
Existe a m�xima de que pol�tico desgastado n�o pode aparecer em est�dio de futebol. Em meio � crise provocada pela divulga��o, pelo site The Intercept, de conversas com procuradores da for�a-tarefa da Lava-Jato, o ministro da Justi�a e Seguran�a P�blica, S�rgio Moro, vestiu, na semana passada, a camisa do Flamengo no Man� Garrincha, na partida contra o CSA. Foi aplaudido. Passou no teste de popularidade. Mas a grande prova ainda est� por vir.
Enquanto os di�logos dos chats do Telegram de Moro e de procuradores s�o publicados a conta-gotas pela equipe do jornalista Glenn Greenwald, Moro precisa sobreviver politicamente numa arena ainda mais hostil que o campo de futebol: o Congresso Nacional.
Nesta quarta-feira (19), est� prevista uma sabatina ao ex-juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) do Senado. Moro aceitou um convite para falar sobre a suposta colabora��o indevida ao trabalho dos procuradores de Curitiba.
A audi�ncia foi marcada por sugest�o do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), l�der do governo no Senado, e anunciada pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O l�der ressaltou que a iniciativa de esclarecer os fatos partiu do pr�prio Moro. Mas � certo que esta foi uma op��o pol�tica.
O Senado � considerado um ambiente mais s�brio, diferente da C�mara. L�, o ministro da Justi�a ter� condi��es de argumentar sem tantos constrangimentos. “O Senado � mais ponderado, mais experiente.
O ministro Moro vai se sair bem”, acredita o vice-l�der do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB/DF). Ele ressalta que a iniciativa de participar da audi�ncia foi positiva porque, se Moro n�o se oferecesse para prestar esclarecimentos, poderia ser convocado, o que representaria um constrangimento.
Se tudo correr dentro do script do governo, Moro pode interromper o processo de cria��o de uma CPI para tratar do assunto, que est� sendo chamada de “Vaza-Jato”. Tamb�m est� agendada uma audi�ncia na C�mara dos Deputados, em 26 de junho, um dia depois do julgamento na 2ª Turma do STF que definir� o destino do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
A principal for�a de Moro � a aprova��o popular � Lava-Jato. Por isso, o desempenho dele no Congresso pode definir a pr�pria perman�ncia no governo Bolsonaro, carimbar a nomea��o para o Supremo Tribunal Federal e ainda rejeitar ou n�o a tese de ativismo pol�tico contra Lula no caso da den�ncia do tr�plex do Guaruj�.
Um importante magistrado que conhece os bastidores no Judici�rio disse ao Correio que o desfecho j� est� sacramentado. Segundo ele, pelo que j� veio � tona, Moro perdeu a condi��o de exercer a fun��o de ministro da Justi�a e virou um “fantasma”. Por isso, a chance de o STF declarar a suspei��o de Moro tamb�m seria grande.
A 2ª Turma do STF vai retomar o julgamento de um habeas corpus em que a defesa do ex-presidente Lula aponta a suspei��o de Moro no caso do tr�plex. O argumento central era o fato de Moro ter aceitado o cargo no governo do principal advers�rio do PT. Agora, o bombardeio ganhou muni��o, com as conversas vazadas pelo The Intercept. Num dos �ltimos di�logos atribu�dos ao ent�o juiz, ele se refere � atua��o da defesa do petista como “showzinho” e pede ao Minist�rio P�blico Federal a divulga��o de uma nota para esclarecer pontos obscuros da audi�ncia em que Lula foi ouvido na 13ª Vara Criminal.
O julgamento teve in�cio em dezembro de 2018, mas foi suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, quando o placar contava dois votos contra o habeas corpus. O relator, Edson Fachin, e a ministra C�rmen L�cia se posicionaram contra o pedido de suspei��o. Atualmente, a aposta entre petistas � de que o voto decisivo seja do decano, Celso de Mello, que dever� desempatar para um dos lados. Gilmar e Ricardo Lewandowski s�o considerados votos certos pela nulidade da condena��o de Lula.
Na avalia��o do juiz Daniel Carnacchioni, do Tribunal de Justi�a do Distrito Federal e Territ�rios (TJDFT), sempre � poss�vel que, num julgamento colegiado, magistrados mudem o voto mesmo depois de proferidos, quando h� um pedido de vista. “� muito dif�cil ocorrer. Mas nada impede que um ministro altere o voto, principalmente com um cen�rio novo”, afirma.
Torcidas
Na CCJ do Senado, Moro ser� recebido por senadores investigados e denunciados pela Lava-Jato. � o caso, por exemplo, de Renan Calheiros (MDB-AL), que tem usado as redes sociais para atacar Moro. “Essa polival�ncia do S�rgio Moro (investiga quem quer, coordena acusa��o, vaza seletivamente, pede nota ao MPF, condena sem prova…). � a fal�ncia do sistema judici�rio”. E acrescentou: “T�o �bvio que dispensa o VAR”. Na lista dos alvos da Lava-Jato que podem interrogar Moro, est�o tamb�m os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Humberto Costa (PT-PE).
� justamente no campo das torcidas que o governo Bolsonaro tenta levar o debate, numa divis�o entre os que apoiam ou querem desacreditar os trabalhos da Lava-Jato. Por causa da aprova��o do combate � corrup��o, atacar Moro e os procuradores de Curitiba pode ser um mau neg�cio. Mas a popularidade de Lula e a repercuss�o do conte�do das conversas entre Moro e os procuradores s�o gigantes.
Por isso, o governo trabalha por uma polariza��o entre os que s�o contra e a favor do combate � corrup��o. “A popula��o tem a Lava-Jato como uma mudan�a de rumo, e Moro � o s�mbolo. Ele tem enfrentado uma organiza��o criminosa barra pesad�ssima, de peito aberto e cara limpa”, afirma a deputada Bia Kicis (PSL-DF). Segundo a parlamentar, Bolsonaro j� deu sinais de que ap�ia Moro e n�o abrir� m�o de sua perman�ncia no governo. No meio pol�tico, a aposta � de que rifar Moro seria uma vit�ria do petismo e do ex-presidente Lula, tudo o que Bolsonaro n�o deseja.
Moro vai � CCJ com o risco de ser surpreendido com novos vazamentos. Mas, para o senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE), que integra a comiss�o e defendeu a cria��o da CPI da Lava-Toga, � praticamente imposs�vel atestar a autenticidade das mensagens. “O produto de um hacker n�o � audit�vel. S� se chega � autenticidade se a pr�pria v�tima confirmar”, avalia.
Experiente no mundo pol�tico, o ex-secret�rio da Receita Federal Everardo Maciel acredita que o mais importante neste momento � descobrir quem invadiu os chats de autoridades p�blicas. “N�o h� raz�o nenhuma para se considerar como relevante algo que est� associado a um crime de invas�o de privacidade. Foi uma atividade criminosa com objetivos claros. Um ato vergonhoso”, afirma.