Na manh� do dia 6 de dezembro, Damares Alves, como de costume, auxiliava seu ent�o chefe, o senador Magno Malta (PR-ES), na condu��o da CPI dos Maus Tratos no Senado. A comiss�o investiga crimes contra crian�as e adolescentes, assunto caro � evang�lica Damares. Ela, no entanto, deixou a sala antes do fim da reuni�o. Quando Malta encerrou as discuss�es, voltou ao gabinete, e encontrou sua assessora dando entrevistas como futura ministra da Mulher, Fam�lia e Direitos Humanos.
Segundo amigos pr�ximos, Damares foi surpreendida pelo convite de Jair Bolsonaro e decidiu aceit�-lo porque entendeu que se tratava de um "chamado divino". A decis�o foi previamente discutida em seus grupos de WhatsApp. Malta sabia do interesse do presidente eleito pela sua assessora, mas levou um susto com o an�ncio. A hist�ria acabou estremecendo a rela��o entre os dois.
Apesar de j� se conhecerem dos corredores da C�mara, foi Malta quem aproximou Bolsonaro de Damares. O senador foi um dos pol�ticos mais pr�ximos do presidente eleito durante a campanha. A assessora costumava acompanhar o chefe em compromissos com o ent�o candidato. E ficou amiga da futura primeira dama, Michelle Bolsonaro, evang�lica como ela. H� quem n�o tenha d�vidas de que a indica��o para o minist�rio foi sugest�o da mulher do presidente. Malta n�o conseguiu um cargo no novo governo.
Assim que seu nome foi anunciado, internautas resgataram v�deos de palestras em igrejas, em que Damares contava que viu Jesus em um p� de goiaba. A hist�ria, contada fora de contexto, levou a uma onda de memes que irritaram o presidente eleito. No Twitter, Bolsonaro disse ser "extremamente vergonhoso debocharem do relato".
A futura ministra acabou esclarecendo que a apari��o havia se dado durante um quase suic�dio, ap�s sofrer sucessivos estupros quando crian�a, cometidos por pastores. Para o grande p�blico, tudo foi uma grande e chocante novidade, mas o assunto fazia parte de suas prega��es pelo Pa�s.
Em v�deos no YouTube, � poss�vel ver uma futura ministra que brada contra a discuss�o de temas relacionados a g�nero nas escolas e diz que a educa��o sexual precisa ser autorizada pelos pais. Mas tamb�m que afirma que "os crist�os sempre acolheram os gays". A ret�rica � simp�tica, eloquente e emocional.
Damares faz apresenta��es did�ticas, com uso de slides. Um deles mostra um material feito pelo Minist�rio da Sa�de sobre preven��o do HIV, com cenas de sexo. A evang�lica afirma que ele foi mandado para escolas, "para crian�as de 10 anos". "Voc�s n�o est�o prestando aten��o ao que est� acontecendo com seus filhos nas escolas brasileiras", dizia aos fi�is, anos antes de livros contra a homofobia, apelidados de "kit gay", se tornarem tema das elei��es.
Procurado, o Minist�rio da Sa�de informou que o material � para adultos e "nunca foi distribu�do �s escolas".
Aborto e gays
"Se a gravidez � um problema que dura s� nove meses, o aborto � um problema que caminha a vida inteira com a mulher", disse Damares, para desespero das feministas, em uma das suas primeiras declara��es como futura ministra da Mulher. E, mais ainda, vai apoiar um projeto que d� direitos ao feto e restringe o acesso ao aborto legal.
A proposta foi vista como uma esp�cie de "bolsa-estupro" para mulheres que decidirem n�o abortar. Por outro lado, pediu semana passada para se reunir com grupos LGBT e se comprometeu em combater a viol�ncia contra os transexuais e sua empregabilidade.
O amigo e deputado federal S�stenes Cavalcanti (DEM-RJ) conta que Damares � admirada no meio evang�lico pela "dedica��o para valorizar a vida, os direitos humanos e conservadores". E � isso que a maioria do povo brasileiro quer, acredita ele. "Ela tem compet�ncia t�cnica e experi�ncia para ser uma ministra em plena sintonia com Bolsonaro."
Damares Regina Alves, de 54 anos, nasceu em Paranagu�, no Paran�, mas se mudou cedo para Sergipe. "Me autodeclaro sergipana por ser o lugar mais lindo do mundo", disse, em mensagem de WhatsApp ao jornal O Estado de S. Paulo. Morou ainda na Bahia e S�o Paulo, acompanhando o pai pastor.
Formou-se professora e advogada. "N�o esquece de colocar na mat�ria que, segundo pesquisas, sou a pastora mais bonita do Brasil, corintiana feliz e convicta."
Em 1999, mudou-se para Bras�lia para trabalhar no gabinete do tio, o deputado e pastor Josu� Bengtson (PTB-PA). Tr�s anos depois de deixar a assessoria, em 2006, o parlamentar foi alvo da Opera��o Sanguessuga, acusado de desviar recursos para compra de ambul�ncias. As a��es prescreveram. At� 2015, quando come�ou a trabalhar com Malta, foi ainda secret�ria parlamentar de cinco deputados da bancada conservadora.
�ndios
Damares � divorciada e adotou uma menina ind�gena, hoje com 20 anos, e quer adotar mais duas crian�as. O abuso na inf�ncia a teria impedido de ter filhos. A garota foi salva do que ela chama de "infantic�dio ind�gena" e que se tornou uma de suas principais causas. Ao conhecer m�es que haviam fugido de aldeias porque discordavam da cultura de matar crian�as com defici�ncias ou doen�as graves, ela resolveu fundar uma ONG sobre o assunto.
"A batalha dela � pela vida. J� recebeu fam�lias ind�genas em casa porque n�o tinham onde ficar", conta a advogada Ma�ra Barreto Miranda, cofundadora da ONG Atini.
As duas lutaram na C�mara pela aprova��o de uma lei para proteger as crian�as ind�genas. Mas um filme sobre o tema, coproduzido pela Atini, foi proibido de ser divulgado pelo Minist�rio P�blico Federal. O �rg�o entendeu que ele leva � discrimina��o do �ndio.
Ao jornal, Damares contou tamb�m que j� est� pensando em programas para preven��o da automutila��o e do suic�dio infantil. "Esse tema n�o teve o olhar dos gestores p�blicos. Os pais est�o desesperados."
Os casos de suic�dios no Brasil t�m crescido na faixa et�ria de 15 a 19 anos. Entre crian�as, os n�meros s�o baixos, com exce��o das ind�genas. "Ningu�m � a favor do infantic�dio ind�gena ou do suic�dio infantil, mas isso n�o � um problema social pela dimens�o. Crian�a sem atendimento m�dico, sim. Tribos que t�m direito � terra e governante que diz que n�o vai demarcar, sim", afirma o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Para ele, a futura ministra n�o pode nortear as pol�ticas p�blicas pelos seus interesses e dramas pessoais.
Segundo o assessor Luiz Carlos Bassuma, que trabalhou com Damares, pesou na decis�o dela a transfer�ncia da Funai para a pasta que vai comandar. "Eu disse a ela: 'voc� n�o buscou isso, n�o pleiteou, n�o pode negar'. � um chamado de natureza espiritual, para cumprir uma miss�o na na��o."
Pela falta de mission�rios evang�licos no Nordeste, Damares se tornou pastora muito jovem. Atuou primeiro na Igreja Quadrangular, da qual seu pai foi fundador, e hoje est� na Igreja Batista da Lagoinha. Ambas s�o neopentecostais. "A igreja evang�lica cresceu demais, am�m, mas o que de fato est� fazendo para mudar a sociedade?", perguntava numa palestrava em 2013. Ela mesma dava a resposta. "Deus est� nos preparando para uma nova fase, que � a transforma��o da sociedade." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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POL�TICA
Damares Alves � conhecida por defender 'direito � vida' e pol�ticas conservadoras
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