
Sem candidaturas ao Pal�cio do Planalto no espectro da direita liberal que animem o eleitor brasileiro, o diretor-presidente do Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empreas (Sebrae), Guilherme Afif Domingos, empres�rio de 74 anos, descendente de libaneses, est� determinado a lutar, dentro de seu partido, o PSD, para viabilizar a indica��o de seu nome. Parte da legenda tem se alinhado para apoiar a pr�-candidatura do ex-governador de S�o Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).
“Estou voltando. Sou candidato a candidato. Tenho de furar o bloqueio do meu partido”, afirma ele, que n�o est� preocupado em se articular com outras legendas. “O universo da pequena empresa � de 12 milh�es de formais, 15 milh�es de informais. Se somarmos os trabalhadores, s�o mais 45 milh�es de pessoas. Portanto, tenho que negociar � com a sociedade, porque sen�o a coliga��o vai se chamar unidos da Lava-Jato: s�o todos partidos comprometidos. E disso o povo foge como o diabo da cruz”, diz, em refer�ncia ao MDB, ao PSDB, ao DEM e ao PP, legendas tradicionais que, segundo ele, s�o t�o “pesadas” que ir�o derrubar o palanque.
Enquanto Afif avalia Alckmin como esp�cie de “docinho de coco” que n�o empolga; considera que Henrique Meirelles “est� mais para Davos do que para a periferia”. Jair Bolsonaro (PSL), acredita, vai se esvaziar. “� s� deixar ele falar mais”, sustenta, depois de ter sido ovacionado durante sabatina na Marcha a Bras�lia em Defesa dos Munic�pios, organizada pela Confedera��o Nacional dos Munic�pios (CNM) com a m�xima: “O Brasil de cima para baixo n�o deu certo. Est� na hora de construir o Brasil de baixo para cima”. Para ele, o Estado brasileiro est� desconectado com a realidade na na��o.”, diz.
N�o ser� a primeira vez que Afif ser� candidato � Presid�ncia, caso concorra. Em 1989, disputou o Pal�cio do Planalto num concorrido pleito com 22 candidaturas, com o slogan “Juntos chegaremos l�”. Surpreendeu conquistando 3,2 milh�es de votos e terminando � frente de nomes de express�o nacional como Ulysses Guimar�es.
Que avalia��o faz do momento pol�tico e social do Brasil?
O ambiente � de profundo mau humor gerado pelo total desalento da popula��o, em todas as classes sociodemogr�ficas A, B, C, D, E. As pessoas se sentem enganadas, desrespeitadas e creditam tudo � representa��o pol�tica e � desfa�atez com que usaram os recursos p�blicos. Isso trouxe alto impacto sobre a popula��o. Por outro lado, por que a economia n�o reage se houve queda real de infla��o, foram feitos ajustes, algumas reformas? O desemprego permanece em 13 milh�es. As pessoas t�m medo de perder o emprego, t�m na sua fam�lia gente desempregada. Puxam o freio de m�o, n�o v�o ao consumo e estamos andando de lado na economia. Esse aspecto gera um clima perigoso. N�o tem combust�vel no posto, mas tem combust�vel suficiente na sociedade para pegar fogo. Lembre-se que 2013 foi o in�cio de um tsunami. Em princ�pio foi uma onda aut�ntica de manifesta��es: “Voc�s n�o nos representa”. Os outros movimentos que vieram depois j� tiveram manipula��o pol�tica: foi interesse para o impeachment. Mas aquele (primeiro momento) foi um terremoto em alto-mar cujas ondas podem chegar e explodir. A energia est� a�.
Em 1989, o sr. foi candidato � Presid�ncia da Rep�blica. Foram 22 candidatos e a direita liberal foi engolida pelo discurso moralista de “ca�a aos maraj�s” de Fernando Collor de Mello. Neste pleito de 2018, temos Jair Bolsonaro (PSL) ocupando o espa�o da direita liberal, cujas candidaturas est�o com dificuldades para decolar. Que avalia��o o sr. faz do quadro eleitoral?
S�o dois momentos dif�ceis. Pois a elei��o de 1989 foi solteira, s� um candidato. Nestas elei��es temos toda a complexidade das coliga��es. O alinhamento estadual n�o vai corresponder com a escolha presidencial. A escolha ser� feita diretamente pelo povo. N�o adianta ningu�m pedir para votar no A, B, ou C. Os candidatos que a� est�o, por exemplo, o Bolsonaro era uma polariza��o muito forte com Lula que representaria o grande eleitorado dito de esquerda. E o Lula � forte. Ele tem for�a. Como Lula n�o vai, a tend�ncia desse lado mais � esquerda � diluir e migrar para o centro. E nesse caso, quem est� polarizado cai. Bolsonaro j� est� perdendo consist�ncia. � s� deixar ele falar mais. A tend�ncia � o Ciro Gomes a�ambarcar esse voto do Lula. Quem iria pegar tudo isso seria Joaquim Barbosa. N�o � do ramo, n�o progride. O Geraldo n�o preenche. N�o vai. Tem aquela musiquinha: “Voc� � meu docinho de coco, mas enjoei de voc�”. Ele n�o diz mais nada. O Henrique Meirelles, que o MDB est� lan�ando, � uma pessoa competente, homem de carreira de banqueiro, mas est� mais para Davos do que para a periferia. O MDB vai ficar naquela posi��o hist�rica dele: “Elege quem for, vai ter de sentar no nosso colo para governar”. Est� dando muito mais �nfase � elei��o proporcional do que � majorit�ria. Eles falaram para o Meirelles: “Dinheiro do fundo (eleitoral) � para a nossa turma”. Ele: “Pode deixar que eu ponho”. Ent�o, ele est� comprando aquela vaga. H� um v�cuo a�. Estou voltando. Sou candidato a candidato. Tenho de furar o bloqueio do meu partido. Em S�o Paulo, o PSD apoia o Doria. E, em Minas, Anastasia. S�o arranjos locais. Mas n�o significa que vincula.
O apoio de Michel Temer a um candidato hoje mais atrapalha ou ajuda?
O Temer por ser a figura maior - presidente da Rep�blica - e havendo essa revolta da popula��o contra a classe pol�tica, � o maior representante dessa classe pol�tica. At� est� tentando fazer, dar um passo. Mas n�o consegue. � ele e o que ele representa como classe pol�tica: MDB, mensal�o, a hist�ria do Porto de Santos...
Pensando no grupo de candidatos � Presid�ncia, qual � o seu poss�vel campo de articula��o com os partidos?
Estou me articulando com a sociedade.
Mas o sr. vai precisar de tempo de TV.
�s vezes, o tempo de televis�o trabalha contra. Tenho a experi�ncia. Em 1989, a minha campanha pegou. Conversei e me comuniquei com o povo. A proposta come�ou a fazer sentido na classe m�dia. Naquela ocasi�o, houve manipula��o muito forte de comunica��o, que nos levou a uma falsa “moderniza��o” com o jagun�o yuppie. Tanto � que n�o dei apoio no segundo turno. E falei � �poca: “Vamos atrasar 20 anos o projeto de moderniza��o do Brasil”. Foi o que aconteceu. Hoje tem a tend�ncia liberal sim. A periferia � liberal. O universo da pequena empresa � de 12 milh�es de formais, 15 milh�es de informais. Se somarmos os trabalhadores s�o mais 45 milh�es de pessoas. Portanto, tenho que negociar � com a sociedade. Porque sen�o a coliga��o vai se chamar unidos da Lava-Jato: s�o todos partidos comprometidos. E disso o povo foge como o diabo da cruz.
O PSD n�o est� citado?
O (Gilberto) Kassab est�. Mas ele n�o � candidato. Sou fundador do partido e presidente da funda��o, escrevi o programa do partido. E tudo o que estou falando est� em nosso programa.
Entre os candidatos, h� alguma poss�vel coliga��o?
Tem uma coliga��o importante com o PSC, que tem o Paulo Rabello. N�o sei como est� a cabecinha do Fl�vio Rocha. � uma coliga��o meio outsider do processo tradicional. Eles (os tradicionais) v�o morrer abra�ados. Esse n�cleo grande: MDB, PSDB, DEM, PP...v�o ter um peso de palanque, que vai cair.
Quando o sr. foi empossado em maio de 2013, no governo Dilma, ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa , era vice- governador de Geraldo Alckmin (PSDB) em S�o Paulo. Marcou a ades�o do PSD � base do governo. Como foi essa aproxima��o com Dilma Rousseff, uma vez que o sr. pertencia, em S�o Paulo, a um governo que integrava o n�cleo da oposi��o � ent�o presidente e ao PT?
Como vice-governador de S�o Paulo, havia assumido a Secretaria de Desenvolvimento, para um trabalho voltado �s pequenas empresas e � desburocratiza��o. Naquela oportunidade, surgiu a necessidade de fundar o nosso partido, o PSD, porque havia dissid�ncia no DEM. Gilberto Kassab me pediu para acompanh�-lo. Comuniquei ao Alckmin. No dia seguinte, ele me demitiu da secretaria. Depois de um tempo, me chamou para coordenar as PPPs (parcerias p�blico-privadas) e percebi que ele n�o gostava delas. Ent�o, estava l� para enxugar gelo. Quando a Dilma baixou drasticamente o imposto das MEIs (Microempreendedores Individuais), escrevi um artigo elogiando a coragem dela e falando dos “batalhadores”. Ela me ligou para pedir licen�a para usar o termo os “batalhadores”. A Dilma tinha essa cabe�a e me disse: “Vou criar minist�rio, voc� aceita?” Eu disse: “Na hora. � a bandeira da minha vida. N�o estou fazendo nada aqui”. Ent�o, n�o foi acordo partid�rio, do PSD com o PT. Foi um convite da cota pessoal dela, me chamando, pela minha experi�ncia de vida. E foi assim que implementamos o minist�rio do verbo, n�o da verba: fazia a articula��o das a��es de governo, sob o peso da presid�ncia. E avan�amos muito. A� ela ganhou reelei��o. Eu continuei ministro, mas veio o Joaquim Levy representando os bancos, mandando enxugar a estrutura do governo. Fui para o Sebrae para l� continuar a desenvolver o trabalho, assumi a coordena��o do Bem Mais Simples para fazer todo o processo da desburocratiza��o. Um dos produtos gerados foi a identidade civil nacional (traz o t�tulo de eleitor j� acoplado e poder�, futuramente, receber outros documentos, conforme conv�nios sejam firmados com �rg�os p�blicos para a integra��o da base de informa��es). Esse foi um acordo junto com a Justi�a, coordenado por mim, junto ao Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Continuei trabalhando com ela. Quando aconteceu o processo do impeachment, a minha posi��o pessoal com a Dilma n�o teve nenhum arranh�o sequer. Sempre mantive bom relacionamento. E ela deu apoio inestim�vel para essa bandeira.
Que avalia��o o sr. faz do desenrolar do processo de impeachment?
Ele est� rolando ainda. Toda interven��o traum�tica gera efeitos colaterais. Talvez o que estamos vivendo hoje seja um efeito colateral. Era melhor ter esperado para que acontecesse uma sucess�o natural.
� claro que o combate � corrup��o � fundamental, mas num certo sentido a forma de atua��o de �rg�os de controle e do Poder Judici�rio, que criminaliza a pol�tica e a atividade empresarial, est� havendo exagero?
H� exagero da corrup��o. Mais um exagero total, inclusive do montante. Um bilh�o � trocado. E a promiscuidade do relacionamento de empresas e poder. Isso eu j� falava na minha campanha de 1989 quando citava o tri�ngulo de ferro: a estatocracia, o pol�tico � cata de votos e o capitalista nacional que s� tem a lista, pois o capital vai buscar no fundo p�blico, tem reserva de mercado, prote��o. Essa rela��o prom�scua agora veio com toda a for�a. E tem exagero na rea��o. Por outro lado tem o Minist�rio P�blico, o Judici�rio, a pol�cia que vai chegar um ponto que vai ter de entrar em equil�brio. E onde entra em equil�brio? H� uma esp�cie de acordo entre Minist�rio P�blico e a m�dia, l�gico que a m�dia vive da manchete. Se h� exagero do Minist�rio P�blico, a m�dia est� acobertada, porque � um �rg�o oficial que falou. Voc� vai corrigir isso no dia em que o Minist�rio P�blico responder por sucumb�ncia. Ent�o, vai ter de come�ar a ter cuidado na hora de vazar, de fazer, porque se depois n�o comprova, toma um processo na cabe�a. Estamos aos poucos consolidando as nossas institui��es. Mal ou bem a Constitui��o tem sido, como diz o meu amigo Ayres Britto (Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF), o Posto Ipiranga. O que esperamos � que se busque um ponto de equil�brio. Isso � a for�a da democracia. Mas temos muito aprendizado em cima dessa crise.
Esse desalento da popula��o, essa falta de esperan�a pode prejudicar as institui��es democr�ticas?
Temos de partir para a solu��o. Proponho, se eleito presidente, a convoca��o urgente de plebiscito para uma chamada de Constituinte exclusiva para fazer a reforma do sistema pol�tico e eleitoral, com a introdu��o do voto distrital. Isto � reatar a representatividade geograficamente. O voto distrital � majorit�rio. E defendo dois turnos. Com direito de recall da popula��o, pode ser cassado. Entramos no Brasil com uma vis�o nova de desenvolvimento territorial. Essa � a grande mudan�a que vamos fazer no Brasil. Temos tamb�m, antes da reforma tribut�ria, a reforma federativa, que � a reforma fiscal: os recursos arrecadados da sociedade v�m a servi�o carreados para o ente que tem melhor compet�ncia para exerc�-la. Desburocratiza. Permite a economia que � geradora de emprego e renda. Ent�o as Reformas Pol�tica, Tribut�ria e Fiscal andam juntas dentro do princ�pio da descentraliza��o.
Em sua avalia��o, como deve ser o Estado brasileiro?
O povo quer estado. Mas quer em qu�? H� dois grandes princ�pios: o princ�pio da igualdade de oportunidade, que � o estado na educa��o e na sa�de, e da garantia dos direitos do cidad�o, que representa o estado na Justi�a e na seguran�a. Al�m disso, garantir a infraestrutura b�sica para promo��o do desenvolvimento.