As posi��es pol�micas de Jair Bolsonaro (PSL) geraram dois grupos opostos nas redes sociais. Um � formado por advers�rias de sua candidatura, intitulado no Facebook de “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”, que j� tem mais de 2,4 milh�es de nomes e recentemente sofreu ataque de hackers partid�rios do militar que mudaram o nome do grupo para “Mulheres Com Bolsonaro”. Outro � a favor dele e j� criou as p�ginas “Bolsogatas” e a “Musas de Direita”, cada uma com mais de 20 mil seguidores.
O primeiro grupo est� organizando mais de 40 manifesta��es contra Bolsonaro em 19 estados e no Distrito Federal. S� em Minas Gerais, est�o previstos protestos em Belo Horizonte, Juiz de Fora, onde o candidato foi esfaqueado em ato de campanha no �ltimo dia 6, Uberl�ndia e Itajub�. Eleitoralmente, essa situa��o se apresenta em indicadores aparentemente contradit�rios. Se por um lado o �ndice de rejei��o do deputado entre as mulheres passou de 43% em agosto para 50% em setembro, de acordo com o Ibope, por outro, ele tamb�m carrega o maior percentual do voto feminino nesta elei��o – de 20%. Inclusive, esse n�mero aumentou em quatro pontos percentuais se comparado � pesquisa divulgada pelo Ibope em agosto, quando 16% das mulheres o apontavam como melhor candidato. Em segundo lugar est� Fernando Haddad (PT), que subiu 11 pontos percentuais entre agosto e setembro e registra 19% do apoio das mulheres.
Mulheres contr�rias a Jair Bolsonaro argumentam que ele defende posi��es mis�ginas e n�o representa o eleitorado feminino. Dois exemplos trazidos � tona nas redes sociais s�o a condena��o do candidato pelo STF por ter declarado que Maria do Ros�rio (PT) n�o merecia ser estuprada por ser “muito feia” – na qual foi obrigado a pagar R$ 10 mil para ela – e a posi��o do candidato em rela��o � diferen�a salarial entre homens e mulheres. O militar considera que a legisla��o prev� equidade salarial e que o Estado n�o deve interferir na iniciativa privada para corrigir poss�veis diferen�as de remunera��o.
Por outro lado, mulheres favor�veis a Bolsonaro sustentam que pautas levantadas por ele, como a castra��o qu�mica de estupradores, s�o de interesse do eleitorado feminino. H� ainda algumas que discordam da ideia de que ele seja um personagem mis�gino, que defende a “fam�lia brasileira” e se op�e � “ideologia de g�nero.”
* Sob supervis�o de Renato Scapolatempore
Ele, n�o
Maria Goreti, aposentada
Sou contra o que ele defende. N�o � s� em rela��o �s mulheres que ele � indecente e imoral. Ele � um terrorista em rela��o aos negros, aos �ndios, aos homossexuais. N�o respeita a lei, prop�e coisas absurdas, como o fim da CLT e das garantias para os trabalhadores. � desrespeitoso com qualquer coisa.
Lorena Bracarense, estudante
Sou totalmente contra Jair Bolsonaro e milito contra ele nas redes sociais, porque sou contra um candidato que afirma que mulheres devem receber menos e que “deu fraquejada” na hora de fazer uma filha. Ele tinha que ser a �ltima op��o de qualquer mulher no Brasil.
Ana Val�ria, dona de casa
Sou contra porque ele � racista, homof�bico, sexista e � tudo o que eu n�o acredito. � uma pessoa nojenta, arrogante e soberba. E � por isso.
Ele, sim
Efig�nia Salina, dom�stica
Eu n�o votaria nele se tiv�ssemos outro candidato melhor, mas prefiro votar nele do que deixar que outros partidos ganhem. N�o tenho nada contra ningu�m, mas acho quele ainda � a melhor op��o para o Brasil. N�o sei se estou certa, mas votarei em Jair Bolsonaro.
Gisele GoUlv�a, dona de casa
Vou votar nele porque ele � um candidato muito honesto, muito direto no que ele pensa e n�o � de ‘mimimi’, como diz a voz popular. Gosto das propostas dele tamb�m e sou a favor.
Maria Elvira, professora
Sou a favor de Jair Bolsonaro e acredito que o Brasil precisa de uma transforma��o completa. Eu confio e acredito nele. Tenho esperan�a de que vamos conseguir alguma coisa nesse sentido atrav�s dele.
An�lise
De igual para igual
O fato de surgirem grupos pr� e contra Bolsonaro � inerente � democracia. Respeito a liberdade de pensamento e manifesta��o. Decidi votar em Bolsonaro porque entendo que ele � o �nico que tem condi��es de enfrentar as muitas quadrilhas que tomaram conta do pa�s. Ele me tratou de igual para igual. Ouviu minhas considera��es jur�dicas. Abriu m�o de algumas propostas... uma pessoa mis�gina n�o faria isso. Ele respeita mais as mulheres do que muitos dos esquerdistas que conhe�o. Veja, homens e mulheres querem um Brasil livre da domina��o da doutrina��o que tomou conta do pa�s. Homens ou mulheres, somos brasileiros. N�o vejo as pessoas pela cor, pelo sexo, ou pela orienta��o sexual. Temos que pensar na melhor op��o para o Brasil. Penso que essa � a raz�o de as mulheres apoiarem Bolsonaro. N�o vejo uma quest�o de g�nero, mas uma quest�o de necessidade. Em rela��o a Maria do Ros�rio, muito embora seja um tanto quanto grosseira, a fala precisa ser contextualizada. No momento, Bolsonaro estava defendendo as v�timas de estupradores. Ent�o, era ele quem estava defendendo as mulheres, e n�o o contr�rio. Ademais, tecnicamente, ele n�o praticou nenhum tipo de incita��o.
Jana�na Paschoal, advogada e candidata a deputada federal pelo PSL, partido
de Bolsonaro
Macho alfa
Curiosamente, esse tipo de postura machista � que atrai uma parte do eleitorado de Bolsonaro. Vivemos num pa�s bastante machista, onde o sexismo e a hierarquia dada entre homens e mulheres t�m muita for�a e uma parte das pessoas n�o tem muita vergonha em admitir isso. Quando h� um candidato com essas afirma��es, ele traz consigo parte desse eleitorado. As mulheres resistem porque veem que h� s�ria amea�a colocada pela candidatura dele, n�o apenas em quest�o de direitos, mas um recrudescimento de posturas sexistas. Nesse caso, o machismo n�o precisa apenas ser respaldado por leis, regras, mas na viv�ncia cotidiana j� � muito suficiente para reafirmar as hierarquias e para que as mulheres tenham sua vida dificultada. Em rela��o ao apoio de mulheres, � outra coisa. � claro que h� mulheres machistas, que concordam com esse ide�rio. Mas, existem duas coisas importantes: a primeira � que Bolsonaro conseguiu para si essa ideia de “combate � corrup��o” e vemos tanto mulheres, quanto homens acreditando nisso. A segunda � que ele encarna um papel de “macho alfa”, paternalista, que traz um certo conforto para algumas pessoas dentro desse sistema sexista.
Joana Ziller, professora da UFMG, militante feminista e integrante do N�cleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG