Nem todos os homens de confian�a dos governos do PT incomodam o presidente Jair Bolsonaro. Funcion�rios p�blicos que estiveram no c�rculo de poder de Luiz In�cio Lula da Silva e Dilma Rousseff hoje recebem afagos de Bolsonaro. Pelo menos 71 dos 180 integrantes (39%) do primeiro e do segundo escal�o, a c�pula da administra��o federal, estiveram em postos importantes das gest�es petistas.
A resist�ncia de Bolsonaro aos quadros petistas ficou evidente no m�s passado, quando avisou ao ent�o presidente do BNDES, Joaquim Levy, que o subordinado estava com a cabe�a a pr�mio caso n�o demitisse o ent�o diretor de Mercado de Capitais do banco, Marcos Barbosa Pinto. Tanto Levy quanto Pinto ocuparam cargos influentes nos mandatos dos petistas. "Levy j� vem h� algum tempo n�o sendo leal a aquilo que foi combinado, ele est� com a cabe�a a pr�mio j� h� algum tempo", disse Bolsonaro. No dia seguinte, o ex-ministro da Fazenda de Dilma anunciou sua demiss�o.
Um "ex-petista" � um dos ministros mais prestigiados por Bolsonaro. Tarc�sio de Freitas, que comanda a pasta da Infraestrutura, foi diretor executivo e diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) durante o primeiro mandato de Dilma. Freitas ganhou destaque pelo avan�o com as concess�es e tem sido elogiado inclusive por l�deres do Congresso. Ao seu lado, a secret�ria de Fomento, Planejamento e Parcerias, Nat�lia Marcassa, � outra sobrevivente de gest�es anteriores. Um dos principais nomes � frente dos planos de concess�o, Nat�lia foi secret�ria executiva no Minist�rio dos Transportes no governo Dilma.
"Isso � absolutamente normal e desej�vel. A linha de governo muda, a diretriz tamb�m, mas tem gente que sabe lidar com a m�quina, sabe a hist�ria dos Poderes. As pessoas t�m condi��o de operar isso e promover mudan�as. (Cortar todos os servidores t�cnicos que passaram por outros governos) N�o funciona. N�o existe (isso), n�o teria a menor possibilidade de ser assim", disse o ministro Freitas.
Ele afirmou que seu minist�rio, que tem quatro secret�rios que atuaram em cargos de confian�a em gest�es petistas, � formado por profissionais t�cnicos que est�o fazendo "um excelente papel" e que est�o alinhados com a pauta do governo.
"N�o tem isso de 'esse cara trabalhou em outro governo e isso est� contaminando'. Passei quatro anos no Dnit no governo Dilma e depois passei mais dois anos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) no governo Temer estruturando projetos que estou tocando hoje. Conhe�o todo o programa do PPI porque eu estava l�. Essa continuidade � boa, saud�vel e importante", declarou.
De acordo com Freitas, Bolsonaro n�o questionou sua passagem pelo governo Dilma quando o convidou. "Ele (Bolsonaro) tinha a percep��o dos problemas de infraestrutura do Pa�s. Complementei com a minha vis�o. Debatemos sobre isso e eu coloquei um plano de a��o na mesa. O presidente n�o fez nenhum questionamento sobre trabalhar no governo do PT."
Itamaraty
Com seis nomes, o Minist�rio das Rela��es Exteriores, comandado por Ernesto Ara�jo, considerado da ala ideol�gica do governo, est� entre os que mais abrigam comissionados influentes nos governos do PT. � o mesmo n�mero da Controladoria-Geral da Uni�o e do Minist�rio do Desenvolvimento Regional. Neste �ltimo, o pr�prio ministro, Gustavo Canuto, tem um longo curr�culo de servi�os prestados a governos petistas. Ele foi chefe de gabinete de ministro da Secretaria de Avia��o Civil da Presid�ncia na segunda metade do governo Dilma e, antes, foi assessor no Gabinete da Secretaria de Avia��o Civil da Presid�ncia.
N�mero dois de Canuto, o secret�rio executivo Antonio Carlos Paiva Futuro tamb�m tem um hist�rico em gest�es petistas. Wagner Ros�rio, ministro da Controladoria-Geral da Uni�o, foi secret�rio executivo da pasta no governo Dilma.
A lista inclui ainda grupo de secret�rios executivos, o segundo cargo mais importante no organograma dos minist�rios. � o caso do Minist�rio da Economia, com Marcelo Guaranys, n�mero dois de Paulo Guedes, e o da Educa��o, com Antonio Paulo Vogel de Medeiros. Guaranys foi coordenador-geral de Servi�os P�blicos e Infraestrutura da Secretaria de Acompanhamento Econ�mico do Minist�rio da Fazenda no primeiro mandato do governo Lula.
'Meritocracia'
O argumento de Jair Bolsonaro para manter ou demitir pessoas do governo havia sido exposto pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ainda no per�odo da transi��o, quando ele prometeu que o governo iria "despetizar o Brasil". Onyx argumentou que o governo n�o poderia manter servidores petistas ou de ideologias que n�o se identificam com o projeto "de centro-direita".
Por�m, mesmo na pasta de Onyx h� um cen�rio parecido. Jos� Vicente Santini, hoje o segundo na hierarquia da Casa Civil, foi coordenador na Secretaria de Avia��o Civil do Minist�rio da Defesa entre 2007 e 2010, per�odo em que Lula era presidente.
Os minist�rios do governo com quadros ligados � gest�o petista afirmam que todos os servidores t�m perfil t�cnico e est�o na administra��o por "meritocracia". A assessoria do Minist�rio da Infraestrutura argumentou que o ministro Tarc�sio Freitas e os secret�rios n�o t�m vincula��o partid�ria. "Todos s�o servidores concursados, t�m vasto curr�culo e experi�ncia no setor." Por sua vez, a Secretaria de Governo afirmou que os servidores citados pela reportagem integram carreiras t�picas de Estado. "Atividades essenciais do Estado devem ser executadas por profissionais especializados." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.