
O presidente Jair Bolsonaro elogiou a postura do ministro da Educa��o, Abraham Weintraub, de propor a redu��o dos investimentos em cursos de �reas humanas, como filosofia e sociologia, para conseguir priorizar as faculdades que, nas palavras dele, “geram retorno de fato” — como “enfermagem, veterin�ria, engenharia e medicina”. O presidente disse que a ideia do governo � “focar em �reas que gerem retorno imediato ao contribuinte”, direcionando os recursos financeiros para melhorar a qualidade de ensino dessas faculdades.
A proposta de Weintraub foi anunciada quinta e endossada ontem pelo presidente. O ministro fez o an�ncio durante transmiss�o ao vivo pelo Facebook ao lado de Bolsonaro, mas n�o detalhou a din�mica da mudan�a e limitou-se a dizer que os alunos atuais n�o ser�o afetados. Ele disse que a decis�o foi inspirada em medidas semelhantes adotadas no Jap�o, na �rea de educa��o.
“O Jap�o, que � um pa�s que est� tirando dinheiro p�blico do pagador de imposto, de faculdades para a pessoa que j� � muito rica, como, por exemplo, filosofia (sic). Pode estudar filosofia? Pode, com dinheiro pr�prio”, disse o ministro da Educa��o, e mencionou sociologia como outro curso que poderia ter investimento menor.
Em mensagem no Twitter, Jair Bolsonaro foi al�m e incluiu a express�o “humanas” para mostrar que esse direcionamento de gastos pode incluir outras �reas de estudo. “A fun��o do governo � respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta, e depois um of�cio que gere renda para a pessoa e bem-estar para a fam�lia, que melhore a sociedade em sua volta”, escreveu, na rede social.
Para o ex-secret�rio de Seguran�a P�blica e da Paz Social (SSP) do DF Arthur Trindade, formado em filosofia, a repercuss�o do tu�te de Bolsonaro foi negativa. “� uma �rea cient�fica como as outras. O m�todo, a teoria, tudo. Est� presente em todas as universidades do mundo, inclusive nas principais, como Oxford e Harvard”, disse.
Sobre a inspira��o nip�nica na decis�o de Abraham Weitraub, Trindade diz que: “no Jap�o, aconteceu isso durante tr�s anos. O que o ministro n�o disse � que, l�, teve uma rea��o enorme”. Na opini�o do fil�sofo, “o governo tem uma tend�ncia de gest�o contra a intelectualidade”.
Professor de filosofia da Universidade Estadual de Goi�s (UEG), Carlos Saldanha explica que “n�o d� para mensurar o valor de um curso s� pensando no uso pr�tico. Engenheiro constr�i pr�dios, m�dico salva vidas, mas fil�sofos pensam o mundo de forma embasada, para tirar d�vidas e melhorar o pensamento sobre diversos temas”.
Rep�dio
A Sociedade Brasileira de Sociologia criticou as declara��es do presidente, afirmando que, certamente, as �reas de veterin�ria, engenharia, medicina s�o fundamentais para o desenvolvimento social e econ�mico do pa�s. Mas disse que � importante dizer que as �reas de humanas t�m “uma longa trajet�ria na hist�ria do conhecimento, elaborada em v�rias universidades espalhadas em diferentes partes do mundo e s�o igualmente importantes para a constru��o de um pa�s moderno, desenvolvido e mais solid�rio”.
A sociologia, afirma em documento, � parte integrante do conhecimento cient�fico, e os conhecimentos que ela produz est�o baseados em fatos emp�ricos oriundos da realidade social que s�o confrontados com teorias e conceitos. A Sociedade, segue a nota, “n�o pode aceitar a acusa��o sem fundamento, que a sociologia tanto nacional quanto internacional produz ideologias ou coisas semelhantes”.
“A sociologia � uma ci�ncia como as demais que integram esta modalidade espec�fica de conhecimento, apartada de no��es do senso comum. Est� presente em praticamente todos os pa�ses com universidades e fornece contribui��es relevantes nesses lugares”.
Jap�o j� adotou a medida
Em 2015, diversos cursos de ci�ncias sociais e humanas foram cancelados no Jap�o devido a uma recomenda��o do governo, para que as universidades “servissem a �reas que contemplassem as necessidades da sociedade”. Das 60 universidades nacionais que ofereciam cursos nessas disciplinas, 26 cancelaram ou reduziram as mat�rias assim que a decis�o foi tomada.