'Vou sair do PSL. na pr�xima 4� feira vou me filiar ao Podemos', diz Selma Arruda

Sob a vista de um quadro de Jesus, de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e de uma escultura de um Cristo crucificado - nas paredes de seu gabinete -, a senadora de primeiro mandato Selma Arruda (MT), ju�za aposentada tamb�m conhecida como "Moro de saias", disse ao Estado que decidiu sair do PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro. "S�o coisas graves, � uma press�o que vem de todo lado, e � por isso que eu vou sair do PSL", afirmou. "Na pr�xima quarta-feira (18) vou me filiar ao Podemos."

N�o explicitou as "coisas graves", mas disse que foi "pressionada por membros do PSL" para retirar sua assinatura do pedido para a instala��o da CPI da Lava Toga. O �nico nome que citou foi o do senador Fl�vio Bolsonaro, igualmente do PSL e filho do presidente da Rep�blica. Tamb�m alegou, entre os motivos da sa�da, a "falta de solidariedade" do PSL em rela��o ao processo de cassa��o de seu mandato, em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Selma Arruda - 56 anos, 22 deles como ju�za - fez a campanha com as bandeiras do candidato Bolsonaro e da Opera��o Lava Jato. Foi eleita em primeiro lugar em seu Estado com 678.542 votos (24,65% dos v�lidos). Nem tinha assumido o mandato quando, em janeiro deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Mato Grosso desaprovou suas contas de campanha por unanimidade. Uma segunda decis�o un�nime do mesmo TRE, em abril, cassou seu mandato e o de seus suplentes, por abuso de poder econ�mico e caixa 2.

Negando todas as acusa��es, a senadora recorreu ao TSE - onde o processo tramita, sob a relatoria do ministro Og Fernandes. No come�o da semana, foi divulgado o parecer da procuradora-geral da Rep�blica, Raquel Dodge, favor�vel � cassa��o do mandato. A qualquer momento, o relator pode levar o caso a julgamento no plen�rio.

Tamb�m aguarda julgamento, no Conselho Nacional de Justi�a (CNJ), um Procedimento Administrativo Disciplinar (PDA) em que � acusada de usar o cargo de ju�za para aproveitamento pol�tico e midi�tico. Est� nas m�os do corregedor do CNJ, ministro Humberto Martins, aguardando data de julgamento. N�o � a primeira vez que ela passa pela Corregedoria do CNJ. Foi advertida, em 2008, por ter admitido seu marido, advogado e policial rodovi�rio federal aposentado, como volunt�rio na Vara em que era ju�za, sem nenhuma formalidade legal. Mesmo punida com a advert�ncia, n�o admite que tenha errado. "Eu estava certa", afirmou.

A senadora recebeu o Estado na tarde da �ltima quinta-feira, 12, no gabinete 15 da ala Teot�nio Vilela do Senado. Aparentava tranquilidade. "Quando voc� n�o deve, � dif�cil ficar preocupada", afirmou, antes de ligar sua metralhadora verbal. A muni��o � farta de teorias conspirat�rias, sem nenhuma prova, principalmente contra os ju�zes do TRE-MT que cassaram seu mandato por unanimidade. A assessoria do Tribunal disse ao Estado, em nome deles, que "as decis�es foram tomadas em cima das provas dos autos".

Os olhos verdes da senadora choraram com vontade durante os minutos em que lembrou a morte dram�tica de sua filha Let�cia, advogada de 25 anos, em 2014, v�tima de um c�ncer de pele devastador. "Cada cicatriz � uma vit�ria", dizia a ruiva de olhos verdes, segundo a mem�ria da m�e. "� isso que me d� coragem", afirmou a senadora com a maquiagem borrada. A entrevista:

Quais s�o as suas raz�es para sair do PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro?

O PSL � um partido que me incomoda, n�o apenas pela falta de solidariedade em rela��o a todo esse processo que eu estou enfrentando (de cassa��o do mandato), mas tamb�m em rela��o a essas press�es de membros do partido para tirar a assinatura do pedido de CPI da Lava Toga. N�o tenho mais jeito de permanecer nesse ambiente.

Quais membros do partido a pressionam para tirar a assinatura?

O senador Fl�vio Bolsonaro. Mas n�o � s� ele.

Quem mais?

N�o � hora de citar mais nomes.

O senador Fl�vio falou diretamente com a sra. para retirar a assinatura?

Sim.

Foi uma conversa amig�vel?

N�o. Mas n�o quero entrar em detalhes.

Por que a sra. optou pelo Podemos?

O Podemos faz parte da base do governo, e te deixa livre para seguir as convic��es. N�o sou Bolsonaro at� debaixo d'�gua. Casamento homossexual, por exemplo, eu nunca fui contra isso.

Como o Podemos se posiciona em rela��o ao processo que amea�a cassar o seu mandato?

A postura � de amparo, me sinto acolhida. Nunca tive isso do PSL.

Alguma diverg�ncia de fundo com o PSL?

A reforma da Previd�ncia � a coisa mais cruel dos �ltimos tempos.

E o que isso diz sobre o PSL?

O partido n�o tem uma consist�ncia ideol�gica pr�pria. A ideologia � mero repeteco de algumas frases prontas. Tudo � culpa da esquerda. Todo mundo � comunista. N�o tem uma lideran�a. N�o tem envolvimento nem sequer do pr�prio presidente da Rep�blica.

Qual tem sido o papel de Bolsonaro em rela��o ao PSL?

Uma vez eu e Soraya (Thronicke, a outra senadora do PSL) fomos ao presidente. "Presidente, o senhor, por favor, conte conosco para apoiar o governo. N�s somos senadoras do PSL e n�s queremos que o senhor nos diga qual � a sua orienta��o". Ele respondeu: "Cada uma de voc�s vote de acordo com a sua orienta��o, a sua consci�ncia". Sabe um trem perdido? � desse jeito.

Alguma decep��o com o major Ol�mpio, l�der do PSL no Senado?

Absolutamente. Nem como l�der, nem como homem. � �ntegro. Um sujeito absolutamente honesto. E tamb�m est� com um p� fora do PSL.

E o senador Fl�vio?

O Fl�vio � filho do presidente. � um pouco ausente no Senado.

Por que a sra. est� evitando uma cr�tica direta?

Porque essa cr�tica iria respingar no presidente. Seria uma crise a mais, e a gente pode evitar.

O TRE do Mato Grosso reprovou suas contas de campanha, e cassou o seu mandato. Duas decis�es un�nimes do Tribunal pleno, envolvendo, ao todo, oito ju�zes. N�o � muita coisa contra a sra.? Ou s�o todos cegos, equivocados, errados e manipulados, como a sra. tem dito, genericamente, e sem provas?

N�o s�o oito ju�zes. S�o dois. Os que foram relatores dos respectivos casos, ambos com liga��es com poderosos que eu mandei prender. O resto dos ju�zes foi na onda.

A sra. n�o judicializou essas acusa��es, o que as torna levianas. N�o?

N�o.

Qual � a sua expectativa em rela��o ao julgamento do TSE, que pode ou n�o cassar o seu mandato?

Tenho certeza absoluta que eu n�o fiz nada irregular. Do ponto de vista t�cnico, jur�dico, estou absolutamente tranquila e confiante. O meu temor � que n�o seja um julgamento jur�dico e, sim, pol�tico, de alguma forma influenciado por esse jogo pol�tico. Mas ainda assim eu prefiro confiar, porque a composi��o atual do Tribunal � muito t�cnica e muito correta.

A sra. a tem de mem�ria?

Rosa Weber, Barroso, Fachin, que s�o tidos como os mais malvados do STF, mas malvados para vagabundos. Se eles s�o corretos, eles v�o ler o processo e v�o ver que n�o tem nada errado. Tem mais o relator, que � o ministro Og Fernandes, e mais dois advogados, n�o lembro os nomes.

O parecer de Raquel Dodge pode pesar na balan�a?

Um Tribunal Superior j� n�o tem mais aquela imaturidade de quando voc� � juiz novinho e fica achando que promotor tem raz�o em tudo.

Recorreria de uma decis�o adversa?

Meu advogado � que vai resolver, mas, em princ�pio, n�o. Eu peguei uma avers�o por isso tudo, por esse sistema, por essa nojeira. Em sentido figurado, tenho de tomar um dramim por dia para vir ao Senado. Porque d� nojo.

A sra. est� preparada para uma decis�o adversa?

Absolutamente preparada. Confio que n�o aconte�a, mas n�o descarto que aconte�a. Porque eu j� sofri dois reveses. Se der certo, parab�ns. Se n�o der certo, eu fa�o a mala e volto para casa, rindo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.