Em um acontecimento inusitado, produtores rurais impediram a invas�o de uma fazenda por um grupo liderado pelo Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ontem, em Montes Claros, no Norte de Minas. Cerca de 80 pessoas tentaram invadir a Fazenda Bom Jesus (de cerca de 200 hectares), de propriedade da Companhia de Desenvolvimento Econ�mico de Minas Gerais (Codemig), localizada na regi�o de Toledo, a cinco quil�metros da �rea urbana, destinada � implanta��o de uma �rea industrial. A a��o dos sem-terra foi impedida por cerca de 120 produtores de um movimento denominado “Seguran�a no Campo”.
O movimento tem cerca de 200 produtores rurais. Seus integrantes informam que se organizaram para defender suas propriedades, temendo que as invas�es possam aumentar na regi�o, diante de an�ncios de lideran�as do MST de que v�o ampliar as ocupa��es ap�s a pris�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, ocorrida no �ltimo dia 7.
Os sem-terra chegaram � Fazenda Bom Jesus por volta das 6h e come�aram a limpar o terreno para a montagem de barracas. Logo em seguida, os produtores rurais ao longo da Estrada da Produ��o se mobilizaram e tamb�m foram para o local, onde colocaram tratores e ve�culos, impedindo a entrada de colch�es, eletrodom�sticos, madeira e outros materiais que seriam usados pelas fam�lias para a montagem do acampamento na propriedade. Eles tamb�m impediram a passagem de ve�culos na estrada, que d� acesso ao distrito de S�o Pedro das Gar�as, servindo tamb�m como rota alternativa para o munic�pio vizinho de Capit�o En�as. O tr�nsito ficou interditado por sete horas.
O clima ficou tenso e a Pol�cia Militar foi acionada. Uma pessoa ligada aos produtores rurais retirou da entrada da fazenda o mastro com uma bandeira do MST e colocou no lugar dela uma bandeira do Brasil. Houve troca de ofensas. “Houve desaven�as verbais, mas, com a presen�a dos policiais, os �nimos se acalmaram”, informou o tenente-coronel Gild�sio R�mulo Gon�alves, comandante da 11ª Companhia Independente da PM, que esteve no local.
Com a intermedia��o da PM e da Comiss�o de Pastoral da Terra (CPT) e a participa��o de representantes do MST e do Sindicato Rural de Montes Claros, houve um acordo entre os produtores rurais e trabalhadores sem-terra, que aceitaram deixar o local pacificamente. Eles exigiram que fossem fornecidos pelos produtores dois �nibus e um caminh�o-ba�, para o transporte dos trabalhadores e dos seus pertences.
As fam�lias deixaram a propriedade �s 16h, em dire��o a uma �rea de acampamento j� existente, da antiga Fazenda Sanhar�, tamb�m �s margens da Estrada da Produ��o, a 10 quil�metros da �rea urbana de Montes Claros. Ap�s sa�da dos sem-terra, os produtores soltaram fogos para comemorar a “vit�ria”. Pessoas ligadas aos produtores entraram na �rea aberta pelos invasores e atearam fogo em varas e restos de papel�o que seriam usados no acampamento.
REA��O R�PIDA Segundo o veterin�rio e produtor Eug�nio Teixeira, que participou da mobiliza��o contra os sem-terra nesta quarta-feira e faz parte do grupo, o Movimento Seguran�a no Campo � pac�fico. “Mas, se os sem-terra tentarem invadir nossas propriedades com viol�ncia, teremos que reagir � altura. N�o queremos isso”, afirmou. Segundo ele, os fazendeiros do Norte de Minas resolveram se unir para defender o direito � propriedade. “N�o vamos permitir que marginais – os fora da lei – estejam acima dos cidad�os de bem, que trabalham e produzem”, enfatizou.
O produtor Wilker Lima informou que os integrantes do movimento est�o sempre atentos � movimenta��o do MST na regi�o para uma rea��o r�pida. “Nossa arma � a presen�a nas propriedades”, afirmou Wilker, lembrando que os produtores querem evitar os conflitos com os sem-terra. “S� queremos o respeito � propriedade privada no campo, da mesma forma como existem propriedades privadas como casas, apartamentos e terrenos na �rea urbana”, completou o produtor Orlando Machado Pinto.
A reportagem n�o conseguiu contato com o MST. Em nota, o movimento informa que os trabalhadores ocuparam a Fazenda Bom Jesus, mas “cerca de 20 latifundi�rios trancaram a estrada que d� acesso � �rea, cerceando a passagem de �gua, alimentos e outros itens de necessidade b�sica”.