
Diante da alta rejei��o dos dois candidatos � Presid�ncia da Rep�blica com mais inten��o de votos, � poss�vel que o Brasil volte a presenciar algo que aconteceu pela �ltima vez 20 anos atr�s: a defini��o do vencedor da disputa logo no primeiro turno. Embora a probabilidade de que isso aconte�a seja considerada baixa pelos analistas, a hip�tese n�o � completamente descartada. A depender da quantidade de votos nulos e brancos e da taxa de absten��o — al�m de uma eventual migra��o de votos na �ltima hora —, o apoio de 36% do eleitorado nas pesquisas de inten��o de voto pode resultar em mais de 50% dos votos v�lidos na elei��o.
Por exemplo, um candidato que chegasse a 36% das inten��es de voto nas pesquisas, que levam em conta nulos e brancos, contaria com cerca de 53 milh�es de votos. Por diversos motivos, nem todos os brasileiros que est�o aptos a votar comparecem de fato �s urnas. Nas elei��es de 2014, o �ndice de absten��o foi de 19,4%. Contando com votos nulos (5,8%) e brancos (3,8%), a porcentagem de eleitores em potencial que n�o participou do pleito foi de 29%.
Caso a mesma porcentagem do eleitorado n�o vote este ano ou prefira abrir m�o da escolha, por meio de votos brancos ou nulos (que, na pr�tica, t�m o mesmo efeito e s�o descartados da contagem), os 53 milh�es, em um universo de 104,6 milh�es que v�o votar, passar�o a corresponder a 50,7% dos votos v�lidos. Esse total garante a vit�ria j� no pr�ximo domingo, j� que, para ser eleito no primeiro turno, o candidato precisa de 50% dos votos v�lidos mais um.
O candidato mais pr�ximo disso, atualmente, � Jair Bolsonaro (PSL). Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, ele contava com 32% das inten��es de voto. Para isso, seria necess�rio atrair quase 4 milh�es de brasileiros at� domingo, o que ainda � visto como improv�vel por especialistas. “Acho dif�cil que aconte�a, mas n�o � imposs�vel. Tem muita gente pedindo o voto �til para tirar o advers�rio do segundo turno. Pode acontecer o efeito de uma corrida de votos para Bolsonaro”, pondera o especialista em direito eleitoral Daniel Falc�o, do Instituto de Direito P�blico (IDP).

Para o cientista pol�tico Leonardo Barreto, da Factual Informa��o e An�lise, as chances de a elei��o presidencial ser decidida de forma definitiva no pr�ximo domingo � de 2%. O cientista pol�tico Murillo Arag�o, da Arko Advice, tamb�m v� chances baixas de um desfecho sem o segundo turno. H� duas semanas, por�m, a consulturia calculava 30% de possibilidade de Bolsonaro vencer de primeira — com vi�s de alta. “Sempre � poss�vel que ocorra uma varia��o expressiva. Mas, por ora, mantenho a aposta de que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad v�o para o segundo turno”, afirmou Arag�o.
Precedentes
As �nicas elei��es presidenciais em que um candidato venceu no primeiro turno foram as de 1994 e em 1998, ambas com Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Os especialistas ressaltam que h� muitas diferen�as entre o quadro atual e aquela situa��o. Em fevereiro de 1994, havia sido aprovado o Plano Real, enquanto o tucano era ministro da Fazenda. Os efeitos come�avam a ser sentidos pela popula��o. N�o por acaso, FHC era o menos rejeitado nas pesquisas. A dois dias da vota��o, apenas 17% dos eleitores o descartavam, segundo o Datafolha. Hoje, 46% dos eleitores dizem que n�o votam de jeito nenhum no capit�o reformado do Ex�rcito. O outro candidato mais competitivo, Fernando Haddad (PT), tem 41% de rejei��o.
O impacto de um candidato que “tirou o Brasil da crise”, em 1994, � concreto, ao contr�rio do que acontece hoje. “Diante daquelas circunst�ncias, depois de uma hiperinfla��o, � compreens�vel que ele tenha conseguido se eleger no primeiro turno. Foi um caso at�pico na hist�ria do pa�s”, explicou o cientista pol�tico S�rgio Pra�a, da Funda��o Getulio Vargas (FGV). Bolsonaro, por outro lado, ainda n�o tem nada de concreto para oferecer. A atua��o dele no Congresso n�o � animadora, com apenas um projeto de lei aprovado em 28 anos de mandato parlamentar. Ele tamb�m n�o tem experi�ncia em nenhum governo, diferentemente de FHC, que era ministro. O que pode levar o candidato do PSL � vit�ria no primeiro turno � a rejei��o ao PT. O rival Haddad sofre com a onda de antipetismo, em um cen�rio repleto de eleitores desiludidos.
Fernando Henrique tinha 48% das inten��es de voto na �ltima pesquisa antes das elei��es de 1994. No fim das contas, foi eleito com 54%, devido �s absten��es e aos votos nulos e brancos. Em 1º de outubro, na pesquisa de boca de urna, ele computava 55% dos votos v�lidos. O segundo colocado, Luiz In�cio Lula da Silva (PT), tinha 28%. Ficou com 27% no fim da apura��o.