S�o Paulo, 24 - O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, pr�-candidato do partido � Presid�ncia, enviou na �ltima quarta-feira um breve comunicado aos integrantes da executiva tucana com tr�s itens relativos � pr�xima reuni�o do grupo em Bras�lia, marcada para ter�a-feira. Entre eles, estava o convite para um "ato comemorativo" dos 30 anos de funda��o da sigla. A ideia, dizem integrantes da c�pula, � fazer um evento discreto e fechado no sal�o de um hotel "s� para a efem�ride n�o passar totalmente em branco".
Por mais que o discurso oficial diga o contr�rio, h� consenso entre tucanos que n�o h� motivo para celebra��es. "� o momento mais dif�cil da hist�ria do partido", reconheceu o deputado Nilson Leit�o (MT), l�der do PSDB na C�mara.
Em outra circunst�ncia, o local escolhido seria o audit�rio Nereu Ramos, na C�mara. Foi l� que, no dia 25 de junho de 1988, os ent�o senadores Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso anunciaram diante de centenas de militantes euf�ricos a cria��o do novo partido, ainda sem nome.
Os l�deres do movimento dissidente do PMDB colocaram em vota��o o nome da legenda. Partido Democr�tico Popular, Partido Social Trabalhista e Partido da Social Democracia Brasileira estavam entre os mais cotados. Ap�s a vit�ria da sigla PSDB, o senador paranaense Jos� Richa, um dos rec�m-filiados, colocou a democracia interna como uma marca da nova legenda, que nascia em um momento de "descren�a popular com os partidos e institui��es".
Trinta anos depois, a cerim�nia fechada no hotel de Bras�lia ocorre no momento de uma nova onda de decep��o popular com partidos e institui��es, que desta vez atingiu em cheio o PSDB. "O momento � ruim para todos os partidos e para a pol�tica em geral. H� uma crise pol�tica sem precedentes", minimizou o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB.
Pr�-candidato ao Planalto, Alckmin est� estacionado nas pesquisas de inten��o de voto com n�meros que variam entre 7% e 10%, o pior desempenho de um tucano nesse per�odo desde 1989. O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que presidiu o PSDB, entrou para a hist�ria como o primeiro ex-presidente do partido preso, refor�ando a crise da legenda e dificultando ainda mais o projeto de retomar o poder ap�s 16 anos.
"H� 30 anos, criamos um partido para dar ao Pa�s uma op��o pol�tica � altura de seus desafios. Na Presid�ncia, fizemos o mais bem-sucedido programa de moderniza��o e transforma��o econ�mica da hist�ria do Brasil", disse Alckmin ao Estado. "Agora, precisamos lutar mais, vencer de novo as for�as que emperram o avan�o do Pa�s. O Brasil vai mudar para melhor e, nessa luta, o PSDB tamb�m."
O auge eleitoral do partido ocorreu durante o segundo governo FHC, quando elegeu uma bancada de 99 deputados federais e sete governadores, em 1998, e quase mil prefeitos, em 2000. Embora tenha sido o partido mais vitorioso nas elei��es municipais de 2016, o PSDB tem hoje a segunda menor bancada na C�mara dos Deputados de sua hist�ria, com 49 parlamentares - maior apenas do que a bancada eleita em 1990.
"O PSDB perdeu talvez o seu principal discurso, o discurso �tico. E n�o apenas pelo caso envolvendo A�cio Neves, mas outras lideran�as hist�ricas, como Eduardo Azeredo, que est� preso, e Jos� Serra, que � investigado. At� o presidenci�vel tucano, Geraldo Alckmin, � citado em casos que envolvem corrup��o", avaliou o cientista pol�tico Marco Antonio Teixeira, da Funda��o Get�lio Vargas.
L�deres
A promessa de uma "democracia interna" feita em 1988 n�o se concretizou. Prova disso � a falta de renova��o de lideran�as nacionais e regionais. "Os l�deres ainda s�o os mesmos e est�o velhos. Eles representam o ran�o do partido. Foi uma gera��o boa, mas que n�o se renovou", disse o professor em�rito de Filosofia da USP Jos� Arthur Giannotti.
Teixeira concorda. "Como todo partido, o PSDB n�o se renovou. Nasceu como um movimento de cr�tica � pol�tica que se praticava na �poca, ao fisiologismo do PMDB, e hoje se assemelha muito a ele. Aceita nomes que n�o t�m nenhum compromisso com as bandeiras originais do partido dentro de um pragmatismo calculado para vencer elei��es", afirmou.
O cientista pol�tico Carlos Melo, do Insper, pontuou ainda que o PSDB, em determinado momento, optou por ser apenas oposi��o ao PT, perdeu seu rosto social democrata, sua posi��o progressista nos costumes e se descaracterizou. "Em determinado momento, com o fim do 'malufismo' em S�o Paulo, caminhou por uma extensa avenida que se abriu � direita. Mas, agora, perdeu at� isso para Jair Bolsonaro. N�o � mais direita nem centro-esquerda, como se definiu na funda��o."
Para os especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a crise atual n�o apaga os principais acertos do partido, a maioria econ�micos. "O PSDB implementou no Pa�s um novo padr�o de qualidade de gest�o. Fez isso a partir do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do controle de gastos", avaliou o cientista pol�tico Jos� �lvaro Mois�s, da USP. "Esse legado n�o se quebrou." As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Adriana Ferraz e Pedro Venceslau; colaborou Fabio Leite)