S�o Paulo, 12 - A tentativa do deputado Jair Bolsonaro, pr�-candidato � presid�ncia da Rep�blica, de se apresentar como op��o liberal-conservadora nas elei��es de outubro come�a a ganhar contornos mais definidos pelas m�os do economista Paulo Guedes, anunciado como seu poss�vel ministro da Fazenda, caso ele seja eleito.
Com uma trajet�ria pol�tica marcada por posi��es nacional-desenvolvimentistas, de vi�s estatizante, que ainda geram muita desconfian�a entre os liberais, Bolsonaro diz agora que deixar� as decis�es ligadas � economia para Guedes, cujas ideias s�o conhecidas e respeitadas no mundo dos neg�cios, para tentar dar alguma consist�ncia � sua propalada convers�o ao liberalismo.
"Eu confesso publicamente que n�o entendo nada de economia. A gente tem de ter humildade de escolher as pessoas certas, debater, conversar, para tomar decis�es em diversas �reas", afirma. "A �ltima presidente que disse que entendia de economia quebrou o Brasil. O Fernando Henrique n�o entendia de economia, mas foi ministro da Fazenda do Itamar Franco e fez o Plano Real."
Privil�gios -
S�cio e presidente do Conselho de Administra��o da Bozano Investimentos, Guedes diz que tem mantido longas e frequentes conversas com Bolsonaro, que chegam a durar quatro ou cinco horas, para afinar com ele as percep��es sobre os diferentes aspectos da economia - dos gargalos que travam o desenvolvimento do Pa�s, como o desequil�brio fiscal e o d�ficit da Previd�ncia, �s propostas destinadas a alavancar o crescimento e melhorar os servi�os p�blicos, como educa��o, sa�de, seguran�a e saneamento.
Guedes afirma que, para ampliar a sua base de apoio, Bolsonaro ter� de formar uma alian�a de centro-direita, que re�na as for�as liberal-democratas e conservadoras em torno de sua candidatura, e como contribui��o ao processo prop�e um programa econ�mico de cunho liberal, revelado com exclusividade ao jornal
O Estado de S. Paulo
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Na sua vis�o, depois de trinta anos de hegemonia social-democrata no Brasil, com o PT e o PSDB se alternando no poder, � hora de experimentar uma nova receita, para tentar colocar o Pa�s na trilha do crescimento sustent�vel. "A expans�o ininterrupta dos gastos p�blicos corrompeu a democracia e estagnou a economia", afirma. "A social-democracia deu uma contribui��o, levou os pobres para o or�amento p�blico, mas n�o teve coragem de mudar o Estado, cortar subs�dios, privil�gios."
No in�cio do ano, com a aproxima��o de Bolsonaro do Partido Social Liberal (PSL), ao qual ele dever� se filiar para formalizar sua candidatura, Guedes ganhou o apoio de um nome de peso, que dever� participar da elabora��o do programa econ�mico do deputado-candidato: o economista Marcos Cintra, filiado ao Partido Social Democr�tico (PSD) e presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ligada ao governo federal.
Criador da proposta do imposto �nico, pela qual seria cobrado um s� tributo no Pa�s, incidente sobre todas as transa��es, nos moldes da antiga Contribui��o Provis�ria sobre Movimenta��es Financeiras (CPMF), Cintra foi indicado a Bolsonaro pelo presidente do PSL, o deputado Luciano Bivar, um entusiasta da ideia, inclu�da em sua plataforma quando foi candidato � presid�ncia da Rep�blica, em 2006. "O manic�mio tribut�rio � um dos grandes empecilhos que o Brasil enfrenta para impulsionar o desenvolvimento", diz Cintra.
Ex-deputado federal de 1999 a 2003, ele foi colega de Bolsonaro na C�mara e afirma que recebeu o sinal verde do ministro da Ci�ncia, Tecnologia, Inova��es e Comunica��es, Gilberto Kassab, fundador e l�der do PSD, para se engajar em sua campanha. "Eu disse a ele que fui convidado para ajudar e que vislumbrava a possibilidade de implementar uma reforma tribut�ria, em linha com a proposta que eu venho defendendo h� trinta anos."
Esquerda.
Mesmo com o aval de economistas como Paulo Guedes e Marcos Cintra, por�m, muita gente ainda questiona se Bolsonaro ir� realmente incorporar o receitu�rio liberal e deixar para tr�s seus pendores nacionalistas, protecionistas e estatistas. Na semana passada, em pronunciamentos e entrevistas, ele n�o conseguiu disfar�ar, por mais que se esfor�asse para tanto, suas ideias nacional-desenvolvimentistas, inspiradas nas pol�ticas do regime militar, que o aproximam das propostas defendidas pelo PT e por outros partidos e organiza��es de esquerda que ele afirma combater.
O empres�rio Flavio Rocha, presidente das Lojas Riachuelo, umas das maiores redes de varejo do Pa�s, que tamb�m se apresenta como um defensor das ideias liberal-conservadoras, poderia se alinhar com Bolsonaro, mas diz n�o ter "comprado" a sua convers�o liberal.
"Bolsonaro � o �nico que est� nadando de bra�ada na onda conservadora, mas � de esquerda em economia, porque � estatizante antes de mais nada."
Rocha, � certo, tem dado sinais nas �ltimas semanas de que poder� participar das elei��es para a presid�ncia, com o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), disputando, essencialmente, o mesmo eleitorado de Bolsonaro, apesar de negar a inten��o de faz�-lo.
Ainda assim, a sua resist�ncia em se unir ao "capit�o", como afirma Paulo Guedes, revela o tamanho do desafio que Bolsonaro tem pela frente, para tentar superar a desconfian�a que as suas posi��es hist�ricas na economia despertam - e, mesmo assim, nada indica que conseguir� chegar l�. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Jos� Fucs)