Sem tempo de TV, candidato por um partido nanico e v�tima de um atentado com faca no meio da campanha eleitoral. Nenhuma dessas adversidades foi capaz de impedir que Jair Bolsonaro (PSL) se elegesse o 38� presidente da Rep�blica da hist�ria do Brasil neste domingo, 28.
Em seu s�timo mandato consecutivo, o deputado federal bateu Fernando Haddad por uma margem de 55,7% dos votos com 92% das urnas apuradas. A vit�ria quebra a hegemonia de vit�rias do PT e PSDB nas urnas, partidos que desde 1994 dominavam as elei��es para o Pal�cio do Planalto.
Com 13 candidatos, a campanha deste ano come�ou com uma pulveriza��o dos votos, mas as pesquisas mantinham Bolsonaro � frente nos cen�rios sem o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, preso e condenado pela Lava Jato em Curitiba.
Ap�s a decis�o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que negou o registro da candidatura do l�der petista, Bolsonaro assumiu a primeira posi��o corrida presidencial. Os escassos oito segundos de tempo de televis�o n�o foram um problema para o deputado. Nem mesmo os ataques constantes de Geraldo Alckmin (PSDB) por meio de seus mais de cinco minutos de propagandas na TV conseguiram atingir a estrat�gia bem planejada do capit�o reformado na internet. Bolsonaro liderou as inten��es de voto de ponta a ponta.
Sua campanha presidencial - que contou com um tempo mais curto de propaganda eleitoral em 2018 - se transformou completamente ap�s o atentado sofrido em Juiz de Fora, no dia 6 de setembro. Ferido por uma facada de Ad�lio Bispo de Oliveira, Bolsonaro passou por duas cirurgias e ficou tr�s semanas internado no Hospital Albert Einstein, em S�o Paulo.
Na Unidade de Tratamento Intensivo, no entanto, continuou usando sua principal arma de campanha: as redes sociais. Sem poder promover atos de campanha na rua, gravou v�deos, postou fotos e n�o interrompeu a bem sucedida estrat�gia online de campanha.
Deixar de comparecer aos debates na televis�o tamb�m n�o gerou efeitos negativos. Ao contr�rio, o presidente eleito evitou desgastes das discuss�es com advers�rios e assistiu seu �ndice de inten��es de votos subir a cada pesquisa eleitoral. Com 46,03% dos votos v�lidos, quase venceu a elei��o no primeiro turno.
Biografia e trajet�ria no Ex�rcito
Nascido na cidade de Glic�rio, munic�pio do interior de S�o Paulo com 4,8 mil habitantes, Bolsonaro tem seis irm�os e � filho de Olinda Bonturi e Percy Geraldo Bolsonaro. O nome de batismo Jair � uma homenagem ao jogador Jair da Rosa Pinto, meia que atuou pelo Palmeiras e pela sele��o brasileira nos anos 50.
O presidente eleito entrou na carreira militar ao passar no concurso da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), no ano de 1974, com 19 anos. Depois da forma��o como oficial, Bolsonaro fez o curso de paraquedismo militar e deixou a Academia.
De l�, foi para o Rio de Janeiro, onde fez o curso de forma��o em educa��o f�sica do Ex�rcito e participou do 8� Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, entre 1983 e 1986.
Foi nesta �poca que o futuro pol�tico de Bolsonaro come�ou a se desenhar. Em 86, o ent�o capit�o protestou contra o valor dos sal�rios dos cadetes da Aman em um artigo na revista Veja. A publica��o do artigo levou o militar � pris�o por 15 dias, porque teria infringido o regulamento disciplinar.
Com o protesto, Bolsonaro ganhou simpatia das esposas dos oficiais e do baixo clero do Ex�rcito. J� em 87, o capit�o se viu encurralado depois que a mesma revista Veja divulgou um suposto plano em que o militar e um colega planejavam explodir bombas em unidades militares.
Bolsonaro e F�bio Passos faziam parte da Escola Superior de Aperfei�oamento de Oficiais (ESAO) e tinham diverg�ncias com o comando do Ex�rcito. Quando a revista publicou a mat�ria, com o t�tulo de "P�r bomba nos quart�is, um plano na ESAO", no dia 25 de outubro de 1987, os militares foram convocados a dar explica��es, mas negaram participar do plano, assim como o contato com a revista.
Na edi��o seguinte, a revista publicou uma reportagem que mostrava um suposto desenho de onde as bombas seriam detonadas. Os croquis teriam sido desenhados por Bolsonaro. Depois dessa mat�ria, foi aberta uma sindic�ncia na Escola, que se desenrolou em um Conselho de Justifica��o e em julgamento no Superior Tribunal Militar.
Depois de meses de investiga��o, Bolsonaro saiu inocentado. N�o estava claro, mesmo depois de quatro exames grafot�cnicos, que os desenhos eram do punho do militar. Dois exames indicaram que era imposs�vel determinar a autoria e outros dois confirmaram como do punho de Bolsonaro.
J� era junho de 88 quando o militar foi considerado inocente, por 8 ministros que acompanharam o relator, dentro de um colegiado de 13. Seis meses depois, o capit�o vai para a reserva e se elege como vereador da cidade do Rio de Janeiro, pelo Partido Democrata Crist�o (PDC), com 11.062 votos. Na �poca, o pol�tico buscava representar as causas das fam�lias de militares.
Atividade parlamentar em Bras�lia
Depois de Fernando Collor ser eleito na elei��o de 1989, a primeira presidencial com voto direto depois da ditadura militar, os eleitores voltaram �s urnas em 1990 para escolher os parlamentares e governadores. Entre os 514 deputados, Jair Bolsonaro foi eleito - ainda pelo PDC - com 67.041 votos, pelo Rio de Janeiro.
Durante o processo de impeachment de Fernando Collor, Bolsonaro votou contra o presidente, assim como 441 deputados. Em 1993, trocou pela primeira vez de partido, uma pr�tica que se tornaria comum em sua carreira pol�tica. O capit�o reformado foi para o Partido Progressista Reformador (PPR), que era uma fus�o do PDC e do Partido Democr�tico Social (PDS).
Nas elei��es de 2018, Bolsonaro foi o candidato que mais trocou de partido: atualmente, est� na nona sigla diferente (PDC, 1989-1993; PP, 1993; PPR, 1993-1995; PPB, 1995-2003; PTB, 2003-2005; PFL, 2005; PP, 2005-2016; PSC, 2016-2018; PSL, 2018-). Impulsionado pela popularidade do presidente eleito, o atual partido saiu de 8 para 52 deputados federais e dever� ser uma das principais for�as do Congresso Nacional na pr�xima legislatura.
Pol�micas
As primeiras pol�micas do candidato come�aram ainda no seu primeiro mandato. Em discurso no dia 24 de junho de 1993, o pol�tico defendeu a volta de um regime de exce��o com tempo determinado e o fechamento do poder legislativo.
Na �poca, o discurso rendeu diversas cr�ticas de outros parlamentares e do ent�o presidente da C�mara, Inoc�ncio Oliveira (PFL), que pediu a abertura de um processo contra o deputado.
Apesar das cr�ticas, Bolsonaro tamb�m recebeu apoios, que se transformam em votos nas elei��es do ano seguinte.
Em 1994, os votos recebidos pelo ex-capit�o aumentaram. Bolsonaro foi reeleito para a C�mara com 111.927. No primeiro ano da nova legislatura, trocou de partido mais uma vez: foi para o PPB.
Em 1998, Bolsonaro defendeu que os sequestradores do empres�rio Ab�lio Diniz, presos e condenados no Brasil, deveriam ser torturados antes de sofrer pena de morte.
Apesar das rea��es do presidente da Rep�blica, da C�mara, e de outros parlamentares, Bolsonaro n�o respondeu a processo por quebra de decoro.
No m�s seguinte, o pol�tico deu mais uma declara��o pol�mica sobre o ex-padre Jos� Ant�nio Monteiro, que havia sido internado com press�o alta em Bras�lia. Jos� Ant�nio Monteiro foi torturado por lutar contra a ditadura pelo PCdoB.
Apesar de ter sido eleito com conselhos do economista liberal Paulo Guedes e reproduzir discursos a favor de controle nas contas p�blicas e de mudan�as nas regras da aposentadoria - medida destacada como priorit�ria pelo seu candidato a vice, general Hamilton Mour�o (PRTB), neste domingo - Bolsonaro votou contra as propostas de reforma da previd�ncia de Fernando Henrique Cardoso e Lula na C�mara dos Deputados.
Na �ltima legislatura, Bolsonaro foi membro titular das comiss�es de Direitos Humanos e Minorias, de Rela��es Exteriores e Defesa Nacional, de Seguran�a P�blica e Combate ao Crime Organizado, e de Educa��o.
Em 2014, no seu mandato anterior, Bolsonaro tamb�m foi titular da comiss�o respons�vel pelo projeto de lei conhecido como estatuto da fam�lia, que definia como uni�o familiar apenas o casamento entre homem e mulher. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Ascens�o pol�tica entre 2014 e as elei��es 2018
O julgamento do mensal�o, a opera��o Lava-Jato e a condu��o econ�mica do governo Dilma Rousseff desgastaram a imagem do Partido dos Trabalhadores. Em 2014, o PT ganhou as elei��es presidenciais com a menor vantagem desde 2002: foram apenas 3,4 milh�es de votos de diferen�a, cerca de 3%.
Naquela elei��o, Bolsonaro recebeu 464.572 votos, conquistando seu s�timo mandato como deputado federal, pelo Estado do Rio de Janeiro.
Com o esfarelamento do governo de Dilma Rousseff p�s-elei��es 2014 e a abertura do processo do impeachment, em 2016, Bolsonaro ganhou mais proje��o. Na vota��o para autorizar ou n�o a abertura do processo contra a presidente, no dia 17 de abril de 2016, o presidente eleito voltou a ser o centro de uma pol�mica.
Ao declarar o voto a favor do afastamento de Dilma, o ent�o deputado homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador na ditadura reconhecido pela Justi�a.
A fala gerou repercuss�es contr�rias da Associa��o de Ju�zes pela Democracia, de partidos como Rede e Psol, e do Instituto Vladimir Herzog.
Da pol�mica fala at� as elei��es de 2018, a popularidade de Bolsonaro s� aumentou. A confirma��o de que seria candidato s� veio em 2016, mas em 2014 Bolsonaro j� dizia que seria o "candidato da direita em 2018".
POL�TICA