
N�cleo da base governista, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, vive uma fase de disputas internas que dividem integrantes da segunda maior bancada da C�mara, a uma semana da elei��o e da posse da nova dire��o da Casa. A divis�o dos cargos de comando na C�mara � o novo foco de atrito, al�m de desaven�as que marcam o relacionamento na bancada desde a campanha eleitoral do ano passado.
H� mais postulantes do que cargos, segundo a divis�o prevista no acordo para dar apoio � reelei��o do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para conseguir a promessa dos 52 votos do PSL, Maia cedeu � dire��o do partido a 2.ª vice-presid�ncia da Mesa Diretora, a Comiss�o de Constitui��o, Justi�a e Cidadania (CCJ), a mais importante da C�mara, e a Comiss�o de Finan�as e Tributa��o (CFT).
As suspeitas envolvendo o deputado estadual e senador eleito Fl�vio Bolsonaro (PSL-RJ) - o nome do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro aparece em relat�rio do Coaf por conta de movimenta��es financeiras consideradas at�picas - tamb�m acirraram as discuss�es e deixaram mais n�tidas as divis�es entre deputados. A avalia��o � que esses rachas, que inclu�ram conversas vazadas cuja autoria estimulou desconfian�a m�tua entre os parlamentares, podem comprometer a base do presidente no Congresso e at� dificultar a tramita��o de projetos de seu interesse.
A presid�ncia da CCJ � a mais disputada, com ao menos quatro pretendentes. A advogada Bia Kicis (PRP-DF), cuja filia��o est� "prometida" ao PSL; o deputado Coronel Tadeu (SP), ex-policial militar do Batalh�o de Choque; o delegado da Pol�cia Federal Marcelo Freitas (MG); e o advogado Felipe Francischini (PR), filho do ex-delegado da PF e ex-l�der do PSL Fernando Francischini. Os j� filiados ao PSL est�o insatisfeitos com a candidatura pr�via de Bia Kicis. Argumentam que ela n�o poderia ter uma fun��o de destaque por n�o estar no partido ainda, embora sua indica��o seja defendida por membros da c�pula do partido. A jornalista Joice Hasselmann (SP) tamb�m deve disputar uma posi��o de destaque, que pode ser a presid�ncia da Comiss�o de Finan�as ou a vice-lideran�a do partido na Casa.
Outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) - que j� se referiu ao baixo clero do partido como "favelados" - deseja manter influ�ncia sobre a pol�tica externa e articula, segundo aliados, sua candidatura � presid�ncia da Comiss�o de Rela��es Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN).
H� preocupa��o com uma poss�vel postula��o do deputado Coronel Chris�stomo (RO) � 2.ª vice-presid�ncia da C�mara. A vaga estaria reservada ao presidente nacional do partido, deputado Luciano Bivar (PE), que anunciou o acordo com Maia sem consultar o restante da bancada. Uma candidatura avulsa de Chris�stomo pode criar mais atritos no PSL e amea�ar o poder do grupo de Bivar, porque, com vota��o secreta, poderia receber votos de opositores e advers�rios para emplacar uma derrota ao governo.
Chapa �nica
Como a bancada n�o se organizou ainda para decidir quais ser�o seus representantes, h� quem espere que Bivar tenha a palavra final, escalando os nomes, e h� quem defenda uma reuni�o interna at� o fim da pr�xima semana, para escolher os indicados. A busca de uma chapa �nica, com apenas um nome postulando cada comiss�o, visa a minimizar os conflitos.
Os deputados, sob press�o, n�o garantem nem mesmo honrar o acordo de c�pula com Maia. Reservadamente, dizem que haver� defec��es por causa das particularidades de cada parlamentar e da liberdade para votar. Um deputado estreante lembrou que a dire��o do PSL n�o ter� nem como punir levando � comiss�o de �tica quem n�o votar de acordo com os interesses do governo, porque o voto na elei��o � secreto.
Uma das �ltimas disputas envolveu os deputados da "bancada da China" - grupo que viajou ao pa�s comunista e sofreu fogo amigo, turbinado pelas cr�ticas p�blicas de colegas, dos filhos do presidente e de formadores de opini�o da direita, como o fil�sofo Olavo de Carvalho. Entre os que viajaram, correm amea�as de retaliar a dire��o do partido na elei��o da C�mara, ao n�o entregar votos a Maia, e reclama��es de falta de blindagem por parte de Bolsonaro e de Bivar.
"O PSL � um partido que vai se moldar a partir de agora. Ele se formou com ativistas de toda sorte e pol�ticos vindo de v�rios partidos", diz o deputado federal e senador eleito Major Ol�mpio, presidente do PSL em S�o Paulo, sobre os conflitos internos. Ele admitiu esfor�os para apaziguar a bancada no epis�dio da excurs�o � China.
Cr�ticas
At� a escolha de um deputado do pr�prio PSL para a lideran�a do governo na C�mara causou ci�mes. A bancada n�o foi consultada pelo presidente Jair Bolsonaro. A equipe da Casa Civil, � frente da articula��o pol�tica, defendia que o posto fosse exercido por outra legenda, como forma de incluir mais partidos � base aliada.
Escolhido por Bolsonaro, o deputado de primeiro mandato Major Vitor Hugo (GO) � desafeto do atual l�der da legenda na C�mara, Delegado Waldir (GO). A indisposi��o decorre das elei��es. Vitor Hugo acusou o diret�rio estadual do PSL em Goi�s, comandado por Waldir, de monop�lio de verbas do fundo eleitoral, mas o processo n�o foi aceito.
"O PSL � a pedra fundamental da base do governo. Inclusive, eu postei isso no pol�mico grupo do WhatsApp. Algumas acomoda��es de diverg�ncias v�o acontecer e a gente vai come�ar a legislatura muito unido e efetivamente sendo o n�cleo duro de apoio ao presidente", diz o l�der do governo.
H� ainda a forma��o dos grupos regionais. Em S�o Paulo, o deputado Junior Bozella, com base no litoral sul do Estado, � uma esp�cie de representante dos paulistas, enquanto o delegado da PF Fel�cio Later�a coordena demandas dos parlamentares do Rio.
Bozella chegou a postular a presid�ncia da C�mara, mas recuou. J� o delegado Later�a deve disputar a lideran�a com o delegado Waldir.
Esplanada
Antes mesmo de o governo ser formado, parte da bancada entrou em atrito com o �nico representante do partido no primeiro escal�o, o ministro do Turismo, Marcelo �lvaro Antonio, deputado reeleito por Minas Gerais, por causa de escolhas para sua equipe t�cnica.
O ministro foi pressionado publicamente pelo ator e deputado federal eleito Alexandre Frota (SP) a demitir dois assessores acusados de defender posi��es consideradas de esquerda. "A bancada do PSL tem suas particularidades, s�o 52 cabe�as se encontrando. � natural que exista um tempo para que a afinidade aconte�a", contemporizou o ministro do Turismo.