Coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Armando Castelar considera que o governo Jair Bolsonaro apresentou planos "ambiciosos" para a �rea, mas nestes quase 100 dias vem pecando na articula��o para garantir a aprova��o da principal delas: a reforma da Previd�ncia. Ele v� no di�logo com parlamentares o �nico caminho para garantir que essa pauta passe no Congresso. Ainda assim, segundo Castelar, isso n�o vai garantir um crescimento substancial do Pa�s neste ano - sua estimativa � de uma taxa de, no m�ximo, 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Castelar � um dos participantes do evento - uma parceria entre o Estado e o Ibre - que vai analisar os 100 primeiros dias do governo, no pr�ximo dia 12, no Rio. A seguir os principais trechos da entrevista:
Qual a avalia��o que o sr. faz dos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro?
Na economia, o governo veio com uma agenda ambiciosa, que combina uma parte de natureza fiscal, ligada � redu��o do d�ficit p�blico e do papel do Estado, e garantir que o teto de gastos seja respeitado. E tem toda uma outra agenda que em certo sentido � ainda mais cara ao governo, que � a microecon�mica, de redu��o de Estado, abertura econ�mica e redu��o da carga tribut�ria, mas que n�o pode ser implementada sem outras coisas serem resolvidas porque o ambiente macroecon�mico seria muito ruim para essas reformas poderem funcionar.
O governo est� sendo eficiente em apresentar essa agenda?
Logo quando Bolsonaro deu posse aos ministros, Paulo Guedes (Economia) chegou a mencionar que iria soltar uma reforma a cada dois dias. Ele criou uma secretaria da privatiza��o, falou em privatizar subsidi�rias estatais, em reduzir a participa��o dos bancos p�blicos na economia, em abertura comercial. L� no final de janeiro, come�ou uma atitude muito forte de que a reforma da Previd�ncia deveria ser a grande prioridade deste in�cio de governo. E a� essa agenda sumiu do notici�rio, ficou s� a reforma da Previd�ncia.
Como o sr. avalia a ida e Paulo Guedes � C�mara? Amenizou a dificuldade de articula��o com o Congresso?
N�o conseguir desenvolver uma rela��o positiva com o Congresso compromete a dimens�o do que ser� a reforma. Provavelmente, a mesma coisa pode acontecer com as outras reformas que venham a ser propostas na sequ�ncia, com esse improviso que se fez. Acho que a ida de Guedes � C�mara foi um bom come�o - a gente viu a repercuss�o negativa quando ele desmarcou. Mas tamb�m evidenciou uma desorganiza��o da base. Ningu�m apareceu como defensor da reforma.
O presidente fez uma rodada de conversas com alguns partidos. Depois sinalizou que pode mudar o comando do MEC. � o caminho?
N�o vejo outra forma. � importante o presidente conversar com os partidos. Mas h� a demanda de o presidente se identificar com a reforma. Ele tem dado declara��es d�bias a respeito. N�o est� identificado com a reforma da Previd�ncia.
E como reverter isso?
O que poderia ter mais impacto agora � uma melhora na rela��o entre Legislativo e Executivo. Existe uma boa vontade do Congresso com a reforma da Previd�ncia. A sociedade tem falado muito nos �ltimos anos sobre o assunto. Mas � preciso pacificar esse clima para dar confian�a �s pessoas de que ser� uma reforma significativa, com impacto na vida das pessoas e nas contas p�blicas, e que o Pa�s vai deslanchar da� em diante. As pessoas precisam de confian�a. O que atrapalha � o conflito e a percep��o de que n�o est� claro que a agenda econ�mica � prioridade.
A taxa de desemprego ainda continua alta. Quais sinais o governo deu no sentido de melhorar esse quadro?
O governo n�o deu nenhuma sinaliza��o mais forte, a n�o ser dizer que quer fazer uma nova reforma trabalhista. Na proposta de capitaliza��o que est� sendo colocada, n�o h� nenhuma previs�o de contribui��o previdenci�ria do empregador. Tamb�m estava na proposta da reforma previdenci�ria o item que acaba com o pagamento de multa do INSS do empregado aposentado. Ent�o, tem componentes ali sem rela��o direta com a Previd�ncia e, sim, com o mercado de trabalho. Isso mostra que o governo pretende fazer uma reforma trabalhista reduzindo, principalmente, os encargos.
Isso � suficiente?
S�o medidas de impacto a longo prazo, que n�o v�o resolver o problema imediato da taxa de desemprego elevada. O que vai resolver � um crescimento mais r�pido da economia. Neste sentido, a reforma da Previd�ncia pode ajudar, mas, se ela for desidratada, por essa falta de confian�a, isso afeta o crescimento e a capacidade de baixar a taxa de desemprego. N�o existe a perspectiva de nos pr�ximos tr�s, quatro anos essa taxa de desemprego cair de uma forma muito significativa. Chegaremos em 2020 provavelmente com uma taxa mais baixa, mas n�o muito mais baixa da que a gente tem hoje.
O que fazer para o Pa�s retomar o crescimento?
Ter uma situa��o fiscal que permita aos agentes econ�micos olharem e dizerem: a d�vida p�blica n�o vai explodir. Quando isso for feito, aumenta a confian�a dos investidores porque d� um sinal de que o Pa�s tem planejamento, est� fazendo investimentos, e vai reduzir os juros. A� � que entra a agenda liberal, mas seu impacto n�o vai ser este ano. Neste ano, seria muito mais a quest�o da confian�a, da quest�o fiscal. A perspectiva de recupera��o da economia para este ano depende do clima - e a� eu acho que os conflitos pol�ticos atrapalham muito. A gente v� isso na revis�o para baixo da previs�o de crescimento do PIB. A tend�ncia � que teremos um crescimento na faixa de 1,5% a 2% este ano. N�o vai ser uma melhoria t�o significativa. Ent�o, a gente v� que nesses 100 dias o governo falhou em criar um clima mais favor�vel. O ambiente externo est� favor�vel aos pa�ses emergentes, mas, apesar disso, nesses primeiros 100 dias o governo n�o foi bem sucedido em construir um clima favor�vel para a retomada. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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