua trajet�ria, hoje como professora de direitos constitucionais da PUC-SP e da Uninove, e presidindo o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn, de combate � explora��o sexual de crian�as e adolescentes.

Antes, foi secret�ria de assist�ncia social da Prefeitura, na gest�o de Fernando Haddad, a quem admira e se identifica. Ex-delegada de defesa da mulher, em Osasco, trabalhou tamb�m com o governador Geraldo Alckmin e tem Gabriel Chalita em alta conta.

Defende a legaliza��o do aborto, das drogas e regulamenta��o da prostitui��o. Luciana Temer, 48 anos, a filha primog�nita do presidente Miche Temer, foge dos paradigmas �bvios do jogo f�cil das polariza��es pol�ticas. Ela decidiu compartilhar um olhar mais �ntimo sobre suas cren�as e valores, nesta entrevista que se segue.

Qual seria o inconsciente coletivo do brasileiro hoje?


Hoje, as pessoas est�o se sentindo � vontade para fazer e dizer coisas, especialmente nas redes sociais, que traduzem o que elas n�o tinham coragem de dizer antes face a face, e que agora est�o mais livres para falar. Se por um lado isso � bom porque as pessoas podem se manifestar mais livremente, por um outro lado, esse espa�o criado pela internet, pelas redes sociais, tornou as pessoas mais agressivas, mais radicais nas suas posi��es. Coisas que estavam no inconsciente das pessoas e que elas deixavam l� quietinhas, agora elas est�o deixando os bichos ficarem mais soltos. De alguma forma, tem alguma coisa acontecendo que traz uma belicosidade nas coloca��es como se a gente voltasse um pouco para a idade da pedra. Eu sinto que tem um certo ambiente - que � esse ambiente virtual - que faz com que as pessoas peguem em armas e tratem as quest�es de forma muito agressiva.

Isso � uma coisa brasileira ou mundial?

Mundial.

Qual seria o acento brasileiro?

Eu acho que no Brasil temos essa crise pol�tica absolutamente acirrada, onde, supostamente, o brasileiro acordou para uma quest�o que � a quest�o da corrup��o; mas, ao mesmo tempo eu digo supostamente, porque ficou uma ideia de que esse malfeito brasileiro s� acontece e est� centrado nos pol�ticos e nas institui��es, o que n�o � verdadeiro. A polariza��o fica num n�vel t�o raso de discuss�o: bons e maus, manique�sta. "Eu sou bom, voc� � mau". Eu sempre falo para os meus alunos dessa divis�o de "n�s" e "eles" - como se o Congresso Nacional fossem "eles". Quem � o Congresso Nacional se n�o n�s mesmos? N�s mesmos que somos cidad�os brasileiros, n�s mesmos que elegemos.

Voc� acha que falta consci�ncia �tica e social no dia a dia do brasileiro?

N�o podemos generalizar, tem gente muito boa. Mas acho que existe uma cultura permissiva no Brasil em todos os aspectos e setores. Na consci�ncia do brasileiro o n�o cumprimento da lei � porque essa lei n�o � boa, essa regra n�o � boa. Ou � dif�cil e n�o vou conseguir cumprir, e eu me permito descumprir.

Como reage aos esc�ndalos de corrup��o que a gente ouve?

Conhe�o o pai que tenho e sei os limites �ticos dele.

No seu governo?


A corrup��o � uma coisa end�mica, um problema s�rio em todos os n�veis. � preciso repensar posturas individuais e cotidianas. Falamos muito das grandes corrup��es, mas na hora de deixar o carro na vaga reservada a pessoas com defici�ncia, partimos para o discurso de que "� s� um minutinho". A sociedade precisa ser mais educada.

Em termos de pensamento pol�tico, a sua constru��o vai por onde?

Eu tenho uma forma��o humanista que vem de casa, tanto do lado paterno como materno. Minha m�e, que foi sempre algu�m que procurou ajudar as pessoas e me ensinou que era importante cuidar das pessoas que est�o a nossa volta. E o meu pai, porque tem essa forma��o, n�o s� jur�dica, mas de fam�lia muito r�gida, uma moral muito r�gida. De fam�lia �rabe muito grande, muito unida, que teve sempre teve esse discurso bastante r�gido do ponto de vista moral. N�s crescemos com esses dois lados - a minha m�e, Maria C�lia, sempre pelo lado da caridade. E a forma��o mais estruturada do ponto de vista da consci�ncia social, vem do meu pai. N�s �amos daqui at� Tiet� - onde ficava a ch�cara da nossa fam�lia, e �amos todo fim de semana ficar com a minha av� -, ouvindo meu pai declamar 'Navio Negreiro' (Castro Alves) inteirinho. Uma coisa super tocante.

Como voc� se define, ideologicamente falando?

Sou uma pessoa que busca uma maior justi�a social de forma ampla, n�o s� do ponto de vista econ�mico e financeiro.

Voc� ter trabalhado com o Haddad � uma coisa curiosa...


O Haddad � um militante petista, mas ele � um professor universit�rio, assim como eu sou uma professora universit�ria. Ele � um sujeito que foi se aprimorando intelectualmente, assim como eu busquei me aprimorar intelectualmente ao longo dos anos. Eu fui trabalhar com uma pessoa que fez um caminho de busca, de consci�ncia social, assim como eu fui buscando meu caminho. Ent�o n�o acho t�o estranho que eu tenha ido trabalhar com o Haddad. Nesse tempo de polariza��o, as pessoas tendem muito a associar o seu sobrenome a uma pauta que exclui o direito das mulheres, que torce o nariz ao direito sobre o pr�prio corpo... Eu tenho duas irm�s, que s�o psic�logas. N�s somos tr�s mulheres independentes, que trabalham, que a vida inteira ganharam o seu dinheiro e se sustentaram, e eu escutei do meu pai a vida inteira a seguinte instru��o: "voc� tem que trabalhar e ganhar o seu dinheiro, porque a independ�ncia s� existe quando voc� se sustenta. Voc� s� � uma pessoa livre e independente quando paga as suas contas". A� eu me pergunto, onde est� o machista dessa brincadeira do 'recatada e do lar'? Porque a Marcela tem um outro perfil. � uma grande companheira dele, mesmo, de mais de 12 anos, e que tem outro perfil, e que eu respeito perfeitamente.

Pol�tica te interessa?

A grande pol�tica me interessa, pol�tica partid�ria n�o me interessa pessoalmente, n�o tenho voca��o. Eu me filiei ao MDB para assumir a secretaria de assist�ncia com o Haddad.

Voc� gostou de trabalhar com o Alckmin?


Eu o respeito muito. � um sujeito muito s�rio, muito �ntegro. Essa � minha experi�ncia pessoal com ele. Se voc� perguntar com quem eu tenho mais afinidade de trabalho, de pensamento, eu tenho muito mais afinidade com o Haddad.

Na sua fam�lia o pensamento � homog�neo?


N�o. Muito chato pensamento homog�neo. Com quem voc� vai discutir no almo�o? A gente tem bons debates, mas temos uma afinidade num pensamento mais liberal. L�gico, sobre determinados assuntos eu n�o penso como o meu pai que � de outra gera��o, suas posi��es n�o s�o as mesmas e temos bons debates sobre essas quest�es. A quest�o de g�nero, a quest�o de pol�tica de drogas, a gente tem posi��es que s�o diferentes.

Em g�nero e drogas voc�s discordam?

Na verdade, ele pensa uma pol�tica de enfrentamento da droga mais conservadora. Quando aparece um ministro como o Osmar Terra falando em interna��o e abstin�ncia total, de certa forma ele endossa. � uma linha mais tradicional. Quanto a g�nero, meu pai � uma pessoa que prega uma rela��o de igualdade. Nunca pregou desigualdade. Mas ele parte de um discurso de que basta a defesa da igualdade, n�o precisa cotas nem distin��es.

Como voc� se sentiu quando ele apresentou uma equipe ministerial composta apenas por homens?

� uma quest�o um pouco de um homem mais velho que teve um conv�vio mais f�cil a vida inteira com homens. Ele tem mais refer�ncias de homens que mulheres. Eu se fosse montar uma equipe, talvez montasse uma equipe mais feminina. Mas veja, Haddad, que � super moderno, tinha 3 mulheres em 27 secretarias...N�o acho enfim que ele n�o tenha chamado mulheres por exclus�o. N�o houve predisposi��o em n�o chamar. Por outro lado, n�o houve predisposi��o em buscar um nome. Parece bobo, mas isso faz diferen�a.

Conte um pouco sobre o trabalho do Instituto Liberta.


Estamos na estrada h� um ano e cuidamos de uma tem�tica exclusiva, que � a explora��o sexual de crian�as e adolescentes no Brasil. O Brasil � o segundo pa�s com maior �ndice de explora��o sexual infantil e o quarto pa�s no �ndice de casamentos infantis. A estimativa � de mais ou menos 500 mil meninas e meninos explorados anualmente, e a maioria t�m entre 7 e 14 anos. S�o dados muito tristes.

Quando aconteceram essas crises agudas envolvendo o seu pai, voc� conseguiu separar as coisas, ficar tranquila?

N�o. � muito triste, muito dif�cil voc� ver o nome do seu pai, que � uma pessoa que voc� conhece h� 50 anos, jogado na lama. Quando saiu na Globo aquela primeira chamada dizendo que havia um �udio no qual meu pai dizia pra o Joesley para subornar o (Eduardo) Cunha pra ficar calado, eu estava na rua, ouvindo o r�dio. E a� eu cheguei em casa, meus filhos estavam em casa, n�o tinham ouvido a not�cia; liguei no Jornal Nacional, e a� o meu filho virou pra mim e falou assim: "O que � isso? Voc� acredita? O que est� acontecendo?". Eu falei: "olha, meninos, eu n�o ouvi esse �udio, ningu�m ouviu esse �udio. Mas, eu vou dizer pra voc�s, eu corto os meus dois bra�os se o seu av� falou uma coisa dessas. Eu conhe�o o seu av� h� 50 anos, ele jamais, em tempo algum falaria uma frase dessas." E, afinal, quando saiu o �udio essa frase n�o existia. A frase que aparece no �udio �: "Estou mantendo uma boa rela��o". "Ah, voc� deve mesmo fazer isso". Isto � meu pai.


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