
Discursos como o do candidato do PSL � Presid�ncia da Rep�blica, Jair Bolsonaro (RJ), sobre direitos humanos podem representar "um perigo" para certas parcelas da popula��o no curto prazo e para "o Pa�s todo" no longo prazo. O alerta � de Zeid Al Hussein, alto comiss�rio da ONU para Direitos Humanos. Ele deixa seu cargo no final desta semana e ser� substitu�do pela chilena Michelle Bachelet.
Em sua �ltima coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 29, em Genebra, o jordaniano respondeu a uma pergunta da reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" sobre como ele via a popularidade do discurso adotado por Jair Bolsonaro. Para Zeid, o "instrumento" usado para ver o avan�o de tais posi��es � "simples". "Quando as pessoas est�o ansiosas, quando existem incertezas econ�micas, globais ou n�o, por conta da crise nas commodities nos �ltimos anos, ao dar uma resposta simplista e tocando nas emo��es naturais das pessoas - e talvez olhando para uma lideran�a mais forte, firme - � uma combina��o que � bastante poderosa", disse Zeid.
"O perigo � que isso venha �s custas de um certo grupo no curto prazo e, no longo prazo, de todo o pa�s", afirmou. "Temos de ser mais conscientes de exemplos hist�ricos. N�o � para dizer que o progresso humano foi f�cil", disse. "Eu confesso que, de muitas maneiras, n�o entendo o pensamento conservador. Se apenas escut�ssemos a isso, talvez alguns de n�s ainda estiv�ssemos em cavernas", afirmou. "O progresso ocorreu porque estipulamos que todos devem ter direitos iguais", disse.
Zeid, filho do pr�ncipe jordaniano Ra'ad bin Zeid, tamb�m destacou a disparidade social na Am�rica Latina. Segundo ele, as "enormes diferen�as de riqueza e poder das elites latino-americanas e as popula��es ind�genas e outras" s�o preocupantes. Para ele, essa realidade "deve fazer parte completamente das consci�ncias de todos os atores pol�ticos".
ONU "n�o serve para nada"
Bolsonaro chegou a mencionar que, se eleito, deixaria a Organiza��o das Na��es Unidas, recuando dias depois e afirmando que sairia apenas do Conselho de Direitos Humanos da entidade. "N�o serve para nada essa institui��o", disse Bolsonaro.
Em julho, durante uma entrevista no programa Roda Vida, Bolsonaro defendeu a ditadura militar (1964-1985) e disse que, se eleito, n�o vai abrir os arquivos do regime. "N�o houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na �poca foi o Parlamento. Era a regra em vigor", disse Bolsonaro.
O presidenci�vel defendeu ainda as atua��es dos militares em casos de tortura e tamb�m a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015). "Abominamos a tortura, mas naquele momento viv�amos na guerra fria", justificou. Pressionado pelos jornalistas convidados a falar sobre a abertura dos arquivos da ditadura militar, o presidenci�vel disse duvidar que eles ainda existam. "N�o vou abrir nada. Esquece isso a�, vamos pensar daqui pra frente", desconversou.
Ao longo de seu mandato, Zeid foi uma das principais vozes contra movimentos populistas ao redor do mundo, inclusive alertando sobre os "riscos" da escolha de Donald Trump como presidente dos EUA e atacando de forma dura a repress�o do governo de Nicolas Maduro na Venezuela.