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Estado de Minas POL�TICA

'N�o se combate a fome dizendo que ela n�o existe', diz Jos� Graziano


postado em 25/07/2019 11:00

Diretor-geral da Organiza��o das Na��es Unidas para Alimenta��o e Agricultura (FAO) at� o m�s passado, o engenheiro agr�nomo Jos� Graziano afirmou que "n�o se combate a fome dizendo que ela n�o existe". Ele defendeu ainda os programas sociais de transfer�ncia de renda. "Se tirar (esses programas), voltar�amos a ter n�meros na ordem de 20 milh�es ou mais que passam fome", afirmou Graziano.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro causou pol�mica ao dizer que � "uma grande mentira" que pessoas passam fome no Brasil. Questionado, recuou e afirmou que "alguns passam fome". "Adotou-se (em governos anteriores) que distribui��o de riqueza � criar bolsa. � o pa�s das bolsas. O que faz tirar o homem da mis�ria � o conhecimento", declarou Bolsonaro na ocasi�o. "A historiografia da fome � real, tem uma base, n�o foi inventada", disse Graziano ao jornal O Estado de S. Paulo.

O sr. assumiu a FAO em 2011. O que mudou no mundo desde ent�o no combate � fome?

N�s conseguimos uma redu��o substancial da fome, se voc� comparar aos anos 2000, quando fal�vamos em 1 bilh�o de pessoas passando fome. N�s estamos hoje falando em 820 milh�es. Foi um grande progresso. Isso se deve em grande parte a uma mudan�a de estrat�gia: o combate � fome antes era direcionado exclusivamente ao aumento da produ��o agr�cola, � disponibilidade de alimentos. Achava-se que as pessoas passavam fome porque n�o tinham alimentos. Isso � s� parte das verdade. Hoje a maior parte das pessoas que passa fome n�o � porque n�o t�m alimentos. O mundo produz hoje mais do que o suficiente para alimentar toda a popula��o mundial, ainda joga fora um ter�o da produ��o. Hoje o grande problema � o acesso aos alimentos, as pessoas n�o t�m como pagar, porque n�o t�m emprego ou terra para plantar. Ou porque uma seca destruiu a terra que tinha.

Qual o impacto da crise econ�mica na seguran�a alimentar?

Total. Da nossa an�lise, 85% dos pa�ses em desenvolvimento t�m na crise econ�mica um elemento central no aumento da fome. Isso � particularmente vis�vel na Am�rica do Sul, a regi�o que mais sofreu com a crise. Estava crescendo muito rapidamente, exportadora de mat�rias-primas, commodities agropecu�rias. Com a redu��o da demanda na China e a queda do pre�o das commodities, isso veio abaixo. E os pa�ses reduziram a cobertura de programas sociais. A Am�rica Latina chegou a ter 120 milh�es de pessoas beneficiadas por programas de transfer�ncia de renda. Hoje, por mais que se mantenha o n�mero, os valores s�o menores em termos reais, n�o tiveram reajuste, pararam de crescer. E aumentou o desemprego. Isso deixa essas popula��es expostas.

Qual import�ncia de programas de transfer�ncia de renda?

A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios) Cont�nua do IBGE mostra que 28 milh�es de pessoas no Brasil hoje t�m alguma forma de desocupa��o. Essas pessoas n�o t�m acesso a uma renda que propicie alimenta��o adequada. Ou s�o subnutridos ou candidatos � subnutri��o. Se tirar programas sociais de transfer�ncia de renda, voltar�amos a ter n�meros na ordem de 20 milh�es ou mais que passam fome. Felizmente, o Brasil mant�m uma cobertura social que impede que isso aconte�a.

H� risco de o Brasil voltar para o mapa da fome?

O ponto m�nimo da fome no Brasil foi em 2013, 2014, que foi o ponto m�nimo do desemprego. A partir da�, o desemprego dispara e a fome come�a a crescer. Olhando para tr�s, temos 400 mil, 500 mil pessoas a mais passando fome no Brasil comparando com o ponto m�nimo em 2013. O Brasil ainda n�o voltou ao mapa da fome e espero que n�o volte. Mas, para isso, precisa ser levado a s�rio. N�o se combate a fome dizendo que ela n�o existe. Tem que ter uma pol�tica ativa de combate � fome, tem que ser parte das preocupa��es centrais. N�o estou falando apenas do governo federal, n�o. Tamb�m dos governos estaduais, sociedade civil, setor privado. Ningu�m se beneficia com a fome. O �nico n�mero aceit�vel � zero.

O presidente Jair Bolsonaro disse que ningu�m passa fome no Brasil e, depois, voltou atr�s.

O presidente � do Vale do Ribeira. N�o sei se ele costuma ir l�, mas � um dos grandes bols�es de fome no Estado de S�o Paulo. � um lugar onde a fome sempre foi um problema. Toda essa historiografia da fome � real, tem uma base, n�o foi inventada. Hoje eu diria que no Brasil o problema da fome est� relativamente equacionado. H� fome, h� bols�es de fome, mas a gente sabe onde est� e o que tem que fazer. O grande problema s�o as formas de m� nutri��o: anemia nas mulheres, nanismo nas crian�as e a obesidade nos adultos.

O sr. j� declarou que o combate � fome n�o deve ter ideologia...

Acho um pouco cedo para avaliar o governo Bolsonaro. Ele tem tido um componente ideol�gico em muitas de suas a��es, mas eu prefiro dizer que n�o podemos ter ideologia no combate � fome. N�o podemos submeter um direito fundamental � pergunta se o cara � de direita ou esquerda, se � do PT ou n�o �. Isso n�o pode ser o par�metro de decis�o.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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