(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

'Sem Lula, esquerda n�o tem candidato'


postado em 08/04/2018 07:16

Rio de Janeiro, 08 - Mesmo com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva preso e, a partir de 2019, com um novo presidente eleito, o Brasil seguir� dividido e longe da normalidade, avalia o historiador Jos� Murilo de Carvalho.

Estudioso das mudan�as e reviravoltas que, ao longo dos s�culos, marcaram a pol�tica nacional, o pesquisador afirma, por�m, que mesmo na pris�o Lula poder� ser um ator pol�tico importante. J� o PT n�o vai - "nem deve", pondera - desaparecer, mas precisar� se refundar. Ele tamb�m v� poucas semelhan�as entre a situa��o de Lula e a do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), investigado em inqu�ritos policiais militares na ditadura. A seguir, os principais trechos da entrevista:

H� quem compare Lula ao caso de Juscelino na ditadura. S�o situa��es an�logas?

N�o muito. O �dio contra JK era devido � sua aproxima��o com o varguismo, vinculado, segundo militares e l�deres udenistas, ao comunismo, embora tivesse sido acusado tamb�m de corrup��o, coisa nunca provada. (JK) Foi preso, humilhado, sujeito ao arb�trio dos inqu�ritos policiais-militares. A natureza pol�tica da a��o contra ele era ineg�vel. Agora h� tamb�m alega��es de vi�s pol�tico na condena��o de Lula, mas sem a obviedade do caso de JK. E n�o h� IPMs (Inqu�ritos Policial Militar).

O que se abre agora, para a campanha de 2018, com a pris�o do ex-presidente?

Se Lula de fato n�o puder concorrer - tudo � poss�vel neste pa�s - e dada a rejei��o pelos grandes partidos, o maior benefici�rio ser� o candidato de extrema-direita, segundo colocado nas pesquisas de inten��o de voto. Um panorama preocupante, pois lembra a vit�ria de (Fernando) Collor (presidente de 1990 a 1992, quando foi derrubado por impeachment). Sem Lula, a esquerda n�o tem candidato vi�vel. Se quiser competir para valer ter� que fazer alian�as ao centro. No centro, tamb�m n�o h� candidato convincente. Enfim, mais instabilidade, menos concentra��o na tarefa de retomar o crescimento.

A pris�o de Lula encerra uma era na pol�tica brasileira?

Pris�o de ex-presidente por crime comum � fato in�dito em nossa hist�ria. Mas n�o sei se ir� encerrar o ciclo iniciado em 1985. Ser� mais um trope�o, como o foram os dois processos de impeachment.

Mesmo preso, Lula poder� influenciar o processo eleitoral?

Sem d�vida. (Eurico Gaspar) Dutra, depois de depor (Get�lio) Vargas em 1945, embora fosse um "poste" eleitoral, ganhou as elei��es em fun��o do an�ncio do endosso de Vargas: "Ele disse!". O PT n�o tem candidato vi�vel sem Lula, mas o apoio dele a outro candidato pode fazer diferen�a. H� uma diferen�a entre o PT de hoje e o PTB de Vargas. O �ltimo sobreviveu e cresceu mesmo sem o carisma do chefe. O PT ainda depende demais do carisma de Lula.

Com a pris�o do ex-presidente, o petismo e o lulismo tendem a desaparecer ou a se reduzir?

O PT n�o vai, e n�o deve, desaparecer. Precisamos de um forte partido de esquerda para a sa�de de nossa democracia. Mas ele ter� que por os p�s no ch�o e come�ar um processo de refunda��o, inclusive para reduzir a depend�ncia de Lula.

As press�es exercidas sobre o Supremo tiveram peso na decis�o dos ministros de liberar a pris�o de Lula?

Sem d�vida. Refiro-me, sobretudo, � declara��o do comandante do Ex�rcito feita na v�spera. Nenhuma corte est� isenta de press�es externas, por mais que alguns ju�zes queiram acreditar nisso.

Como analisar a manifesta��o do comandante do Ex�rcito?

A declara��o foi infeliz e intempestiva. A Constitui��o diz que as For�as Armadas se destinam � defesa da p�tria e � garantia dos poderes constitucionais. A interven��o no Rio para garantia da lei e da ordem, ordenada pelo Executivo, foi perfeitamente constitucional. A declara��o do comandante, sem que houvesse amea�a aos poderes constitucionais, foi pol�tica e inadequada.

Isso n�o evoca o passado do regime militar?

Nas d�cadas de 1950 e de 1960, declara��es de chefes militares, individuais ou coletivas, eram frequentes e culminaram nas quedas de Vargas e de Goulart. N�o creio que haja amea�a de interven��o militar na fala do comandante, mas suas declara��es revivem velhos fantasmas.

Os militares podem voltar a ter peso na pol�tica?

Um dos pontos positivos das crises da Rep�blica iniciada em 1985 foi a neutralidade pol�tica mantida pelas For�as Armadas. Seria um enorme retrocesso democr�tico se essa neutralidade fosse rompida. Resta saber se os comandos da Marinha e da Aeron�utica compartilham a posi��o do comandante do Ex�rcito.

A crise pol�tica chegou ao STF?

At� pouco tempo, o STF era o poder da Rep�blica menos atingido pela descren�a dos cidad�os. N�o � mais. Suas hesita��es e contradi��es, os conflitos e bate-bocas entre ministros, a loquacidade de seus membros fora dos autos, tudo isso tem contribu�do para o desgaste da institui��o. Muito ruim para a sa�de da Rep�blica.

Esse processo de politiza��o tem volta?

A judicializa��o da pol�tica n�o � fen�meno apenas brasileiro. Mas aqui ela tem adquirido dimens�es preocupantes. Ju�zes e promotores n�o s�o eleitos, n�o s�o representantes dos cidad�os. O v�cuo de poder gerado pelo descr�dito dos outros poderes e dos partidos pol�ticos � que tem incentivado o ativismo judicial. S� a extin��o do v�cuo poder� sanar o mal.

A elei��o de 2018 pode levar o Brasil de volta � normalidade?

Com ou sem Lula, as elei��es n�o trar�o de volta a normalidade. O pr�ximo presidente, seja quem for, ter� que construir sua base parlamentar, fazer os velhos acordos de sempre e n�o ter� for�as, ou vontade, de fazer as reformas de que o Pa�s necessita para retomar o crescimento e para atacar o problema m�ximo do Pa�s que � a redu��o da desigualdade. As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.

(Wilson Tosta)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)