
Salvador – �s 9h20 da �ltima sexta-feira, Etelvino Neto, de 62 anos, organizava informalmente o tr�nsito de ve�culos na min�scula e principal rua de Periperi, um bairro sem maiores atra��es na periferia da capital baiana.
Em mais alguns minutos, o candidato ao governo da Bahia Z� Ronaldo e o prefeito ACM Netto, ambos do DEM, chegariam para uma caminhada de pouco mais de 500 metros na regi�o. Etelvino estava ali havia pelo tr�s horas. Respons�vel pela seguran�a do evento daquela manh� de sol inclemente, ele trabalha com campanhas desde que se entende por gente.
“Voc� pode ter a melhor equipe na internet, mas � no corpo a corpo que a elei��o ganha vida”, afirma o homem, que diz ser contrato pelo DEM para a tarefa de estudar as vias e fazer com que o cortejo tenha come�o, meio e fim.
Na pr�xima sexta-feira, come�a a campanha no r�dio e televis�o. Apesar da for�a das redes sociais, a elei��o presidencial, que vinha se mantendo at� aqui sem maiores novidades, tende a reviravoltas. Primeiro, pela for�a da pol�tica dos programas de TV, que passam a entrar nas casas das pessoas todos os dias.
Depois, porque ser� o per�odo de defini��o do ex-prefeito Fernando Haddad como substituto de Luiz In�cio Lula da Silva na chapa petista. Uma a��o de campanha, por�m, n�o mudar�: a peregrina��o de candidatos atr�s de votos, por mais que o per�odo de r�dio e televis�o seja curto, pouco mais de um m�s at� o primeiro turno, em 7 de outubro.
“O jeito de fazer campanha � o mesmo h� tempos e vai continuar assim. Ou o pol�tico olha no olho do eleitor ou est� perdido, n�o tem marqueteiro que salve”, disse Z� Ronaldo, o candidato ao Pal�cio de Ondina, que tem todas as dificuldades no embate com o petista Rui Costa, governador da Bahia. As pesquisas at� agora mostram que o pol�tico apoiado por Lula no estado pode levar a elei��o ainda no primeiro turno.
A campanha de Ronaldo, entretanto, aposta na mudan�a de cen�rio a partir da entrada da TV na elei��o. Enquanto isso, a equipe do pol�tico aproveita eventos como o da �ltima sexta-feira para garantir imagens para exibir no programa eleitoral.
O mesmo vem sendo feito pelo outros candidatos ao governo e ao Pal�cio do Planalto. Haddad gravou cenas ao lado de militantes logo depois de registrar a candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
DESCR�DITO
As campanhas nas ruas, na TV e nas redes sociais enfrentam um problema comum: o desgaste e a rejei��o dos pol�ticos em todos os estratos eleitorais. A solu��o � t�o complexa que desbanca marqueteiros e assessores de campanha. � basta apenas dar uma r�pida olhada na pesquisa do Instituto Opini�o Pol�tica, encomendada com exclusividade pelo Correio Braziliense e publicada na semana passada.
O levantamento revela que todos os candidatos ao Pal�cio do Buriti t�m percentual de rejei��o acima de 50%. Os percentuais se repetem nas disputas pelo Planalto e no Congresso, neste caso agravada pela imagem negativa ao longo dos tempos – as duas casas legislativas apenas pioram em mat�ria de representa��o e pautas corporativas.
Os n�meros de rejei��o comprovam a dificuldade de engajamento de militantes, fechando portas para a mobiliza��o em caminhadas e carreatas espont�neas a favor de candidatos. Isso sem contar com a viraliza��o de v�deos fakes ou de imagens provocativas a partir das imagens de rua gravadas pelos pol�ticos.
“A elei��o mudou, os pol�ticos est�o desacreditados. Apesar da necessidade do corpo a corpo, tem muita gente que s� faz as coisas em troca de alguma coisa”, avalia o seguran�a Neto, do alto das “n�o sei quantas” campanhas que participou.
Ainda na concentra��o do evento em Periperi, a dona de casa Ana Oliveira, de 31, puxa conversa com a reportagem. “Voc� conhece esse pessoal, n�o �? Meu marido est� desempregado h� tr�s anos, e a� como faz?”.
Ao descobrir que o interlocutor � um rep�rter que n�o tem rela��o com a equipe dos pol�ticos, ela d� de ombros e se perde em meio aos populares. Para uma sexta-feira de manh�, havia um n�mero razo�vel de mulheres e homens – cerca de 300 pessoas – convocados por quatro candidatos a deputado federal e estadual.
Desgaste causado por esc�ndalos
A partir da an�lise comparativa entre as elei��es brasileiras e norte-americanas, o cientista pol�tico Lucas de Arag�o avalia que artificialidade dos engajamentos daqui est� ligada ao desgaste provocado pelos esc�ndalos.
“Mas n�o d� para culpar todos os pol�ticos e marqueteiros pela dificuldade de voos maiores do pol�tico. A rejei��o da classe � geral”, afirma.
“O engajamento nos EUA tanto dos democratas quanto dos republicanos � algo que estamos distantes. Dificilmente, chegaremos a um envolvimento dos eleitores como o conquistado por Barack Obama nas redes sociais durante as duas campanhas do democrata.”
Segundo Arag�o, a constru��o do pol�tico ocorre de maneira tradicional, a partir de boas avalia��es da popula��o e escolhas corretas dos partidos. N�o � � toa que o �ndice de renova��o do Congresso deve ser alto – h� poucas op��es para o eleitor.
A campanha fica t�o manjada em determinados momentos que at� parece f�cil prever o pr�ximo lance de um marqueteiro. Vide o caso do tucano Geraldo Alckmin, que passou a andar de m�os dadas com a mulher, dona Lu.
Ou mesmo a aposta de risco dos petistas em inflar a candidatura de Haddad com pouco mais de um m�s de programa eleitoral no r�dio e na TV. A �nica aposta dos pol�ticos � que, com todas as novas regras eleitorais – incluindo a proibi��o de financiamento privado – alguma surpresa apare�a no dia da contagem de votos.
� a estrat�gia de se agarrar ao imponder�vel.