
O presidente Jair Bolsonaro confirmou a ida ao encontro anual do F�rum Econ�mico Mundial (WEF, na sigla em ingl�s), no fim do m�s, quando estrear� no principal palco da elite global, em Davos, na Su��a. A expectativa � grande sobre a mensagem que o chefe do Executivo pretende transmitir no evento que re�ne os maiores l�deres e investidores do planeta. Analistas avaliam que ele precisa saber muito bem que recado passar ao p�blico.
Bolsonaro tentar� atrair investidores estrangeiros ao Brasil para decolar seu programa de privatiza��es. Os primeiros dias mostraram que a equipe econ�mica chefiada por Paulo Guedes tem um bom diagn�stico dos problemas do pa�s e inspira confian�a ao mercado.
Temas sens�veis precisar�o ser tratados com cautela, como recomenda a diplomacia. Qualquer sinaliza��o brusca de sa�da do Acordo de Paris, como fez os Estados Unidos, ou sobre a transfer�ncia da embaixada de Jerusal�m para Tel Aviv, em Israel, pode fechar muitas portas para o Brasil, alertam analistas.
Segundo eles, Bolsonaro est� sendo criticado por poss�veis mudan�as nas demarca��es de terras ind�genas e por declara��es sobre a revoga��o do acordo de imigra��o da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU). Eles lembram que o Brasil n�o tem a mesma for�a pol�tica e econ�mica dos Estados Unidos, portanto, n�o d� para querer ditar regras onde o pa�s n�o tem voz muito ativa e por representar uma fatia pequena das exporta��es globais (1,2%).
“Bolsonaro tem duas miss�es em Davos. A primeira � mitigar a imagem ruim que a imprensa internacional, e at� mesmo os conservadores, tem dele. A segunda � atrair investidores e mostrar que o pa�s est� aberto para neg�cios”, explica o consultor Welber Barral, da BMJ Consultores. Ele afirma que tem um cliente republicano norte-americano que considera o brasileiro mais radical do que Donald Trump, presidente dos EUA. “At� o Trump se comportou em Davos”, destaca.
Pol�mica
Para a economista Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos de mercados emergentes da Johns Hopkins University, de Washington, Bolsonaro precisa alinhar seu discurso ao do ministro Paulo Guedes, que agrada ao mercado, e evitar os temas mais pol�micos para n�o sair com as inten��es frustradas do resort nos Alpes su��os. “Como � a primeira apari��o internacional de Bolsonaro, ele precisar� repetir o discurso do Paulo Guedes. Abertura econ�mica � o que interessa”, explica.
Monica alerta que o pessoal do WEF n�o vai querer ouvir o discurso de Ernesto Ara�jo, ministro de Rela��es Exteriores. Todas as aten��es estar�o voltadas para o ministro da Economia. “Guedes � mais seguro e vai falar o que o investidor quer ouvir”, resume.
Na avalia��o de Monica, o mercado vai dar um voto de confian�a por um bom tempo para o novo governo, mas o entorno de Bolsonaro est� gerando d�vidas desnecess�rias, porque h� diferentes grupos de interesses que podem atrapalhar o avan�o da reforma da Previd�ncia e das privatiza��es. “Existe um potencial de isolamento de Paulo Guedes. Haver� embates com esses grupos de apoio, como militares e evang�licos. Mas, se o ministro da Economia conseguir dar continuidade ao ajuste fiscal, fazendo, inicialmente, uma reforma profunda da Previd�ncia e dos bancos p�blicos, poder� estender o clima favor�vel”, aposta.
Reuni�o de l�deres
O F�rum Econ�mico Mundial � uma organiza��o sem fins lucrativos baseada em Genebra, por�m, mais conhecido por suas reuni�es anuais em Davos, Su��a. Re�ne os principais l�deres empresariais e pol�ticos, intelectuais e jornalistas para discutir as quest�es globais mais urgentes, incluindo sa�de e meio ambiente. Foi fundado em 1971 por Klaus M. Schwab, um professor sui�o de administra��o. Al�m das reuni�es, o F�rum produz v�rios relat�rios de pesquisa e engaja seus membros em iniciativas setoriais espec�ficas. Este ano, ser� realizado entre 22 e 25 de janeiro e deve reunir cerca de 250 presidentes e chefes de governo e mais de 1 mil empres�rios.
Chance de aparecer na vitrine global
Entre os pa�ses da Am�rica Latina, o Brasil perdeu o protagonismo no F�rum Econ�mico Mundial desde o fim da gest�o de Luiz In�cio Lula da Silva, que surfou na popularidade em Davos at� a crise financeira global de 2008 e 2009. Para o consultor Welber Barral, da BMJ Consultores, Bolsonaro tem a chance de aproveitar o v�cuo deixado pelo M�xico, que vinha sendo o queridinho nos �ltimos anos, uma vez que o novo presidente, o esquerdista Andr�s Manuel L�pez Obrador, n�o deve chamar muita aten��o. “Neste ano, o alinhamento ideol�gico do ponto de vista econ�mico dos participantes � maior com o Brasil. O pa�s tem a oportunidade de ocupar um espa�o de destaque, se o governo for esperto”, afirma.
S�o esperados em Davos cerca de 250 presidentes e chefes de governo e mais de 1 mil empres�rios e executivos das maiores companhias multinacionais, l�deres de organiza��es internacionais e intelectuais. O p�blico n�o � o mesmo com o qual Bolsonaro est� acostumado. “Esse encontro � muito importante para ele ser visto pelo mundo. Mas vai ser um desafio enorme, porque a equipe ainda est� muito desafinada e Davos � uma vitrine global. Se n�o tomarem cuidado, o tiro pode sair pela culatra. Em vez de atrair os investidores, o presidente e seus ministros podem afugent�-los”, alerta o coordenador de gradua��o em Economia da Funda��o Getulio Vargas de S�o Paulo (FGV-SP), Joelson Sampaio.
Desastre
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, n�o participar� desta vez. O ministro da Economia, Paulo Guedes, est� confirmado, mas h� um temor sobre a participa��o do ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo. Depois do desastroso discurso ideol�gico de posse, que tremeu as bases do Itamaraty, reconhecidamente neutro em sua diplomacia, a torcida dos analistas � para que o chanceler brasileiro n�o discurse a fim de evitar um constrangimento maior.
Para o economista Jos� Luis Oreiro, da Universidade de Bras�lia (UnB), as chances de Bolsonaro dar vexame em Davos s�o grandes, especialmente, se insistir em se aproximar apenas do presidente norte-americano, Donald Trump, e do primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Isso aumenta a hostilidade com a China e com o Mercosul. “O governo mal come�ou e mudou a tradi��o do Itamaraty de ser um centro de concilia��o”, pontua.
Oreiro destaca que Bolsonaro pode ficar sozinho nesse radicalismo, porque, em meio �s tens�es pol�ticas nos Estados Unidos, a possibilidade de o presidente norte-americano sofrer um impeachment n�o est� descartada. Al�m disso, o novo aliado do presidente brasileiro Netanyahu pode ser preso, pois � investigado por dois processos de corrup��o em Israel.