Dizendo-se v�tima de um golpe que impediu sua candidatura ao governo de Minas, o ex-prefeito Marcio Lacerda (sem partido) afirmou que n�o pretende disputar mais nenhuma elei��o ou ocupar cargos pol�ticos. Tr�s dias depois de renunciar ao pleito diante de uma batalha judicial, ele afirmou em entrevista ao Estado de Minas que o governador Fernando Pimentel (PT), um dos respons�veis por sua entrada na pol�tica, “fincou o �ltimo prego no caix�o de sua candidatura” no in�cio deste m�s. Ao outro padrinho, o senador A�cio Neves, creditou o insucesso de sua �ltima investida pol�tica na elei��o para a Prefeitura de Belo Horizonte, em 2016. Lacerda negou que a situa��o que vive hoje tenha semelhan�a com o que ocorreu naquele ano, quando abandonou a candidatura a prefeito do empres�rio Paulo Brant no �ltimo momento, mas disse ter sido uma ‘burrada’ retirar o nome do apadrinhado e, com isso, se tornado vil�o do epis�dio. Lacerda tamb�m falou do apoio a Adalclever Lopes e defendeu o nome de Ciro Gomes (PDT) para presidente da Rep�blica.
O senhor disse ser v�tima de um golpe que retirou sua candidatura ao governo. De quem foi o golpe?
Esse golpe foi da dire��o nacional do PSB fazendo um acordo com o PT, que considero nocivo aos interesses do partido, evitando um poss�vel apoio a Ciro Gomes, e priorizando a reelei��o do governador Paulo C�mara (PSB), em Pernambuco, com a retirada da candidatura da Mar�lia Arraes (PT) ao governo. Sacrificou-se a possibilidade da vit�ria do partido em um estado muito importante, o partido se apequenou, perdeu uma oportunidade de crescer eleitoralmente e no respeito da opini�o p�blica.
A decis�o do PSB foi em um acordo com o PT. Que participa��o acredita que o governador Fernando Pimentel teve nesse processo?
Ele nos convidou para ser o candidato ao Senado meses antes e n�o concordei. Mantiveram esse convite quando houve a interven��o e nunca aceitei essa hip�tese, porque estava h� mais de um ano criticando o desgoverno que temos, seria uma incoer�ncia muito grande de repente passar a ser candidato ao Senado dessa coliga��o dirigida pelo PT. Ele (Pimentel) ent�o passou a trabalhar fortemente na desconstru��o da minha candidatura, usou todo o peso da influ�ncia do PT sobre o PSB para isso. Foi um ator muito importante em reuni�es que ocorreram em Bras�lia, com a presidente do PT, Gleisi Hoffman, e o Carlos Siqueira (presidente do PSB nacional). Pimentel viajou tamb�m a SP para conversar com M�rcio Fran�a (governador de S�o Paulo, do PSB) e tenho uma testemunha que trouxe a informa��o de que ele iria para pregar o �ltimo prego no caix�o da minha candidatura. Essas palavras tr�s dias antes da vinda do presidente Siqueira a BH demonstram que tinha fundamento a informa��o.
Quando o senhor disse que a velha pol�tica o tirou da disputa, o Carlos Siqueira o chamou de inseguro e vacilante. Como lhe responde?
Esse pequeno document�rio (cronologia do golpe) que fizemos foi em resposta a essa deseleg�ncia e a essas mentiras que ele falou. Quem esteve o tempo todo inseguro e vacilante foi ele em rela��o � sua prioridade de salvar a reelei��o do seu conterr�neo Paulo C�mara, em Pernambuco. Ele inclusive me disse por telefone, quando a crise come�ou, aos gritos, completamente hist�rico, que n�o queria ser responsabilizado no futuro pela derrota de Paulo C�mara. Foi uma decis�o paroquial no sentido de atender a um interesse paroquial e � continuidade de subordina��o ao PT em n�vel nacional.
Quando o PSB retirou sua candidatura, o senhor disse que lutaria at� o fim para mant�-la. Na ter�a-feira desistiu. O que aconteceu?
Ao fazer esse an�ncio, t�nhamos uma avalia��o jur�dica que nos dava muita seguran�a em rela��o a uma vit�ria nos tribunais. Na segunda, tivemos o parecer do procurador eleitoral determinando que nossa conven��o do dia 4 n�o tinha validade. Isso vai a julgamento na segunda-feira no TRE e, naquele exato momento, precisaria bater o martelo sobre a campanha. Tomei a decis�o baseado no conflito entre a necessidade de assumir tantos compromissos, inclusive financeiros, e a instabilidade em que estar�amos em rela��o � continuidade da candidatura. Essa instabilidade se refletia nas pequisa, porque est�vamos estacionados entre 9% e 10% h� algum tempo e os advers�rios crescendo, porque os pr�prios eleitores perguntavam se eu seria candidato mesmo e os mobilizadores n�o teriam argumentos para pedir votos para os eleitores. Ao mesmo tempo, raciocinei que se tivesse que mudar o candidato mais na frente a possibilidade de vit�ria de um substituto seria muito pequena. A substitui��o ocorrendo agora temos chance, como terceira via, de chegar ao segundo turno, ou na pior das hip�teses impedir que a disputa se resolva no primeiro turno em uma disputa de muito baixo n�vel entre os dois principais candidatos.
O sr. era empres�rio e entrou na pol�tica pelas m�os de A�cio Neves e Fernando Pimentel. Depois que rompeu com os dois seus projetos pol�ticos n�o deram certo. Foi pela falta de apoio deles?
L�gico que tive mais sucesso como administrador do que como dirigente partid�rio, mas esse aparente insucesso est� mostrando �s pessoas que a pol�tica � necess�ria � sociedade, mas o modo de fazer pol�tica precisa mudar. O fato de eu n�o ter aceitado ir ao Senado na chapa do PT e, agora, na desist�ncia n�o ter negociado apoio aos candidatos que est�o na lideran�a, mostra que � preciso ter coer�ncia e transpar�ncia no comportamento pol�tico. Acho que tenho sucesso como pol�tico na medida em que estou mostrando para a sociedade que � poss�vel ser um pol�tico s�rio, eu me considero um. E muitos outros s�o e at� injusti�ados, como o Adalclever, para quem estou pedindo voto.
Se seu grupo n�o for para o segundo turno o senhor apoia PT ou PSDB?
Vou debater como pessoa f�sica dentro do grupo de partidos que me apoiaram e tentar uma decis�o de consenso. Se acontecer, ser� uma decis�o de consenso. Espero que o Adalclever esteja no segundo turno e acho que tem muitas condi��es de estar.
O senhor est� sem mandato desde 2016 e agora se desfiliou. Vai continuar na pol�tica? J� sabe para qual partido vai?
Vou at� o programa eleitoral pedir voto para o Adalclever se ele quiser e, depois da elei��o, tenho dito para os companheiros que vou ver que pa�s vamos ter, que Minas vamos ter. N�o pretendo disputar cargo p�blico nem aceitar convite de nomea��o para cargo. Quero continuar sendo um agente de mudan�a como volunt�rio. N�o pretendo mais disputar elei��o.
Adalclever esteve junto com o PT o governo inteiro e defendia a alian�a com Pimentel. S� mudou de posi��o quando perdeu a vaga que teria como candidato ao Senado na chapa petista. Como se apresentar como terceira via?
Isso � uma hist�ria mais antiga, n�o ocorreu em julho, � um desgaste que j� vem de algum tempo antes. A� voc� deve perguntar ao pr�prio Adalclever, como n�o convivi com essa hist�ria anterior, n�o participei dela. Mas a verdade � que, independentemente da presen�a da ex-presidente Dilma na chapa, todos os partidos estavam recebendo sinais de todos os lados no interior afora de que a candidatura Pimentel n�o era vi�vel. Ele estava com a imagem muito dif�cil. Voc� pode ver que a coliga��o dele tem poucos partidos, � muito fr�gil, depende desesperadamente do tempo do PSB, que tem 50 segundos. A �nica �ncora que tem � o apoio do ex-presidente Lula. Sem esse apoio, estaria indo para a rabeira das pesquisas muito rapidamente.
Em 2012, o senhor chegou a posar para foto com um vice do PT e rompeu com o partido no �ltimo momento...
O que aconteceu foi que o PT estava exigindo, para ficar na coliga��o com PSB e PSDB, que houvesse coliga��o para vereadores. O PSB concordava e trabalhei at� o �ltimo minuto para manter aquela coliga��o. Fui a Bras�lia, mandei um avi�o a Fortaleza buscar o Ciro Gomes para n�s dois nos reunirmos com A�cio e o convencermos a aceitar, para manter a uni�o. Fizemos a conven��o e o PSB votou a coliga��o com o PT e o PSDB. Mas ficou pendente a proporcional, que precisava do apoio do PSDB, que n�o veio. Pedi para segurar a situa��o, mas na segunda o presidente do PT na �poca, Roberto Carvalho, foi ao TRE e se registrou candidato a prefeito sem coligar. Ele foi pressionado de todas as formas e fincou o p�, disse que tinha de ter candidatura do PT. Foi ali que foi lan�ado o Patrus. Eu n�o queria isso. O PT rompeu pelo fato de o PSDB n�o ter aceitado a coliga��o de vereadores. Lamentei muito e lutei para manter.
Em 2016, o senhor convidou Paulo Brant para ser candidato a prefeito. Ele saiu da Cenibra para concorrer, mas o senhor o abandonou tamb�m em cima da hora. Qual a diferen�a entre o que aconteceu agora?
O Paulo era o candidato dos sonhos, tinha passado por governos, era um executivo de uma fam�lia conhecida e importante. Eu o convidei a se filiar ao PSB durante o vel�rio do irm�o (Fernando Brant) um ano antes, pedi que mantivesse sigilo e s� coloquei para o senador A�cio essa hip�tese no fim do ano. Ele (A�cio) meio que n�o tomou conhecimento. Continuei tentando trazer partidos. No final, ficamos sozinhos e eu disse que �amos at� o fim. O tempo todo eu dizia ‘Paulo, voc� � perfeito, tem que ter alguma coisa errada. Voc� nunca bateu em mulher, n�o tem um esqueleto no arm�rio? Ele dizia que n�o. Estava t�o encantado com ele, t�o apaixonado pelo perfil, que n�o pesquisamos. Tinha rumores de que ele tinha uma multa com o Banco Central e ele disse que era bobagem, estava pagando. L� pelas 16h (daquele dia), o advogado disse que ele tinha uma condena��o do Banco Central e era neg�cio s�rio. Tinha sido publicado o ac�rd�o no in�cio de julho, a gente nem sabia, mas o advers�rio j�. Esse processo estava enterrado no Banco Central h� anos e anos e foi desenterrado 30 dias depois da minha conversa com A�cio, em Bras�lia. Nesse processo estava inclusive o saudoso A�cio Cunha, pai do A�cio. Deveria ter lan�ado ele, a� ia surgir isso e ele ia ficar queimado. No sentido de proteg�-lo, para ele n�o se exp�r, fizemos essa burrada de substituir na �ltima hora. Foi um consenso: ‘como, com 50 segundos, eleger algu�m com essa condena��o?’. Ele n�o pode ser gerente de banco por nove anos’”. Por uma coincid�ncia extraordin�ria, mais ou menos 30 dias depois de ter dito ao A�cio que gostaria que o candidato fosse Paulo Brant, foi julgado um neg�cio que estava h� anos jogado na gaveta. Foi uma coincid�ncia. Disse isso para o pessoal do PSDB e passamos a borracha. N�o tem nada a ver com o que est� acontecendo agora, foi completamente diferente.
O senhor se arrepende?
Arrependo-me de ter tirado ele (Brant) naquele momento, deveria ter deixado e ia ter que ser substitu�do com mais tempo e reflex�o. A� ele pegou o telefone e ligou para uma r�dio, j� tinha tomado todas, e tive que chamar a imprensa e contar essa hist�ria toda. Eu virei vil�o e o Paulo Brant, o coitadinho.
Nacionalmente vai apoiar algum candidato?
Gostaria de ver Ciro Gomes presidente, apesar da imagem verbal que ele tem, trabalhei com ele dois anos e meio, vejo as propostas e acho que ele est� qualificado para ser um bom presidente e tirar o pa�s deste buraco em que a gente se encontra.