A advogada, professora universit�ria e deputada estadual do PSL Jana�na Concei��o Paschoal, eleita com mais de dois milh�es de votos, disse ao Estado, em entrevista na �ltima segunda, que o senador eleito Fl�vio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, "tem todo o direito � defesa, a entrar com todas as medidas, mas me parece complicado ver uma rea��o parecida com a que foi a do A�cio (Neves) e com a que � a do Lula at� hoje".
Disse, ainda, que "foi um erro" o senador ter concordado com o pedido ao Supremo Tribunal Federal para que suspendesse a investiga��o, pelo Minist�rio P�blico do Rio, concedido em liminar do ministro Luiz Fux. "Foi um erro, porque, ainda que n�o tenha nada errado, isso gerou uma situa��o, um sentimento, 'poxa, por que ele n�o explica logo?'. E � um sentimento leg�timo", explicou.
A deputada tamb�m falou sobre o momento do caso do filho do vice Hamilton Mour�o promovido com o triplo do sal�rio no Banco do Brasil, que j� havia criticado no Twitter. "Fiquei chocada", disse na entrevista. "N�o pela promo��o em si, porque n�o � il�cito, mas porque � incompat�vel com o que a gente quer. Mostra mais permeabilidade do que deveria haver. N�o deveria nem passar pela cabe�a do general."
A parlamentar mais votada para o Legislativo estadual contou ao Estado que viu "muita vaidade, muita disputa de poder" na montagem do novo governo. "Assustador", definiu. Sobre os deputados do PSL e de outros partidos da base que foram recentemente � China, disse, sem especificar nomes, que "esse pessoal est� com palha�ada".
Jana�na Concei��o Paschoal tem 44 anos e � professora do curso de Direito da USP, no momento licenciada. Entrou para a hist�ria, como se sabe, por ter sido um dos advogados que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os outros dois foram Miguel Reale e H�lio Bicudo, este recentemente falecido. Bicudo foi um dos consultados quando a pol�tica partid�ria bateu � porta da advogada. "N�o entre nesse mundo, n�o � para voc�", disse a ela, segundo contou na sala de reuni�es do escrit�rio que divide com duas irm�s igualmente advogadas, na rua Pamplona.
"Ainda tenho d�vida se o mundo pol�tico partid�rio � para mim", afirmou. Com a posse na Assembleia Legislativa marcada para 15 de mar�o, e � uma das anunciadas candidatas � presid�ncia da Casa. "Ser� muito dif�cil ganhar", disse, apontando que vai disputar. Contou, mesmo assim, que no passado fim de semana, o pai, de 65 anos, incomodado com as primeiras semanas do novo governo, perguntou a ela se n�o iria sair do PSL. A deputada foi consultar a legisla��o, o que continua fazendo.
Como � que a sra. est� vendo o cen�rio pol�tico do momento?
Voc� sonhar um pa�s, e ver esses acontecimentos todos. Sabe o que � jogarem um balde de �gua gelada em cima de voc�?
Quais acontecimentos?
Tudo. Investiga��o, den�ncia, que pode ser, pode n�o ser, colegas viajando para China, xingando eleitor na internet. Acho isso tudo t�o surreal, que me pergunto: ser� que eu ajudo mais dentro ou se eu fico fora? Essa d�vida eu confesso que eu tenho.
Qual � o problema com os que foram � China, ou parte deles?
� diferente ser um ativista e ser um parlamentar.
Para quem � o recado?
Para todos. Estou muito preocupada, porque estou observando muitas pessoas eleitas que n�o est�o conseguindo fazer a transi��o entre o ativismo e o cargo.
O sra. j� criticou, na rede social, um deputado que gravou v�deos agressivos ...
Isso n�o pode ocorrer.
O que � que n�o pode ocorrer?
N�o foi uma elei��o como outra qualquer. Foi uma elei��o que veio depois de um sofrimento. E esse pessoal est� com palha�ada. � muito grave. Eu n�o tenho como dizer que n�o estou preocupada.
Quem � esse pessoal que est� com palha�ada?
Se esse pessoal que entrou, todos n�s, n�o mostrar diferen�a, n�o mostrar o comprometimento com o futuro do Pa�s, o resultado catastr�fico que isso pode ter � muito grande.
A sra. fez cr�ticas a epis�dios como os da promo��o do filho do vice-presidente Hamilton Mour�o e as complica��es do senador Fl�vio Bolsonaro.
Eu acho que a gente n�o pode fazer acusa��es precipitadas contra ningu�m. Tem de dar a chance para a pessoa se manifestar. Agora, n�o acho que a gente possa minorar as situa��es.
No caso do senador Fl�vio, o que � que a sra. est� achando?
Ele j� explicou a situa��o dos tais dep�sitos. � fact�vel? � fact�vel. N�o � il�cito. � diferente. Tanto � que o Coaf indicou uma movimenta��o at�pica, n�o necessariamente il�cita.
A sra. criticou o ministro Luiz Fux, do Supremo, por ter dado a liminar em que o senador pedia suspens�o da investiga��o.
A decis�o do ministro est� errada, juridicamente errada. Porque eles, Supremo, acabaram de decidir que, se n�o fosse fato ocorrido no curso do mandato, e inerente ao mandato, n�o ficaria com foro privilegiado.
O que a sra. achou do senador concordar e defender o pedido?
Foi um erro. Porque, ainda que n�o tenha nada errado, isso gerou uma situa��o, um sentimento, "poxa, mas por que n�o explica logo?". E � um sentimento leg�timo.
O que � que est� lhe incomodando especificamente no caso do senador Fl�vio Bolsonaro?
Ele tem todo o direito � defesa, a entrar com todas as medidas, mas me parece complicado ver uma rea��o parecida com a que foi a do A�cio (Neves), com a que � a do Lula at� hoje. Eu n�o endeuso ningu�m. '� s� porque eu sou filho do presidente.' N�o � s�, p�. Teve l� um apontamento.
O que a sra. quer saber, ent�o?
Se tem fundamento ou n�o tem fundamento. O sigilo sobre a investiga��o n�o pode haver. Vamos imaginar que haja alguma coisa errada com o senador. Se isso tivesse aparecido antes da elei��o, ele provavelmente n�o teria sido eleito.
A sra. disse que tamb�m devem ser investigados deputados de outros partidos.
Tem o deputado do PT, que vai ser presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). � um direito da popula��o ter acesso a isso. A minha abordagem �: vamos pegar todo mundo. Se pegar todo mundo, vamos fechar e come�ar de novo.
A diferen�a no caso do senador � que ele � filho do presidente.
N�o estou antecipando culpa de ningu�m. Mas eu n�o gosto deste tom: '� um absurdo', 'N�o vou falar', 'S� vou falar para autoridade'. Isso relembra o passado. Para mim, foi uma coisa muito triste. Quando eu era pequena, tinha a hist�ria de um vereador que pedia dinheiro para funcion�rios. Na minha cabe�a isso era um neg�cio do passado. Essa fala do vice-presidente, 'Temos de ver at� onde � corrup��o, e at� onde � Rachid, rachadinha'. A rachadinha � crime! Ser� que ele falou isso mesmo?
A sra. se manifestou no epis�dio em que o filho do general Hamilton Mour�o, vice-presidente, foi beneficiado com uma promo��o no Banco do Brasil.
Fiquei chocada. N�o pela promo��o em si, porque n�o � il�cito, mas porque � incompat�vel com o que a gente quer. Mostra mais permeabilidade do que deveria haver. N�o deveria nem passar pela cabe�a do general.
Qual � a sua preocupa��o?
Meu temor � que, se come�ar a ter epis�dios de muita permissividade, a gente vai perder for�a.
No caso do filho do general n�o caberia ao presidente Jair Bolsonaro uma manifesta��o?
Eu acho que ele parou, refletiu e decidiu n�o dar uma de capit�o, e dizer: 'Olha, o menino n�o vai ficar no cargo'. Teria sido melhor se o presidente tivesse se posicionado.
No dia da posse, a sra. escreveu no Twitter desejando bom governo e vida longa ao presidente. E tamb�m: 'Desejo muita lealdade por parte dos membros da sua equipe'. Por que a preocupa��o com a lealdade da equipe?
Muita vaidade, muita disputa de poder. Eu vivi um pouco aquilo ali (na montagem do governo). � assustador. Se ele n�o tiver esse grupo leal, n�o a ele, mas aos princ�pios que fizeram toda essa mudan�a, estamos perdidos. Isso me preocupa muito.
Por qu�?
Nas conversas com a equipe, as pessoas me trataram muito bem. O que era presidente do partido e agora � ministro (Gustavo Bebianno, secret�rio-geral da Presid�ncia), com o qual eu tive um excelente trato, ele e o deputado Julian (Lemos, do PSL-PB) me perguntavam muito: 'Voc� � fiel ao Jair Bolsonaro? Ele � o seu l�der?' Eu disse para eles: 'Voc�s querem que eu minta?' Por que uma pergunta dessas para uma pessoa que acabou de conhecer a outra?
O que a sra. respondeu?
Que eu sou fiel ao meu Pa�s, acho que ele gosta do meu Pa�s, vejo nele hoje a pessoa que tem condi��o de fazer frente ao PT. Mas quero que fique claro que eu sou fiel ao Pa�s.
E como eles reagiram?
Disseram que achavam que eu era uma pessoa muito boa. A maneira que eles tinham de me dizer que eu n�o servia muito era me elogiando, e eu n�o sentia que era sincero. 'Voc� � uma pessoa muito boa, muito idealista...'
A sra. j� pressente que pode virar um problema para o governo no curto, m�dio prazo?
Esse fim de semana meu pai me chamou e perguntou: 'Filha, voc� vai se desfiliar?' Eu pensei: 'Ser� que � uma pergunta ou uma ordem?' Eu falei: 'Por que, pai?' Ele disse: 'Por causa dessas coisas todas'. Eu respondi, depois de conferir a legisla��o: 'Pai, a quest�o � a seguinte: se eu me desfilio, eu perco o mandato'.
A sra. n�o pode sair e ficar sem mandato?
N�o mais. A jurisprud�ncia mudou. Mas estou pesquisando.
Isso pouco antes de sua posse, porque n�o est� gostando do filme.
Mas quem � que est� gostando? Eu n�o imaginava esse tipo de problema no n�cleo duro.
Que tipo de problema?
Poss�veis ilicitudes. N�o estava no meu radar. Estou rezando para que esses documentos (do caso Fl�vio) venham, para que mostrem que est� tudo correto. Tem gente que diz que � uma guerra, que n�o pode criticar, que n�o pode nos enfraquecer. Mas isso � PT. J� mostrei que n�o vou deixar de fazer cr�ticas por uma fidelidade pessoal ao presidente. Esse governo foi eleito por causa de um n�cleo duro de valores, e n�o de um n�cleo duro de pessoas. A popula��o votou em valores. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA