
Bras�lia – O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, de 68 anos, afirmou, em entrevista ao Estado de Minas, que a interven��o na seguran�a no Rio de Janeiro era imprescind�vel. Ele negou o protagonismo dos militares e classificou como “fake news” informa��es sobre a atua��o da For�a. “N�o h� uso pol�tico de militar. H� urg�ncia”, diz Joaquim Silva. Para ele, o cargo de interventor no Rio poderia ser ocupado por um juiz, advogado, delegado e at� jornalista uma vez que a interven��o � apenas na �rea de seguran�a. “Definiu-se um militar num entendimento razo�vel, pois est� havendo uma opera��o de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ent�o a ideia foi a de juntar as duas coisas.” Ele admite, no entanto, que como a car�ncia no Rio � em rela��o � seguran�a e h� um clamor nesse sentido “ficou a percep��o que era uma interven��o militar”.
Para o general, a decis�o do governo de priorizar o equacionamento da seguran�a no Rio e deixar para depois a reforma da Previd�ncia foi correta. “Estamos diante de uma s�rie de prioridades. Previd�ncia � uma delas, seguran�a p�blica � outra. Quando a gente tem um conflito de prioridades, tem que interferir pela urg�ncia. O que � mais urgente no momento? Eu acho que ningu�m duvida que seguran�a p�blica, particularmente no Rio de Janeiro, � a a��o mais urgente que o governo devia fazer”, afirma o ministro interino da Defesa, para quem na� se podia esperar mais para intervir no Rio.
Joaquim Silva considera necess�ria a defini��o de regras de enfrentamento no combate ao crime organizado, mas avalia que essa discuss�o n�o impedir� que a interven��o apresente resultados. “Todas essas opera��es militares e at� as miss�es internacionais t�m regras de como ser� travado o enfrentamento”, lembra ele. Para Joaquim Silva, “onde se pode centralizar as a��es de seguran�a p�blica, com as pol�cias Militar, Federal, Civil, Rodovi�ria Federal, For�as Armadas, Intelig�ncia; todos trabalhando juntos, o resultado vai aparecer.”
Sobre o fato de ocupar o cargo interinamente, o general lembra que est� acumulando as fun��es de secret�rio-geral e de ministro interino da Defesa. “Sou militar da reserva, estou na Defesa h� quatro anos, acompanho tudo que acontece no dia a dia do Minist�rio da Defesa e das tr�s For�as, conhe�o e me relaciono bem com as tr�s For�as”, diz Joaquim Silva. “Este ano completo 50 anos de For�as Armadas, sou soldado e tenho um grande orgulho”, acrescenta. Questionado se o minist�rio deve ser ocupado por um militar ou um civil, o ministro interino � taxativo: “� o minist�rio para cidad�o brasileiro preparado, capacitado, ocup�-lo”.
Sem apegos Ao se definir, Joaquim Silva lembra da sua origem e garante pensar mais no presente. “Meu pai trabalhava em engenho de cana-de-a��car – nem boia-fria era na �poca, passava-se fome mesmo. E a� dentro daquelas �reas tinha uma escolinha, onde eu passei o prim�rio. A professora foi �nica”, afirma o militar. Casado, com tr�s filhos e dois netos, ele lembra que ao fixar resid�ncia em Bras�lia a fam�lia levou apenas objetos de uso, numa decis�o tomada com a mulher. “Levamos para a casa nova o que usamos, e s�. Algo me marcou. Pegamos todas as fotografias e tive que detonar tudo. Chegamos no �lbum de casamento e ela chorou muito, decidimos rasgar, e conseguimos desapegar e seguir em frente. Eu olho do presente, 70%. Do futuro, 25%”, diz Joaquim Silva.
“O ex-ministro Aldo (Rebelo) disse que sou o mais civil dos militares porque n�o fico preso a paradigmas. Fui assim a vida inteira, brinco que sou matuto do interior de Pernambuco, meus pais eram analfabetos, n�o tiveram a oportunidade de estudar, essa � minha origem”, diz com serenidade o general da reserva.
Sombra militar no governo
Bras�lia – O protagonismo exercido por militares no governo de Michel Temer tem gerado inc�modo nos corredores do Pal�cio do Planalto. A proximidade do presidente com a caserna ganhou papel de destaque ap�s a interven��o no Rio, em que deu a um general a tarefa de tentar controlar a viol�ncia no Estado, e ao nomear outro para comandar interinamente o Minist�rio da Defesa.
A rea��o, ainda velada, vem de auxiliares e aliados, que argumentam n�o ser bom para o presidente ter a sua imagem atrelada a dos militares. Contudo, o que tem mais pesado � o temor de perderem espa�o pol�tico ao lado de Temer com a ascens�o de generais a postos estrat�gicos. Atualmente, um dos principais consultores do presidente � o ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), general S�rgio Etchegoyen.
Temer, por�m, tem afirmado em resposta �s desconfian�as que � preciso acabar com o “preconceito” em rela��o �s For�as Armadas. Argumenta que eles deveriam “estar mais presentes na administra��o do pa�s”. Ao menos no caso do Minist�rio da Defesa, Temer tem sido pressionado a rever a indica��o do general Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a chefiar a pasta. A inten��o do presidente era mant�-lo no cargo, mesmo como interino, at� o fim do mandato, mas nos �ltimos dias j� admite substitu�-lo por um civil.
O afago de Temer aos militares n�o se restringe a mais espa�o na administra��o. Em 2017, o valor repassado para a Defesa a t�tulo de custeio e investimento voltou a crescer ap�s dois anos de queda. Foram R$ 20,5 bilh�es, ante R$ 18,9 bilh�es em 2016 e R$ 19,6 bilh�es em 2015.
A boa rela��o � ainda anterior, antes mesmo de o emedebista assumir a Presid�ncia. Remonta a 2011, quando a presidente cassada Dilma Rousseff decidiu delegar ao ent�o vice-presidente a tarefa de coordenar o Plano Estrat�gico de Fronteiras. Temer, j� presidente, faz quest�o de ouvi-los e os prestigiou em diversos epis�dios, como quando participou de uma reuni�o do Alto Comando do Ex�rcito pela primeira vez. Na ocasi�o, ganhou um bast�o de comando. H� duas semanas, em novo sinal de prest�gio aos militares, foi � reuni�o do Conselho Militar de Defesa.
Un�nimes em recha�ar a inten��o de busca de protagonismo, chefes militares consultados pela reportagem admitem que a maior participa��o no governo coloca as For�as Armadas em evid�ncia. O Secret�rio Nacional de Seguran�a P�blica, Carlos Alberto dos Santos Cruz, avalia que a busca por militares na administra��o se d� porque “as caracter�sticas da profiss�o (militar) est�o em alta no mercado, que s�o honestidade e efici�ncia”. Para ele, as press�es pela troca de Silva e Luna atendem a “um posicionamento mais filos�fico e ideol�gico do que pr�tico” e afirmou que isso “� puramente discriminat�rio”.
Interven��o Na tropa, a avalia��o � de que ao comandar miss�es como a interven��o no Rio, o Ex�rcito passou a assumir “in�meros riscos” e um eventual fracasso “pode afetar a credibilidade das For�as Armadas.” “Temos plena consci�ncia dos riscos e que isso pode afetar a imagem e a nossa credibilidade. Mas confiamos na nossa experi�ncia e no apoio, inclusive dos outros poderes, para, embora o espa�o de tempo seja curto, colocar o Rio em uma situa��o aceit�vel em termos de seguran�a p�blica”, disse o general de Ex�rcito da reserva, Augusto Heleno, considerado uma refer�ncia entre os militares.
Oficiais afirmam que, mesmo que a inten��o do presidente seja utilizar o prest�gio dos militares para melhorar a sua imagem tendo em vista o processo eleitoral, depender� dos resultados obtidos. E alertam que, em caso de fracasso, a influ�ncia pode ser negativa.
TR�S PERGUNTAS PARA...
Maria Celina D’Ara�jo - cientista pol�tica
O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou que os militares n�o buscam protagonismo, que � mera circunst�ncia.
Concordo com ele. O envolvimento das For�as Armadas com a seguran�a p�blica no Rio n�o pode ser permanente, segundo a Constitui��o. Eles t�m que sair. E tem os outros estados dizendo ‘eu tamb�m quero’. Al�m disso, n�o creio que haja um projeto pol�tico das For�as Armadas de retomar as r�deas do poder.
Ent�o, o que explica o protagonismo militar no atual governo?
O protagonismo se acentuou com a interven��o na seguran�a. O ministro da Defesa � interino, n�o � definitivo, mesmo porque Marinha e Aeron�utica n�o aceitam um ministro do Ex�rcito. Um civil voltar�. O (ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional, general S�rgio) Etchegoyen n�o � novidade. O que tem de novo � que a rubrica mudou, n�o � mais GLO (Garantia da Lei e da Ordem), � interven��o. E com isso muda tamb�m a responsabilidade das For�as Armadas.
O que explica os militares ainda sejam vistos como solu��o no Brasil mesmo ap�s a ditadura?
Para a maioria da popula��o, os militares n�o est�o associados com a ditadura. N�o se considera sequer que tenha sido um momento t�o importante da hist�ria. N�s gostamos de esquecer, de passar a m�o na cabe�a. E tamb�m a escala da viol�ncia n�o atingiu todas as fam�lias. Existe ainda a ideia de que os militares s�o moralmente superiores, n�o corrompem e n�o s�o corrompidos. A gente v� grupos pedindo a volta deles, mas s�o ciclos: �s vezes acham que tem que ter mais abertura e liberdade, e, nos momentos de explos�o da viol�ncia, que � preciso usar mais for�a.