
Entre os investigados est�o os ex-integrantes da �rea internacional da Petrobras Alu�sio Teles Ferreira Filho, Rodrigo Zambrotti Pinaud e Ulisses Sobral Calile. Segundo os investigadores, com a ajuda de operadores financeiros, cerca de US$ 24 milh�es tiveram como destino contas de agentes p�blicos ligados � Petrobras. Mais US$ 31 milh�es teriam como destino pessoas que se diziam intermedi�rios de pol�ticos ligados ao ent�o PMDB (atual MDB). H�, ainda, a suspeita de que o ex-tesoureiro do PT, Jo�o Vaccari Neto, tenha recebido parte dos recursos.
A Pol�cia Federal informou que cerca de 80 policiais est�o cumprindo 23 ordens judiciais nos estados do Rio de Janeiro, Esp�rito Santo e S�o Paulo. Entre as ordens, h� quatro mandados de pris�o preventiva, dois mandados de pris�o tempor�ria e 17 mandados de busca e apreens�o.
“O que se pretende � buscar elementos para aprofundar as investiga��es sobre o contrato celebrado entre a Petrobras e a Odebrecht. Informa��es privilegiadas foram concedidas por executivos da Petrobras aos da Odebrecht que [em retorno] prometeram uma s�rie de benef�cios il�citos”, disse, durante coletiva de imprensa, o procurador do Minist�rio P�blico Federal Roberson Pozzobon. Na �poca, o diretor da �rea internacional da Petrobras era Jorge Zelada, j� condenado por fraudes em contratos da petrol�fera.
Pozzobon explicou como foram os primeiros passos para o desvio dos recursos. “Alu�sio Teles [engenheiro da Petrobras que viria a ser gerente do contrato] contatou executivos da Odebrecht para ver se havia interesse da empreiteira no contrato [para a presta��o de servi�os de seguran�a, meio ambiente e sa�de]. Quando a Odebrecht manifestou interesse, foi dito que 3% teriam de ser pagos a pelo menos tr�s executivos da estatal”, disse o procurador, referindo-se aos ent�o integrantes da Petrobras internacional Alu�sio Teles Ferreira Filho, Rodrigo Zambrotti Pinaud e ao t�cnico de inspe��o de equipamentos, transferido da Transpetro para a Petrobras exclusivamente para tomar parte na licita��o, Ulisses Sobral Calile.
Ao aprofundar as investiga��es, foram verificados ajustes nos contratos e repasses a operadores Jo�o Augusto Rezende Henriques e �ngelo Tadeu Lauria, que seriam ligados ao MDB - na �poca, PMDB. “Em uma das reuni�es, esses agentes se apresentavam como intermedi�rios de pagamentos a pol�ticos do PMDB. O destino desses recursos ser� alvo de investiga��es. Nossa suspeita � de que os pagamentos do PMDB eram direcionados ao Eduardo Cunha [ex-deputado pelo PMDB, que presidiu a C�mara dos Deputados durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff], e os do PT para Jo�o Vaccari Neto”, completou o procurador Julio Carlos Motta Noronha. No despacho da 51ª fase da Lava Jato, o Juiz S�rgio Moro afirma que pagamentos teriam sido feitos “especificamente” a Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Jo�o Vaccari Neto.
Pozzobon explicou como foi o direcionamento da licita��o. “A Odebrecht foi contemplada a partir de informa��es privilegiadas da Petrobras, permitindo que a empreiteira elaborasse o projeto antecipadamente para que, quando a licita��o sa�sse, o prazo [de 35 dias] fosse curto para que as empresas internacionais concorrentes apresentassem seus projetos. A Odebrecht ent�o buscou as empresas do cartel, no caso a OAS e a Andrade Gutirerrez, que apresentaram lances que acabaram sendo rejeitados”.
Com o contrato assinado, a diretoria internacional come�ou a fazer press�es para que o pre�o do contrato fosse inflado. “Foi apurado que o Alu�sio Teles, quando j� era gerente do contrato, pediu levantamento dos custos do contrato na Argentina. Na �poca o valor era de US$ 32 milh�es. Ele considerou o valor baixo e pediu uma nova auditoria, que concluiu que havia passivos ambientais que aumentaram [o valor] para US$ 72 milh�es. Esse estudo foi inclusive questionado na Argentina”, acrescentou.
Foi ent�o feita uma apura��o interna na Petrobras que, segundo os investigadores, foi conduzida de forma suspeita. Em um primeiro momento, foi institu�da uma comiss�o para estudar por seis meses o contrato. “Do nada, essa comiss�o foi interrompida e constitu�da nova comiss�o, sob o argumento de que havia urg�ncia para a contrata��o”, disse Pozzobon. Posteriormente, foi verificado que n�o havia necessidade de acelerar o contrato.
“O Jorge Zelada [ent�o diretor da �rea], quando se referia ao contrato, dizia que os gerentes internacionais deveriam ‘usar e abusar’ desse contrato. Isso inverte a l�gica da coisa p�blica, que � de baixar pre�os. Eles acabaram inflando os valores”, disse Pozzobon.
Com isso, US$ 24 milh�es tiveram como destino agentes p�blicos, por meio do operador financeiro M�rio Miranda, que repassou parte ao Alu�sio Teles, titular de uma conta que recebeu US$ 11,5 milh�es em apenas um ano. “Teles ent�o transferiu parte da propina para conta de Ulisses Sobral, em outra conta na Su��a, e, depois, para Rodrigo Pinaud”. Tamb�m foram feitos pagamentos em esp�cie, segundo os procuradores.
Tanto o operador Miranda como os tr�s executivos tiveram suas contas bloqueadas pelas autoridades su��as. No caso de Miranda, foram bloqueados cerca de US$ 7 milh�es. J� Alu�sio Teles teve US$ 6,2 milh�es bloqueados; e Ulisses Sobral, US$ 3 milh�es. S�rgio Boccaletti, que � s�cio de Miranda, teve US$ 3,1 milh�es bloqueados. O MPF informa atuar com o objetivo de repatriar todos esses valores, que correspondem a cerca de R$ 70 milh�es.
Outro lado
Contatado pela reportagem, o MDB disse desconhecer detalhes da opera��o, mas que reitera a necessidade de investiga��o c�lere em rela��o aos acusados.
Por meio de nota, a Odebrecht informou que “est� colaborando com a Justi�a no Brasil e nos pa�ses em que atua. Assinou acordo de leni�ncia com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Su��a, Rep�blica Dominicana, Equador, Panam� e Guatemala. Implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes. E adotou modelo de gest�o que valoriza n�o s� a produtividade e a efici�ncia, mas tamb�m a �tica, a integridade e a transpar�ncia.”
Tamb�m por meio de nota, a Petrobras disse trabalhar em parceria com as autoridades que conduzem a Opera��o Lava Jato e que � reconhecida pelo pr�prio Minist�rio P�blico Federal e pelo Supremo Tribunal “como v�tima dos crimes desvendados”, al�m de ser a maior interessada no esclarecimento dos fatos.
“A Petrobras seguir� adotando as medidas necess�rias para obter a devida repara��o dos danos que lhe foram causados. Dentre outras medidas, a companhia atua em conjunto com o Minist�rio P�blico Federal e com a Uni�o em 15 a��es de improbidade administrativa, nas quais s�o cobrados valores superiores a R$ 40 bilh�es. A atua��o articulada com as autoridades p�blicas j� garantiu a devolu��o � Petrobras de cerca de R$ 1,5 bilh�o”, completou.