O presidente Jair Bolsonaro chega aos cem dias de governo com a marca de ter enviado para o Congresso uma reforma da Previd�ncia e um pacote de medidas de combate � criminalidade, promovendo a flexibiliza��o das regras para a posse de armas e destravado os leil�es de portos e aeroportos. Os tr�s �ltimos s�o suas promessas de campanha. A agenda propositiva, contudo, se contrap�e a uma sucess�o de crises. Levantamento feito pelo Estado indica que, em pouco mais de tr�s meses, Bolsonaro e sua equipe enfrentaram 80 dias de turbul�ncia.
Sem medir as palavras e parecendo agir muitas vezes por impulso, o estilo do presidente preocupa at� mesmo o n�cleo militar do governo. No Legislativo, Bolsonaro n�o conseguiu formar at� agora uma base de sustenta��o para aprovar os projetos de interesse de sua gest�o. Logo na largada, ele comprou uma briga com o Congresso ao carimbar seus antigos colegas na C�mara como representantes da "velha pol�tica", associando o termo � corrup��o e ao toma l�, d� c�.
Pressionado, Bolsonaro indicou que partir� para negocia��es no varejo com partidos, mas a distribui��o de cargos �s siglas que integrarem a base de apoio foi batizada de "banco de talentos". At� mesmo nas fileiras do PSL, partido do presidente, a express�o foi ironizada. "Tucanaram o apadrinhamento", provocou o l�der do PSL no Senado, Major Ol�mpio (SP).
O vice-presidente Hamilton Mour�o afirmou que as crises em torno da articula��o pol�tica estavam precificadas. "O governo sabia que ia encontrar dificuldades por ter montado um esquema diferente de lidar com o Congresso. Decidimos assumir o risco, que era um risco controlado. Os cargos j� est�o � disposi��o, s� que precisam de pessoas t�cnicas", disse. "As caneladas s�o coisa do passado", complementou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Ap�s a queda de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral - ele bateu de frente com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente -, Onyx passou a ser o �nico ministro civil a despachar no Planalto. Os demais s�o militares. A briga come�ou pelo Twitter, microblog que tem dado a maior dor de cabe�a para os bombeiros do governo.
Ap�s perder popularidade - sua aprova��o caiu 15 pontos e foi de 49% para 34%, conforme pesquisa Ibope do dia 20 de mar�o -, Bolsonaro tamb�m decidiu trocar o comando da Secretaria de Comunica��o (Secom) e vai investir em uma campanha publicit�ria para a reforma da Previd�ncia nas m�dias tradicionais, com as quais se indisp�s nos �ltimos tempos. Al�m disso, ele anunciou a cria��o de um Conselho Pol�tico, formado por representantes de partidos, com a miss�o de segurar crises.
O in�cio tumultuado n�o � exclusividade do governo Bolsonaro. O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, hoje preso, enfrentou na largada uma crise provocada por colegas de partido que n�o aceitavam a reforma da Previd�ncia. Lula enviou o texto ao Congresso 120 dias depois de assumir o cargo, gerando muitos protestos no PT e a expuls�o de quadros hist�ricos, como a ex-senadora Helo�sa Helena e a ex-deputada Luciana Genro.
Fernando Collor apresentou o "Plano Collor" um dia depois da posse, confiscou a poupan�a e dep�sitos nos bancos. Fernando Henrique Cardoso tamb�m enfrentou conflitos na sua base aliada nos primeiros cem dias. A ex-presidente Dilma Rousseff escapou das crises nos primeiros cem dias do seu primeiro mandato. Em compensa��o, sete ministros ca�ram no primeiro ano, na chamada "faxina".
Na avalia��o do fil�sofo Roberto Romano, da Unicamp, a gest�o Bolsonaro teve momentos "err�ticos" por causa da falta de coes�o. "N�o h� um cimento que garanta a unidade das ideias, das doutrinas e das pr�ticas que comp�em o governo", afirmou. "N�o � que sejam conflitantes, mas h� interesses que n�o s�o concili�veis."
Para o cientista pol�tico Rodrigo Prando, do Mackenzie, a desenvoltura do vice-presidente � o principal diferencial da gest�o Bolsonaro. "O vice assumiu a liturgia do cargo, d� declara��es que tranquilizam o mercado, a classe pol�tica e at� o n�cleo militar."
Na �rea econ�mica, o governo entregou ao Congresso a reforma da Previd�ncia e bateu o martelo em leil�es de 12 aeroportos regionais, 16 terminais portu�rios e o trecho da Ferrovia Norte-Sul, com investimentos previstos de quase R$ 7 bilh�es nos pr�ximos 30 anos. Com a queda das expectativas de crescimento do PIB para este ano, a equipe econ�mica prepara um pacote de medidas para aumentar a produtividade, o emprego e a atividade econ�mica.
Viagens
�s v�speras de completar cem dias, Bolsonaro j� fez viagens a Davos, na Su��a, a Washington, a Santiago e a Tel-Aviv. Na Casa Branca, ele acertou com Donald Trump uma proposta de acordo para o uso comercial do Centro de Lan�amentos de Alc�ntara.
Bolsonaro ainda saiu dos EUA com a promessa de apoio ao ingresso do Brasil na Organiza��o de Coopera��o para o Desenvolvimento Econ�mico. Mas n�o foi de gra�a: o Pa�s foi obrigado a abrir m�o do "tratamento especial e diferenciado" na Organiza��o Mundial do Com�rcio e dispensou os turistas americanos de visto, sem contrapartida.
O Planalto prepara uma cerim�nia de comemora��o dos cem dias de governo, que deve ser na Quinta-feira (11). Muitas metas divulgadas pela Casa Civil como priorit�rias para esse per�odo, no entanto, n�o sa�ram do papel at� hoje, como o programa "Alfabetiza��o Acima de Tudo". Mesmo assim, todos os ministros foram convocados para bater o bumbo sobre a agenda desse in�cio de gest�o. O titular da Educa��o, Ricardo V�lez Rodr�guez, poder� cair antes disso. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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