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Estado de Minas POL�TICA

Leandro Karnal: 'O impulso do voto � passional, n�o h� l�gica'


postado em 07/10/2018 09:04

O historiador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Leandro Karnal explica o atual cen�rio eleitoral com o argumento de que n�o se escolhe candidatos no Brasil com racionalidade. "As urnas n�o s�o l�gicas, elas n�o respondem com a l�gica nem quando votam � esquerda, � direita ou ao centro", diz. Para ele, "o impulso de voto � passional" e por isso h� uma "relativiza��o de valores". Entre os exemplos, ele cita o cidad�o que conseguiu o Bolsa Fam�lia ou o ProUni e, ent�o, n�o reclama da corrup��o no PT. Ou ainda a relativiza��o "das afirma��es mis�ginas e homof�bicas" de Jair Bolsonaro (PSL) porque o eleitor v� nele a solu��o para a seguran�a.

Karnal lembra que n�o � a primeira vez na hist�ria nacional com momentos de extrema polariza��o e agressividade. A novidade agora � a internet. "Todos consideram sua opini�o t�o v�lida quanto a do cientista pol�tico". E vem da�, segundo ele, o fen�meno das fake news. "Hoje, o que n�s dissolvemos n�o foi s� o crit�rio da verdade. As pessoas, inundadas por informa��es falsas de todos os lados, acreditam que tudo � subjetivo, tudo � uma quest�o de posi��o pol�tica e voc� acredita se quiser."

O historiador ainda comenta as brigas entre fam�lias e amigos por causa das elei��es. Para ele, dores e medos s�o disfar�ados com roupagem de patriotismo ou justi�a social. "O que realmente est�o discutindo duas pessoas que brigam para saber de que lado algu�m est�? Provavelmente n�o � pol�tica."

Como o sr. analisa a polariza��o da sociedade por causa das elei��es?

Temos uma tradi��o de polariza��o no Brasil. Tivemos uma divis�o profunda de 1961 a 1964, at� mais violenta, tocaram fogo no pr�dio da UNE, mataram um estudante. E revivemos essa polariza��o tamb�m na campanha entre Fernando Collor e Lula, em 1989. Mas o Brasil constr�i para si a fantasia de pa�s pac�fico e harm�nico. A novidade agora � a internet, em que todos podem se posicionar e consideram sua opini�o t�o v�lida quanto a do cientista pol�tico. Mas a polariza��o � muito maior na internet do que nas ruas. Tivemos manifesta��es contra e a favor de Bolsonaro e n�o houve atritos.

Mas houve o esfaqueamento de um candidato, h� fam�lias e amigos brigando.

Um atentado mostra que n�s temos um fato concreto, mas j� houve outros na hist�ria do Brasil tamb�m. Na Intentona Integralista, de 1938, os inimigos de Vargas cercaram o pal�cio presidencial, atirando contra a fam�lia dele. Imagina o Temer isolado sendo agredido pelas pessoas? Sobre as fam�lias e amigos, � a vit�ria do nosso narcisismo e do empoderamento da opini�o individual, estimulada pelas redes. Pior: disfar�amos dores sociais e medos com roupagens de patriotismo ou justi�a social. Podemos perguntar: o que realmente est�o discutindo duas pessoas que brigam para saber de que lado algu�m est�? Provavelmente n�o � pol�tica.

Como analisa o voto em Jair Bolsonaro e em Fernando Haddad, l�deres nas pesquisas?

O voto n�o se baseia em argumenta��es racionais. O impulso de voto � passional, ent�o tem a relativiza��o de valores. Se eu obtive o ProUni ou Bolsa Fam�lia, relativizo a �tica e atribuo ao PT essas melhorias, quase que dizendo que os outros tamb�m roubavam e nada fizeram por mim. Da mesma forma, h� uma relativiza��o de afirma��es mis�ginas e homof�bicas de Bolsonaro porque veem nele a seguran�a. O discurso de restaurar a for�a dos homens "de bem" contra bandidos sempre tocou fundo nosso conservadorismo. O voto n�o � um pondera��o de valores, mas uma passionalidade do indiv�duo. Julgar as elei��es a partir de uma equa��o � uma tentativa de analistas. As urnas n�o s�o l�gicas, elas n�o respondem com a l�gica nem quando votam � esquerda, � direita ou ao centro.

Como o sr. v� a prolifera��o das fake news nas elei��es?

Sempre existiu mentira pol�tica, havia panfletos difamat�rios na Revolu��o Francesa e picha��es em Pompeia. A novidade de hoje � a capilariza��o da informa��o, a atomiza��o do acesso a ela. H� duas maneiras de voc� destruir a verdade, ou negando que a conhe�am ou afogando as pessoas em excesso de informa��o. Hoje, o que n�s dissolvemos n�o foi s� o crit�rio da verdade. As pessoas, inundadas por informa��es falsas de todos os lados, acreditam que tudo � subjetivo, tudo � uma quest�o de posi��o pol�tica e voc� acredita se quiser. Estamos confundindo opini�o com argumento. Opini�o � livre, o argumento precisa ser demonstr�vel com dados, poss�veis de serem verificados. Esse � o nosso drama nas elei��es, excesso de informa��es falsas, levando � d�vida sobre a validade de todos os fatos, o que favorece aqueles que t�m algo a esconder.

O sr. tem dito que o problema do Brasil � o eleitorado.

Nenhuma dessas pessoas estar� no poder por golpe de Estado, todas s�o eleitas por uma maioria leg�tima. Ent�o temos que refletir. Eu at� posso fazer um impeachment, mas que impeachment voc� provoca no eleitorado? Se eu tirar um candidato, o mesmo eleitorado dele continua. N�s precisamos de uma educa��o de m�dio e longo prazo para as pessoas votarem menos passionalmente e mais analisando propostas.

Mas como fazer isso?

Isso n�o ser� visto pela minha gera��o. Mas n�s temos experi�ncias. A Coreia do Sul, em 1970, era um pa�s id�ntico ao Brasil nos indicadores socioecon�micos. Hoje � primeiro mundo e o Brasil continua patinando. � um op��o hist�rica: investir na qualidade da educa��o.

Nesse momento crescem movimentos como o Escola Sem Partido, que defendem que n�o haja discuss�o pol�tica nas escolas.

Temos que trabalhar com o contradit�rio e entender que quem pensa diferente n�o � meu inimigo. O grande drama atual � que muita gente est� achando que o que pensa diferente tem que ser eliminado.

Em v�rios pa�ses do mundo, a direita tem crescido, inclusive no Brasil. Por que?

Os sistemas mundiais s�o c�clicos, sist�micos e diab�licos. O que est� em risco n�o � a oscila��o de direita e esquerda. O problema atual � a descren�a na democracia. Os dois candidatos mais bem colocados elogiam ou n�o criticam ditaduras. Um ama a do passado e outro, a de pa�ses vizinhos.

H� risco para a democracia?

Toda democracia est� sempre em perigo. E como lembram muitos autores hoje, o colapso da democracia n�o � mais feito por um golpe ditatorial ou militar, mas pelas urnas. Todos os homens que se encaminharam para um governo autorit�rio foram eleitos.

Como acha que a sociedade vai estar depois das elei��es?

Futuro � �rea complexa para o historiador. Estudamos o que passou. S� tenho desejos: quero que o Brasil melhore e compreenda que a Guerra Fria terminou em 1989 e que o debate esquerda e direita mascara quest�es maiores. Quero um Brasil sem racismo, misoginia e homofobia, com melhor distribui��o de renda e mais �tico. Quero jovens nas escolas e que elas sejam boas. Tenho esperan�a nisso ou n�o levantaria dia ap�s dia. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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