Os simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais tensionam o ambiente pol�tico, afastam potenciais aliados e prejudicam a tramita��o das pr�prias pautas do governo, segundo Marco Aur�lio Ruediger, da Diretoria de An�lise de Pol�ticas P�blicas (Dapp) da FGV-Rio, um dos autores de estudo sobre o assunto.
O monitoramento do debate p�blico nas redes feito pela Dapp indica que houve aumento significativo de ataques � chamada "velha pol�tica" em mar�o, logo depois que o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez cr�ticas p�blicas � articula��o pol�tica de Bolsonaro e ao ministro S�rgio Moro.
Para Ruediger, a adjetiva��o da pol�tica como "velha" a criminaliza, e sugere que os parlamentares de centro - potenciais aliados do governo - est�o envolvidos em transa��es nebulosas. O estudo do Dapp mostra ainda que os parlamentares de centro est�o bem menos envolvidos em debates sobre a Previd�ncia nas redes do que os integrantes do PSL, partido de Bolsonaro.
O que a an�lise das redes sociais revela sobre os primeiros cem dias do governo Bolsonaro?
O que salta aos olhos � o tensionamento do processo pol�tico gerado pela utiliza��o das redes sociais pelos apoiadores do governo, principalmente no campo mais � direita. Eles ainda reverberam essa no��o da campanha eleitoral do "n�s contra eles", da criminaliza��o da pol�tica. Qualquer negocia��o � vista como algo nocivo, quando deveria ser o contr�rio. Sem a pol�tica s� existe a guerra. Quando as matilhas nas redes atacam determinados personagens que s�o chave nos processos pol�ticos, isso bloqueia a possibilidade de sucesso da pr�pria pauta que o governo prop�e. A utiliza��o radicalizada das redes inviabiliza o entendimento da pol�tica como um espa�o de cria��o de possibilidades. O risco de as reformas n�o avan�arem � bastante alto.
Como ficam os parlamentares de centro nesse processo?
Pela primeira vez desde setembro percebemos nas redes uma fissura nesse campo da centro-direita, a partir do bloqueio da pol�tica. Tamb�m � fato que o centro usa muito pouco as redes. O que acontece hoje � que o centro est� sem lideran�as, mas isso n�o vai durar para sempre. Em algum momento novas lideran�as v�o se afirmar e esse grupo vai voltar a ter uma pauta pr�pria.
O centro tem pouca presen�a nas redes por causa de uma caracter�stica inerente a elas, que � a de dar mais visibilidade a quem tem posi��es mais extremadas?
Acho que � uma quest�o cultural do centro, que n�o incorporou como um fator preponderante em sua estrat�gia pol�tica participar das redes. � algo que eles ter�o de corrigir. Esse � o seu calcanhar de Aquiles.
Outros partidos pr�ximos ao governo aparecem no estudo da Dapp como menos envolvidos nos debates sobre a Previd�ncia nas redes. Isso significa falta de engajamento na reforma ou simplesmente � reflexo do fato de que esses partidos s�o mesmo menos ativos no Twitter e no Facebook?
S�o menos engajados com a reforma, mas muito menos engajados com o debate da reforma nas redes. S�o dois n�veis que se sobrep�em. Essa reforma n�o est� sendo constru�da em um ambiente de calibragem pol�tica. A direita usa as redes de forma muita habilidosa, mas tamb�m muito confrontacional. Isso acaba gerando ataques a personagens de centro, que reagem a isso tensionando os meios tradicionais. Acabamos tendo um ciclo muito negativo na condu��o da pol�tica em geral. O que vemos no dia a dia das redes � um reflexo da inabilidade pol�tica que o governo vem apresentando.
Como a Dapp mede o tamanho do debate sobre termos como "velha pol�tica" e "nova pol�tica"?
Antes de monitorar os termos nas redes, a Dapp identifica uma tem�tica de estudo e, posteriormente, usa t�cnicas e fundamentos da Lingu�stica para identificar os diferentes termos, express�es, hashtags e constru��es textuais associados � tem�tica que se deseja analisar. No caso, para identificar a discuss�o sobre velha e nova pol�tica, selecionamos v�rias refer�ncias, al�m das express�es "velha pol�tica" e "nova pol�tica", e que tamb�m remontam ao tema, como, por exemplo, "troca de cargos", "oferta de cargos" e "toma l�, d� c�", al�m de subnarrativas contextuais, como negocia��o de emendas, articula��o pol�tica no Congresso, etc.
� poss�vel afirmar que esse debate sobre a chamada "velha pol�tica" afetou as discuss�es sobre a Previd�ncia? Como?
� um elemento central, porque esse tipo de adjetiva��o, o "velha", d� car�ter de criminaliza��o � pol�tica. Como se a velha pol�tica envolvesse um tr�nsito irregular de favores, quando na verdade � conciliar, � algo normal, que n�o necessariamente tem algo de errado. Isso joga num c�rner muitos elementos que poderiam estar colaborando para essa reforma. Vira um discurso bipolar: n�s somos os corretos, eles n�o. H� um conflito permanente, e o resultado � a obstru��o das pautas.
Como interpretar os ataques de governistas a integrantes do pr�prio governo?
Acho que os militares est�o dando um show de profissionalismo na gest�o. Os ataques da direita olavista a eles s�o um elemento de perturba��o � boa pol�tica e gest�o profissional, al�m de serem disruptivos e injustificados. Ou seja, nesse sentido, a base nas redes promove um embate totalmente ideologizado, engolfando por vezes o governo e sua pauta, desviando a energia que deveria ser gasta na boa gest�o. Para avan�ar, o governo deveria mudar esse quadro e demarcar limites e distin��o dessa milit�ncia mais radical pela a��o da comunica��o institucional.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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