Com s�lida forma��o e experi�ncia profissional no mercado financeiro, o pr�ximo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem carreira proeminente no setor, ainda que n�o not�ria. Por isso, houve surpresa entre economistas com a indica��o dele para o cargo hoje ocupado por Ilan Goldfajn. Pr�ximo ao superministro da Economia, Paulo Guedes, Campos Neto � tratado por alguns como “um ilustre desconhecido”. A escolha dele foi divulgada ontem pela equipe de transi��o de governo e, depois, confirmado pelo BC. Atualmente, ele � diretor de Tesouraria do Banco Santander. O pr�ximo na lista de nomea��es, segundo Paulo Guedes, ser� Mansueto Almeida, que continuar� � frente da Secretaria do Tesouro Nacional, tamb�m sob o guarda-chuva do superministro da Economia.
Aos 49 anos, Roberto Campos Neto � visto por muitos analistas como “muito jovem” para assumir um cargo de tamanha responsabilidade. O ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas o considera um tanto quanto “sem bagagem”, ainda que tenha uma carreira de destaque no mercado financeiro. “Ele n�o � propriamente um acad�mico, nem economista de governo ou do BC. � um operador de tesouraria. N�o � algu�m com nome forte no mercado financeiro e, talvez, n�o fosse o esperado para o cargo. Ele � pr�ximo ao Paulo Guedes, por isso a escolha. O Roberto Neto n�o tem a tradi��o de Ilan Goldfajn, mas espero que seja uma aposta acertada”, afirma. A bolsa brasileira estava fechada ontem por conta do feriado, mas em Nova York o nome foi bem recebido: o �ndice que re�ne todos os pap�is de empresas brasileiras subiu 2,33%.
Especialistas acreditam que, embora inusitadas, as indica��es de Bolsonaro t�m sido condizentes com o discurso da campanha. O cientista pol�tico Ivan Ervolino, criador da start-up de monitoramento legislativo SigaLei, explica que a equipe do presidente eleito �, majoritariamente, composta por pessoas novas e talentosas. O mais conhecido � o juiz S�rgio Moro, futuro ministro da Justi�a. “Se pensar friamente, era um juiz de primeira inst�ncia”, diz.
Para Ervolino, o movimento mostra que Bolsonaro quer nomes que n�o estejam atrelados � velha pol�tica. “Ele quer fugir do �bvio. Por isso, trouxe figuras que n�o s�o tarimbadas, mas podem surpreender. D� para avaliar de duas formas: ou Bolsonaro quer renovar o jogo, ou escolheu nomes menos proeminentes para que as institui��es sucumbam ao controle do governo”, analisa.
Professor de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Estadual de Goi�s (UEG), Guilherme Silva Prado lembra que nenhum dos escalados at� agora pertencia ao “primeiro escal�o”, exceto os vindos do Ex�rcito. Ainda assim, acredita que “refrigerar o ambiente poder� fazer com que as decis�es do presidente eleito tenham mais impacto, principalmente quando divergirem da opini�o do petit comit� governamental”.
Dessa maneira, acredita, o mercado pode at� responder negativamente �s movimenta��es. “Mas ningu�m se elege presidente da Rep�blica sendo pouco estrat�gico. Ele (Jair Bolsonaro) � um estrategista. S� precisa lembrar que � interessante ter uma equipe de ponta, por exemplo, para facilitar as negocia��es com o Legislativo. Especialmente diante da aparente dificuldade que se aproxima.”
Linhagem
O pr�ximo presidente do BC descende de uma linhagem de economistas. � neto do ex-ministro e ex-embaixador Roberto Campos, respons�vel pelo Planejamento no governo Castelo Branco e mais tarde senador. O av� do futuro presidente do BC � considerado um dos maiores influenciadores do pensamento liberal no pa�s. Campos Neto ser� sabatinado pela Comiss�o de Assuntos Econ�micos (CAE) do Senado e, para ocupar o cargo, tamb�m precisar� ser aprovado pelo plen�rio. Na Casa, Neto � visto como algu�m com pouca intimidade com o servi�o p�blico, pois fez toda a carreira em institui��es privadas. Com especializa��o em Finan�as pela Universidade da Calif�rnia, em Los Angeles, ele est� no Santander h� 16 anos. Falta-lhe um doutorado em economia, normalmente ostentado por presidentes do BC. Em nota, o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, que chegou a ser convidado pelo novo governo para permanecer � frente da institui��o, informou que deixar� o cargo por motivo pessoais e teceu elogios ao substituto. “Profissional experiente e reconhecido, com ampla vis�o sobre o sistema financeiro e a economia nacional e internacional, Roberto Campos Neto conta com seu apoio e sua confian�a no futuro trabalho � frente do BC”, informou a assessoria de Ilan.
“O presidente Goldfajn adotar� todas as provid�ncias para garantir a melhor transi��o no comando da autoridade monet�ria e, atendendo a pedido do novo governo, permanecer� no cargo at� que o Senado aprecie o nome de Roberto Campos Neto, nos pr�ximos meses”, completou o documento enviado � imprensa.
A desconfian�a que alguns agentes possam ter do indicado ao comando da autoridade monet�ria deve ser suprimida logo no in�cio da gest�o, avalia o economista Aod Cunha, ex-diretor do JP Morgan e ex-secret�rio de Fazenda do Rio Grande do Sul. “Substituir o Ilan n�o seria uma miss�o f�cil para ningu�m”, ponderou.
Para ele, Campos Neto tem as qualifica��es para trabalhar por uma pol�tica que garanta maior concorr�ncia no sistema financeiro, bem como para garantir o poder de compra da moeda. “Para isso, contudo, ser� necess�ria a aprova��o da reforma da Previd�ncia”, alertou.
O presidente do Santander Brasil, S�rgio Rial, elogiou o subordinado. “Roberto Campos Neto � um profissional com s�lida forma��o e profundo conhecimento da �rea econ�mica. Desejamos a ele muito �xito no desempenho de sua nova fun��o, t�o importante para o desenvolvimento do pa�s”, afirmou, em nota.
Carreira
Na �ltima ter�a-feira, Roberto Campos Neto esteve no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Bras�lia, onde est� montado o gabinete de transi��o de governo, e conversou com Paulo Guedes. Na ocasi�o, foi elogiado por integrantes da equipe de Bolsonaro. Pelo menos cinco nomes estavam cotados para a Presid�ncia do BC, entre eles o do atual diretor de Pol�tica Econ�mica da institui��o, Carlos Viana Carvalho. No entanto, Guedes se alinhou mais com a vis�o de Neto, e deve apresent�-lo ao presidente eleito nos pr�ximos dias. Campos Neto come�ou a carreira na d�cada de 1990. Trabalhou no Banco Bozano Simonsen de 1996 a 1999, como operador de derivativos de juros e c�mbio, operador de d�vida externa, operador da �rea de Bolsa de Valores e, por fim, como executivo. No ano seguinte migrou para o Santander, ocupando o cargo de chefe da �rea de renda fixa internacional. Ficou na institui��o de 2000 a 2003 e, em seguida, foi para a gestora Claritas como gerente de carteiras. Ao voltar ao banco espanhol, em 2005, atuou como operador e chefe do setor de trading. Chegou � diretoria em 2010.
Ao contr�rio de Campos Neto, Mansueto Almeida tem larga experi�ncia no setor p�blico. Mestre em Economia pela USP, ele ocupou cargos no Ipea e no Minist�rio da Fazenda. Ocupa o cargo de secret�rio do Tesouro Nacional desde abril deste ano, por indica��o do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
An�lise da not�cia
Guedes no comando
» PAULO SILVA PINTO
A escolha de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central (BC) significa que Paulo Guedes estar� tamb�m no comando da Autoridade Monet�ria, al�m de assumir o futuro Minist�rio da Economia, megaestrutura a juntar tudo o que hoje est� nas pastas da Fazenda, do Planejamento e da Ind�stria e Com�rcio.
Pode parecer natural. E j� foi no passado, quando a Autoridade Monet�ria era subordinada � Fazenda. Desde o governo de Luiz In�cio Lula da Silva, por�m, seu presidente tem status de ministro. Mais: h� um projeto no Congresso, que o futuro governo diz apoiar, estabelecendo autonomia para os dirigintes do BC, com mandatos fixos e n�o coincidentes com o do presidente da Rep�blica.
Se a autonomia vingar, Campos Neto seria o indicado para o cargo? H� d�vidas entre analistas. O curr�culo dele � excelente para um diretor do BC, mas incompleto para a posi��o m�xima da institui��o. N�o basta — ou sequer � necess�rio — ser um bom operador de mercado. � preciso entender cada vari�vel da macroeconomia, incluindo todas as suas complexidades, com �nfase para a pol�tica fiscal. Al�m, disso, deve-se usar a comunica��o de modo preciso para coordenar as expectativas dos agentes econ�micos. Certamente Campos Neto poder� mostrar plena capacidade para essas fun��es. At� l�, espera-se que prove.
Entre as certezas est� a de que o todo poderoso Guedes vai imprimir sua marca no BC. Provavelmente buscar� aumentar a competi��o entre bancos, talvez facilitando a entrada de novos competidores estrangeiros. Mas, de volta ao campo das d�vidas, ele ter� de mostrar que a capacidade de atuar em tantas frentes est� � altura de suas ambi��es.