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Estado de Minas POL�TICA

Puxado pelo conservadorismo, Bolsonaro confundiu advers�rios e superou previs�es


07/10/2018 20:51

"Se continuar assim eu ainda vou te enterrar antes do primeiro turno." Foi com esta frase que um seguran�a repreendeu um convalescente Jair Bolsonaro, dez dias depois do atentado a faca que tirou o candidato do PSL da campanha nas ruas nas semanas que antecederam o primeiro turno da elei��o presidencial. Mesmo com melhora gradativa, as pessoas que visitavam o deputado no Hospital Israelita Albert Einstein, em S�o Paulo, asseguravam que ele estava abusando da sorte. Naquela manh� de 18 de setembro tivera um leve aumento de temperatura, mas nos dias anteriores gravou v�deos para redes sociais e atendeu a liga��es de apoiadores e amigos, contrariando as orienta��es da equipe m�dica que o assistia.

O desafio � autoridade - m�dica, neste caso - � uma marca pessoal do presidenci�vel mais bem posicionado nas pesquisas eleitorais no primeiro turno. Ironicamente, o candidato que prega o respeito � ordem se projetou justamente confrontando o status quo militar.

Foi em 1987, quando estava na linha de frente da campanha por melhoria dos soldos, que o pol�tico Bolsonaro come�ou a ser moldado. Tornou-se vereador da cidade do Rio de Janeiro na elei��o seguinte e, posteriormente, atra�do a partidos m�dios como puxador de votos para forma��o de bancada na C�mara dos Deputados. Reconhece sempre que questionado o fato de ter tido atua��o modesta em Bras�lia e de ter feito parte do baixo clero da Casa.

A sorte de Bolsonaro come�ou a mudar, por�m, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. O Minist�rio da Educa��o propunha a formula��o de um plano para discuss�o da identidade de g�nero nas escolas e o Bolsonaro viu a� uma oportunidade para dar sentido a sua atua��o na C�mara. Tornou-se o inimigo n�mero 1 do que chamou de "kit gay" e porta-voz no Plen�rio do conservadorismo crescente em uma parcela da sociedade brasileira.

Nesta �poca, Ana Cl�udia Graf conheceu o trabalho do deputado federal fluminense. "Minha filha estudava em uma escola cat�lica e l� eles estavam come�ando a discutir esta coisa de g�nero", contou ela � reportagem, durante uma abafada manh� de s�bado em frente ao Albert Einstein - no 16� dia de interna��o do capit�o no local.

Ana Cl�udia ajuda a comandar uma rede de apoiadores de Bolsonaro chamada "Ativistas Independentes", que conta com 60 mil seguidores no Facebook e dezenas de grupos de WhatsApp. Ela �, como gosta de ressaltar, parte do ex�rcito de volunt�rios da campanha do capit�o da reserva, embora reconhe�a que n�o concorda com a totalidade das opini�es dele. Quando questionada a dar exemplo de uma posi��o dele com a qual n�o concorda, ela se esquiva e diz que tem de gravar r�pido o v�deo do dia - uma convoca��o a uma carreata no domingo seguinte - e buscar a filha na aula de gin�stica art�stica.

Esta milit�ncia org�nica e, muitas vezes, pouco hierarquizada ajudou a manter em movimento a campanha bolsonarista nas tr�s semanas de interna��o do capit�o. Findada a tr�gua de 72 horas depois do atentado em Juiz de Fora (MG), concorrentes retomaram as cr�ticas a ele ap�s o debate Estad�o/TV Gazeta. Ciro Gomes, candidato do PDT, abriu fogo em entrevista ap�s o encontro dos presidenci�veis no domingo, 9 de setembro, quando disse que a facada havia lhe atingido a barriga, mas que a cabe�a continuava a mesma.

Ainda assim, as campanhas concorrentes demoraram a tra�ar uma linha de atua��o clara contra Bolsonaro. Geraldo Alckmin (PSDB), dono do maior tempo de televis�o e pretenso receptor dos votos do eleitorado conservador em caso de derretimento do apoio ao capit�o, tateou, ensaiou voltar a relacion�-lo � viol�ncia contra mulheres, questionou a experi�ncia administrativa e acabou apelando, nas duas �ltimas semanas, ao voto �til.

Alckmin, por�m, se tornou alvo da cr�tica pesada de apoiadores de Bolsonaro e, principalmente, dos filhos do capit�o. Carlos, vereador no Rio de Janeiro e mais ativo nas redes sociais, dispara diariamente uma s�rie de postagens contra-atacando o tucano, com milhares de compartilhamentos. Fl�vio e Eduardo tamb�m o endossam, mas t�m de cuidar das pr�prias campanhas - o primeiro � candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro e o segundo concorre � reelei��o a deputado federal por S�o Paulo.

Aus�ncia proveitosa

Observadores externos avaliam, no entanto, que o afastamento de Bolsonaro da campanha o fortaleceu, menos pelo argumento da vitimiza��o ap�s o atentado e mais pela aus�ncia dele no debate pol�tico. "Esta justificativa para ele estar ausente contribui para um lado m�tico, que a campanha dele quer passar. Mas, na realidade ele, tem uma fragilidade de pautas muito grande. Quanto mais tempo se der para ele apresentar propostas, mais ele se enrosca, se confunde", opina o cientista pol�tico Roberto Gondo, professor de marketing pol�tico do Mackenzie.

De enrosco e confus�o, ali�s, se alimenta o entorno de Bolsonaro. O vice, General Hamilton Mour�o (PRTB), proferiu cr�ticas ao 13� sal�rio, o que poderia ser um risco para o candidato entre os eleitores mais pobres. Paulo Guedes, o "Posto Ipiranga" da economia, prop�e a recria��o da odiada CPMF. Gustavo Bebianno, presidente do PSL, comanda com ares autorit�rios o partido e tenta controlar at� o acesso ao deputado. Destes, somente o �ltimo n�o levou chamadas p�blicas do capit�o.

Mas nas rela��es privadas, longe das c�meras da imprensa e das redes sociais, Bolsonaro � simp�tico e de trato af�vel. "Ele sempre foi extremamente respeitoso, nunca o vi se alterar com ningu�m", diz a candidata a deputada estadual pelo PSL Daniela Bruzarrosco, que relativiza levantamentos que mostram que � entre as mulheres que Bolsonaro tem maior resist�ncia - perto de 50%, segundo o Ibope e o Datafolha.

O deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), articulador pol�tico de Bolsonaro com pares do Legislativo, desacredita destes n�meros. "Eu n�o acredito em pesquisas", brada. "N�s vamos � ganhar no primeiro turno."


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