O pr�ximo presidente vai encontrar um Pa�s que cresce a taxas baixas e cuja produ��o industrial engatinha. Neste cen�rio, o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Pedro Wongtschowski, avalia que os programas de governo dos presidenci�veis "n�o d�o relev�ncia" para o setor industrial.
O desempenho do setor no PIB ficou est�vel no ano passado, depois de tr�s anos de queda, segundo dados do IBGE. Mesmo assim, ainda opera 14,1% abaixo da produ��o de maio de 2011. Wongtschowski � cr�tico ao que classificou como "demoniza��o" do BNDES e diz que o "ativismo judici�rio" e a "inseguran�a jur�dica" no Pa�s est� levando a "quase uma criminaliza��o da atividade empresarial". O IEDI elaborou um documento para ser apresentado aos candidatos ao Planalto. A seguir os principais trechos da entrevista:
O IEDI vai encaminhar aos candidatos � Presid�ncia um documento com as diretrizes do setor. Algum candidato apresentou nesta campanha uma proposta para o setor industrial?
Os candidatos n�o d�o relev�ncia nos seus planos � quest�o industrial. O agroneg�cio est� em moda, justificadamente, responde por parte importante do super�vit comercial. No entanto, n�o existe se n�o estiver cercado de ind�stria. Acho que esta relev�ncia, como empregador, pagador de impostos, viabilizador de agroneg�cio e do setor de servi�os, n�o � suficientemente vis�vel para que a opini�o p�blica e os candidatos deem ao setor o peso nas suas campanhas.
Com a crise, investimentos ficaram represados. O setor se compromete a destravar esses investimentos a partir do pr�ximo governo ou depender� do eleito?
A ind�stria vai investir quando existirem tr�s fatores: condi��es macroecon�micas adequadas, demanda e quando n�o houver mais capacidade ociosa significativa no setor. Hoje h� um volume grande de capacidade ociosa na ind�stria por causa da recess�o, n�o existe demanda e as condi��es macroecon�micas n�o s�o favor�veis. Das tr�s (condi��es) necess�rias, nenhuma est� satisfeita. H� ainda o problema de infraestrutura adequada para escoar a produ��o, que tamb�m n�o foi atendido. Caso o cen�rio mude ano que vem, os investimentos v�o retomar. N�o � uma decis�o pol�tica, � uma quest�o de exist�ncia das condi��es objetivas.
O quanto a pol�tica tem de responsabilidade sobre a atual crise?
N�o � diretamente o fator pol�tico que gera incerteza, mas a impossibilidade de um di�logo civilizado entre os Poderes. Um Executivo politicamente enfraquecido perde a sua influ�ncia sobre o Legislativo e, portanto, n�o consegue passar sua agenda. E h� ainda um ativismo judici�rio imenso e uma inseguran�a jur�dica grande demais. Est� havendo no Pa�s quase uma criminaliza��o da atividade empresarial, o que � muito ruim para a economia. O combate � corrup��o tem que ser parte da agenda, mas � diferente da criminaliza��o da atividade empresarial dentro da lei, que � o que est� acontecendo.
A corrup��o tinha como indutor, muitas vezes, o setor empresarial. Como o sr. v� essa rela��o entre o p�blico e o privado?
Parte do setor empresarial fez alian�as esp�rias com parte do empresariado, o que � lament�vel. H� o aspecto moral e �tico envolvido nisso, mas h� um outro aspecto que � o da concorr�ncia desleal, que ainda hoje v�rios setores sofrem.
N�o cabe um mea culpa?
Aqueles que praticaram corrup��o devem ser punidos. N�o cabe um mea culpa generalizado, porque n�o foi uma atua��o generalizada de um conjunto de empres�rios. N�o existe um corpo empresarial unificado: existe a maioria empresarial que cumpre as regras do Pa�s, e uma parte que n�o cumpre. A minha expectativa e desse conjunto de empres�rios que seguem as regras do jogo � que os outros sejam extirpados do processo.
No documento, voc�s defendem novo papel para o BNDES. Qual?
Ele deveria financiar exporta��es, inova��o, investimento de longo prazo em infraestrutura, moderniza��o do setor industrial e pequenas e m�dias empresas. Hoje est�o demonizando a institui��o do BNDES. Ele ficou muito grande, chegou a emprestar R$ 180, 190 bilh�es em um determinado ano, e o PSI (Programa de Sustenta��o de Investimento), que fazia sentido quando foi lan�ado, durou demais. Um BNDES que se concentre nessas atividades � muito �til e necess�rio ao Pa�s. N�o existem ainda condi��es de voc� ter financiamentos de longo prazo compat�veis com investimentos de infraestrutura. Simultaneamente, o mercado de capitais brasileiro � muito subutilizado. Deve-se simplificar as regras para permitir o acesso das empresas ao mercado acion�rio. Uma combina��o entre BNDES, fortalecimento do mercado de capitais e investimento estrangeiro direto vai destravar o investimento.
Alguns candidatos prop�em uma desestatiza��o total da Petrobras. O que o sr. acha disso?
Pessoalmente, temos estatais demais. No entanto, o Estado tem um papel a cumprir. No caso da Petrobr�s, que � uma empresa-s�mbolo, acho que tem sido positivo a Petrobr�s se concentrar num n�mero menor de atividades, explora��o, refino de petr�leo. N�o falaria numa privatiza��o completa num primeiro momento, acho que ela ainda tem um papel importante a cumprir. Em um segundo momento, haver� espa�o para que a sociedade defina qual a configura��o e a estrutura acion�ria adequada para ela.
Os candidatos falam em acabar com subs�dios da ind�stria. O setor sobrevive sem incentivos?
Acho que a ind�stria n�o tem muitos incentivos. A maior parte das ren�ncias fiscais est�o ligadas ao Simples, � Zona Franca de Manaus, � dedu��o de Imposto de Renda, que atinge muito mais pessoas f�sicas. N�o se pode propriamente falar em subs�dios ao setor industrial. E, quando existem, t�m que ser transit�rios. O �nico incentivo que eu acho justificado � � inova��o, cultura, educa��o. Para a ind�stria, acho que se aplica s� � inova��o.
Alguns empres�rios ensaiaram entrar para a pol�tica neste ano, Fl�vio Rocha e Luciano Huck ensaiaram candidaturas � Presid�ncia. Josu� Gomes foi convidado para ser vice. Eles poderiam representar o novo na pol�tica?
Acho que n�o, empres�rio � um cidad�o como qualquer outro, s� tem experi�ncia de gest�o. Empresas s�o sistemas hierarquizados, autocr�ticos, piramidais, onde tem presidente e, ao final, as decis�es s�o tomadas pela administra��o da companhia. O que a gente viu no passado � a dificuldade do empres�rio de lidar com o sistema pol�tico onde tudo tem que ser negociado, e � leg�timo porque muitas vezes os interesses s�o conflitantes. Talvez por isso a gente veja poucas pessoas com passado empresarial forte se darem bem na pol�tica. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA