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Estado de Minas POL�TICA

Para 'guru', Bolsonaro fazia 'jogo' da esquerda


postado em 24/02/2019 07:40

Houve um tempo em que o general de brigada S�rgio Augusto de Avellar Coutinho, um dos mais importantes pensadores militares, afirmava que o presidente Jair Bolsonaro fazia "o jogo das esquerdas". Para ele, a atua��o pol�tica do ent�o capit�o da reserva s� servia "para refor�ar uma campanha de descr�dito das For�as Armadas perante a opini�o p�blica, comprometer a respeitabilidade do militar e quebrar a coes�o interna" do Ex�rcito.

Coutinho vinculava Bolsonaro a "iniciativas desastradas" que podiam desprestigiar a autoridade dos chefes militares e "criar lideran�as informais e hierarquias paralelas". O general - estudioso da guerra revolucion�ria - expressou-se assim quando comandava o Centro de Informa��es do Ex�rcito (CIE), em 1989, em dois Relat�rios Peri�dicos Mensais do �rg�o - os de n.� 05/89 e 09/89.

Nos anos 1980, o general foi um dos primeiros militares a difundir nas For�as Armadas textos que abordavam a influ�ncia do pensador marxista Antonio Gramsci na estrat�gia das esquerdas no Brasil.

Na reserva, tornou-se uma esp�cie de "guru" da direita no Pa�s. Coutinho publicou livros pela Biblioteca do Ex�rcito, como Cenas da Nova Ordem Mundial e A Revolu��o Gramcista no Brasil. Dava palestras no Clube Militar nas quais afirmava que "o marxismo cultural", por meio da cria��o de "um novo senso comum" ancorado no "politicamente correto", criava o "consenso na sociedade". Este era interpretado como um instrumento para a socializa��o do Pa�s, discurso que influenciaria o de Bolsonaro. O general morreu em 2011.

Alvo de suas cr�ticas nos relat�rios confidenciais do CIE, Bolsonaro era ent�o vereador - preparava a primeira candidatura a deputado federal - e ocupava a vice-presid�ncia da Federa��o das Associa��es de Militares da Reserva. A Famir reunia militares inativos e pensionistas e defendia as reivindica��es dos militares.

Coutinho n�o foi o �nico general que, na �poca, criticava Bolsonaro. A atua��o classista do capit�o fez com que tivesse a entrada proibida nos quart�is, ap�s colidir com os ministros do Ex�rcito Le�nidas Pires Gon�alves (1985-1990) e Carlos Tinoco (1990-1992). Julgavam-no inconsequente e intransigente. Ou, nas palavras de Coutinho, algu�m que "procurava semear um clima de disc�rdia, incompreens�o e descr�dito no p�blico interno".

Prontu�rio

Coutinho n�o se limitava a informar fatos nos relat�rios do CIE. Ele tamb�m fazia an�lises, um estilo que contrastava com os dos chefes anteriores do centro, como o general Tamoyo Pereira das Neves. Desde 1987 at� 1990 os generais do CIE, por meio da Se��o 102 (Informa��es) do �rg�o, produziram documentos sobre Bolsonaro para os chefes militares e alimentaram seu prontu�rio no centro: o de n.� 18658-5.

Al�m de vigiar e acompanhar as atividades de Bolsonaro, a intelig�ncia militar tamb�m espalhava suas an�lises e descobertas pelos quart�is. Na �poca de Coutinho, os relat�rios mensais tinham 340 c�pias, que eram distribu�das "at� o n�vel de unidade" com o objetivo de "difundir informa��es relacionadas � defesa interna". Era praticamente o triplo do que era feito no comando do general Tamoyo, seu antecessor.

Assim, os textos de Coutinho sobre Bolsonaro tiveram difus�o ampla na For�a, pois o general acreditava que "o comandante de unidade tem o dever de manter seus homens informados". "A utiliza��o de trechos (do relat�rio confidencial), desde que preservado o sigilo da fonte, poder� ser feita para atingir os objetivos j� citados."

Compostura

No relat�rio de maio de 1989, o texto sobre Bolsonaro (Compostura Militar) dividia a p�gina - a de n�mero 6, com a assinatura de Coutinho no alto - com outro sobre o l�der do PT Luiz In�cio Lula da Silva - condenado e preso na Lava Jato -, que tinha o t�tulo Desinforma��o.

Um texto analisava o "socialismo moreno" do ex-governador Leonel Brizola, a quem acusava de ter usado nos anos 1960 recursos de Cuba para "alimentar movimentos revolucion�rios". Mais adiante, criticava o secret�rio-geral do PCB, Salom�o Malina, por n�o ter verdadeiramente desistido da luta armada para a tomada do poder e ser financiado pela Uni�o Sovi�tica.

Em setembro, Coutinho escreveu que a "permissividade da sociedade brasileira, pacientemente elaborada nos �ltimos 10 anos, atrav�s dos meios de comunica��o social, infiltrados pela esquerda, tem criado uma aceita��o 'sem preconceitos' e 'democr�tica' de tudo: da destrui��o da fam�lia ao desamor � P�tria, da toler�ncia ao crime � complac�ncia aos antigos terroristas". Denunciou ainda "a radicaliza��o do PT" e conclu�a com a acusa��o a Bolsonaro - Fazendo o Jogo das Esquerdas II: Famir. A intelig�ncia do Ex�rcito chegou a se infiltrar na Famir. Em sigilo, pelos menos tr�s colegas de Bolsonaro, da turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras, denunciaram sua atua��o para o CIE.

Seria pelo trabalho silencioso - revelou um general ao Estado - de um dos maiores agentes da hist�ria do CIE, o tenente-coronel Jo�o Noronha Neto, o Doutor Nilo, que come�aria a reconcilia��o da c�pula militar com Bolsonaro, um processo iniciado nos anos 1990 que s� se concluiria no ano passado.

O Estado procurou o Centro de Comunica��es do Ex�rcito e a Secretaria de Comunica��o da Presid�ncia da Rep�blica, mas eles n�o se manifestaram sobre os relat�rios de Coutinho. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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