
As imagens da Amaz�nia fumegante correm o mundo hoje: a copa das �rvores envolta em fuma�a como sentinelas do fim do mundo, o c�rculo do fogo ampliando seus tent�culos mata adentro e os olhos da humanidade at�nitos diante da destrui��o. Cenas dram�ticas que comprometem o presente e p�em em risco a vida futura, pois h� um passado tenebroso.
H� 21 anos, em mar�o e abril de 1998, o quadro era t�o dilacerante como agora e o foco principal estava em Roraima, onde chegaram cerca de 1,4 mil bombeiros de v�rios estados brasileiros para tentar apagar as labaredas. O Ex�rcito montou uma opera��o de guerra tal a dimens�o do territ�rio atingido, e bombeiros venezuelanos e argentinos cooperaram nos dias e noites de combate.
H� 21 anos, em mar�o e abril de 1998, o quadro era t�o dilacerante como agora e o foco principal estava em Roraima, onde chegaram cerca de 1,4 mil bombeiros de v�rios estados brasileiros para tentar apagar as labaredas. O Ex�rcito montou uma opera��o de guerra tal a dimens�o do territ�rio atingido, e bombeiros venezuelanos e argentinos cooperaram nos dias e noites de combate.
Caminhando ou olhando do helic�ptero do Batalh�o de Miss�es Especiais da Pol�cia Militar de Minas Gerais, a regi�o amaz�nica ardia e clamava por salva��o. Chuvas espor�dicas traziam algum al�vio, mas nada de acabar com o supl�cio da natureza e da popula��o.
As autoridades federais e estaduais levantaram diversas hip�teses para o inc�ndio monumental, sempre com uma certeza: tratava-se de um inc�ndio criminoso, o fogo ateado de prop�sito � beira das rodovias para implanta��o de loteamentos.
As investiga��es apontavam tamb�m para as queimadas pr�-plantio, pr�tica antiga e altamente nociva para o solo e todo o meio ambiente. Ao mesmo tempo, deputados federais integrantes das comiss�es da Amaz�nia e Desenvolvimento Regional e do Meio Ambiente, da C�mara, “queriam saber se houve falha na mobiliza��o do governo federal para tra�ar o plano de socorro a Roraima”.
As investiga��es apontavam tamb�m para as queimadas pr�-plantio, pr�tica antiga e altamente nociva para o solo e todo o meio ambiente. Ao mesmo tempo, deputados federais integrantes das comiss�es da Amaz�nia e Desenvolvimento Regional e do Meio Ambiente, da C�mara, “queriam saber se houve falha na mobiliza��o do governo federal para tra�ar o plano de socorro a Roraima”.
Numa manh� quente e enfuma�ada, a equipe do EM flagrou um homem de 82 anos, morador de Vila Iracema, a 90 quil�metros de Boa Vista, riscando um f�sforo e pondo fogo no mato.
Juntando folhas e peda�os de pau, o senhor, protegido do sol com seu chap�u de palha, contou aos rep�rteres, meio sem jeito, que estava “tentando apagar o fogo”. Mas a situa��o era outra, tanto que, assustado, bateu logo em retirada para deixar entregue � sorte a vereda de buritis. Em pouco tempo, a propriedade de 90 hectares come�ou a evaporar e o ar a ficar ainda mais contaminado.
Juntando folhas e peda�os de pau, o senhor, protegido do sol com seu chap�u de palha, contou aos rep�rteres, meio sem jeito, que estava “tentando apagar o fogo”. Mas a situa��o era outra, tanto que, assustado, bateu logo em retirada para deixar entregue � sorte a vereda de buritis. Em pouco tempo, a propriedade de 90 hectares come�ou a evaporar e o ar a ficar ainda mais contaminado.
Nesse cen�rio sombrio, os ind�genas n�o queriam perder tempo, e aguardavam a chegada de um paj� de Mato Grosso para a famosa dan�a da chuva – eles chegaram com sua cultura, tradi��o e mist�rios. Fizeram chover.
Usando cip�s e peda�os de bambus, os �ndios caiap�s Kukrit (xam�) e Mati-I conduziram um ritual, com dura��o de 40 minutos, na madrugada de 30 para 31 de abril, �s margens do Rio Branco. A �rea foi cercada a estranhos para n�o haver “interfer�ncias espirituais”, conforme explicaram.
Usando cip�s e peda�os de bambus, os �ndios caiap�s Kukrit (xam�) e Mati-I conduziram um ritual, com dura��o de 40 minutos, na madrugada de 30 para 31 de abril, �s margens do Rio Branco. A �rea foi cercada a estranhos para n�o haver “interfer�ncias espirituais”, conforme explicaram.
AJUDA EXTERNA
A tenebrosa seca na regi�o amaz�nica e consequente inc�ndio florestal sensibilizou autoridades da Alemanha, que enviou alimentos aos “flagelados do fogo”, antecipando-se ao socorro do Comunidade Solid�ria, programa social criado tr�s anos antes na gest�o do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Caminh�es carregados com 51 toneladas de cestas b�sicas foram enviados ao Noroeste de Roraima, a fim de atender a cerca de 2 mil fam�lias ind�genas dos povos mucuxi wapixana. Os recursos, tamb�m para compra de rem�dios, foram mandados pela Ag�ncia de Coopera��o T�cnica (GTZ) do governo alem�o.
Caminh�es carregados com 51 toneladas de cestas b�sicas foram enviados ao Noroeste de Roraima, a fim de atender a cerca de 2 mil fam�lias ind�genas dos povos mucuxi wapixana. Os recursos, tamb�m para compra de rem�dios, foram mandados pela Ag�ncia de Coopera��o T�cnica (GTZ) do governo alem�o.
Depois da chuva, veio a confirma��o de que o inc�ndio estava sob controle – pelas imagens do sat�lite operado pela Embrapa em parceria com o Ex�rcito, havia apenas 5% de focos. Assim, os bombeiros argentinos e venezuelanos voltavam para casa, enquanto os militares brasileiros faziam o rescaldo. Mas parece que a li��o de cinzas n�o foi aprendida. Quem sabe, esquecida.
Depoimento
Fogo no para�so
“N�o parece que foi ontem – parece que foi hoje de manh�, tal a clareza de imagens na cabe�a. Numa segunda-feira ensolarada, embarcamos, o fot�grafo Marcelo Sant'Anna e eu, do Estado de Minas, para a cobertura do inc�ndio que transformava Roraima em centro do mundo, atraindo rep�rteres de todos os pa�se, com os mais modernos (para a �poca) equipamentos de transmiss�o de dados.
Do aeroporto da Pampulha, junto com os bombeiros de Minas e integrantes do Batalh�o de Miss�es Especiais, transportados num avi�o H�rcules da For�a A�rea Brasileira (FAB), seguimos rumo a Fortaleza. Nessa capital, ganhamos a companhia dos bombeiros cearenses.
Do aeroporto da Pampulha, junto com os bombeiros de Minas e integrantes do Batalh�o de Miss�es Especiais, transportados num avi�o H�rcules da For�a A�rea Brasileira (FAB), seguimos rumo a Fortaleza. Nessa capital, ganhamos a companhia dos bombeiros cearenses.
Chegamos a Boa Vista (RR) tarde da noite. No dia seguinte, o comandante do Ex�rcito respons�vel pelas a��es explicou que estava montada ali uma opera��o de guerra. O inimigo: o fogo. E como ele era avassalador e destemido. Labaredas destru�am �rvores frondosas da floresta tropical em quest�o de minutos, caminhos ficavam interditados e a fuma�a tornava o ar quase irrespir�vel.
Ver um homem colocando fogo no mato foi um choque – a� vimos que o fogo tinha aliados. A cena nunca despregou da mem�ria, pois tenho certeza de que o senhor com seu chap�u de palha aprendeu tal pr�tica com o pai. Pode ser que tenha ensinado ao filho e ao neto. Nesse dia, demos carona a dois rep�rteres ingleses que estavam meio perdidos no caminho e, de imediato, documentaram o flagrante.
No dia seguinte, foi nossa vez de ficar perdido. A floresta � um universo m�gico, pois encanta, confunde, num misto de raios de luz e muitas sombras. Por sorte, encontramos os bombeiros do Cear�, em barracas, que nos levaram para Boa Vista. Curiosamente, tudo se tornava moeda. Perguntamos a um homem, numa rua da capital, sobre a dire��o de uma cidade e ele queria nos cobrar R$ 5... isso em 1998. Recusamos.
Um dos momentos mais fortes da cobertura, sem d�vida, foi o encontro com os ind�genas caiap�s, que, com seus rituais, “chamavam” a chuva. Mist�rios de homens que conhecem os ciclos da Terra e, principalmente, respeitam cada palmo do seu ch�o. E n�o � que, logo depois, choveu?” (Gustavo Werneck)