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Estado de Minas ENTREVISTA EXCLUSIVA

'Nosso governo n�o � antidemocr�tico', diz Hamilton Mour�o

'N�o existe mais espa�o para isso (retrocesso pol�tico). Voc�s t�m que entender que, em determinados momentos da hist�ria, isso funcionou. Hoje, n�o funciona mais'


postado em 15/09/2019 08:00

(foto: Romério Cunha/VPR)
(foto: Rom�rio Cunha/VPR)
O presidente da Rep�blica interino, Hamilton Mour�o, almo�ava, na �ltima quarta-feira, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentando solucionar a crise com o ent�o secret�rio da Receita, Marcos Cintra, quando o presidente Jair Bolsonaro telefonou e resolveu a quest�o. Cintra estava fora do governo. A cena relatada por Mour�o mostra algo que, na avalia��o do vice-presidente, vale para o todo o governo: “Uma coisa que todo mundo precisa entender �:  Quem � o decisor? O presidente Jair Bolsonaro. A gente pode ter um monte de ideias, mas a palavra final � dele”, diz com a mesma tranquilidade com que se refere ao clima seco em Bras�lia.


O fato de o presidente ter a palavra final, diz Mour�o, n�o pode ser confundido com um governo autorit�rio: “Nosso governo n�o � antidemocr�tico”. Tampouco passar a ideia de que h� espa�o para qualquer atitude de confronto em rela��o aos outros poderes, por mais que os tu�tes de Carlos Bolsonaro possam sugerir algo nesse sentido. “Se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, algu�m estaria dando bola? Ningu�m. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e � vereador do Rio de Janeiro, o pessoal diz: “oh, meu Deus do c�u, a fam�lia Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. N�o � assim.




Nos 40 minutos em que recebeu a reportagem do Correio, ele foi incisivo ao dizer que as For�as Armadas nunca quiseram ter protagonismo no governo e, �queles que temem riscos de retrocessos na democracia, avisa: “N�o h� espa�o para isso”. Adepto das franquezas no trato, o general � ainda mais direto quando se refere � quest�o da Amaz�nia. “A gente terminou reagindo com o f�gado em vez de reagir com a raz�o”, admite. 

No cargo de presidente interino, enquanto Bolsonaro se recupera de uma cirurgia de h�rnia, Mour�o segue despachando em seu gabinete no anexo II do Pal�cio do Planalto, onde recebeu o Correio na �ltima sexta-feira. Na entrevista, discorre com naturalidade sobre diversos temas. Sobre eventuais erros de Bolsonaro, no entanto, ele evita comentar: “N�o compete a mim, publicamente, tecer cr�ticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso”.

Ser� um desafio para o governo sair desse constrangimento a que o pa�s foi colocado em rela��o a Amaz�nia? �s vezes por causa de declara��es mal-entendidas l� fora, ou respostas atravessadas de l� de fora... Como o senhor v� essa quest�o que vai ser objeto de discuss�o na ONU?

Vamos buscar fazer uma an�lise bem fundamentada. O mundo inteiro, j� de algum tempo, est� com os olhos postos na Amaz�nia. Ao longo dos �ltimos 20 anos, houve, realmente, uma vis�o mais profunda sobre o papel da Floresta Amaz�nica em rela��o ao clima mundial com teses, �s vezes, corretas e, outras, totalmente estapaf�rdias, como aquela que diz que a Amaz�nia � o pulm�o do mundo. Algo que foi comprovado: que uma coisa � uma coisa e outra coisa � outra coisa. Praticamente 50% do bioma da Amaz�nia � �rea preservada. Ou � �rea de prote��o ambiental ou � terra ind�gena, que, em tese, tem que permanecer intocada. Ent�o, compete ao governo, por meio dos seus �rg�os de fiscaliza��o impedir que essas �reas sejam exploradas de forma ilegal. A �rea de prote��o ambiental, em hip�tese alguma, e a terra ind�gena t�m que ser de acordo com os desejos dos �ndios que habitam cada uma dessas regi�es.  Bom, ent�o 50% preservados. Nos outros 50%, apenas 20% podem ser explorados, de acordo com nossa legisla��o ambiental. A� vamos para a quest�o das queimadas. Todo ano tem 7 de setembro. E todo ano em agosto, setembro e outubro o pessoal derruba �rvore e queima porque � uma forma, digamos assim, tradicional de preparo da terra naquela regi�o, uma forma errada. Ent�o, o governo tem que se preparar, explicar por que essas coisas ocorrem e, dentro da nossa capacidade, buscar impedir que essas queimadas ocorram.  E a� tem que haver o qu�? A assist�ncia t�cnica, rural, de modo que esse produtor que aprendeu com o av�, com o pai, mude a forma. E �bvio, existem, tamb�m, na Amaz�nia, tr�s figuras que s�o complicadas: o madeireiro, o grileiro e o garimpeiro. Ent�o temos que buscar formas para que a popula��o que j� se estabeleceu naquela regi�o tenha o seu sustento sem comprometer a biodiversidade, sem comprometer a integridade da floresta e o pa�s tem que buscar as formas mais corretas. Temos uma legisla��o e temos que buscar fazer cumprir a legisla��o. O pr�prio ministro Ricardo Salles, agora em uma entrevista recente, reconheceu que nos comunicamos mal a respeito desse assunto. A gente terminou reagindo com o f�gado em vez de reagir com a raz�o.

Mas o presidente n�o entrou com o p� esquerdo, digamos assim, nessa hist�ria, quando disse que n�o havia recursos, que o Brasil n�o conseguia fiscalizar? As primeiras declara��es dele foram na linha de “a gente n�o t� dando conta do recado”...

O presidente reagiu ao que ele julgou uma ofensa de parte do presidente da Fran�a. E, realmente, o presidente da Fran�a emitiu um documento, n�o lembro direito se foi um documento, ou declara��o, dizendo que o presidente mentia. Era mentiroso. E a� � aquela hist�ria, n�? A raz�o foge muitas vezes nessa hora. Mas o presidente j� reconheceu h� algum tempo a nossa responsabilidade, ele est� se preparando, da� esse repouso at� maior dele, para, na abertura da Assembleia-Geral da ONU,  poder, realmente, transmitir essa mensagem e acalmar os �nimos no resto do mundo. 

Qual sua expectativa para o discurso do presidente na ONU? Qual o principal recado que deve transmitir?

O recado n�mero 1: a Amaz�nia � nossa. Isso a�, n�o podemos admitir em hip�tese alguma, essa quest�o de soberania limitada ou uma inger�ncia al�m daquilo que os tratados internacionais, ao qual o Brasil subscreve, preveem. O segundo recado: ela � nossa e compete a n�s proteg�-la e preserv�-la. 

O senhor diz que houve uma rea��o com o f�gado. Isso n�o tem acontecido com frequ�ncia maior do que deveria nesses oito meses?

Olha, eu j� respondi at� alguns colegas de voc�s a esse respeito. Sou vice-presidente do presidente Bolsonaro. Ent�o, n�o compete a mim, publicamente, tecer cr�ticas a ele. Estaria sendo desleal e canalha se fizesse isso. Ent�o, todas as vezes que discordo de alguma coisa dele, eu falo em particular.

O senhor tem falado muito em particular com ele ultimamente?

N�o, ultimamente, n�o, porque ele est� l� no hospital.

Mas sempre fala?

Sempre que temos alguma oportunidade conversamos e procuro expor meu ponto de vista sobre determinado tema.

Houve momento em que passou-se a ideia de que os senhores estavam meio afastados. Esse per�odo passou? 

 

N�o, nunca houve essa quest�o do afastamento. � que o presidente tem a forma peculiar dele de se expressar, de agir, n�? E a� o processo decis�rio dele funciona mais ou menos dessa forma.  E eu procuro ter uma atua��o mais discreta poss�vel, de modo que ele tenha toda a liberdade de manobra para empreender aquilo que ele julga correto.


No in�cio do governo, o senhor falava mais com a imprensa, depois de um tempo, deu uma pausa, e, agora,est� retomando as conversas. Por qu�?

Eu era um animal novo na pol�tica. Ningu�m me conhecia. At� porque n�o sou pol�tico. Havia uma curiosidade a meu respeito. Desde o per�odo da transi��o e at� os dois primeiros meses de governo, eu fui procurado praticamente diariamente pelo pessoal da imprensa. E, �bvio, houve uma exposi��o maior. Depois que chegaram � conclus�o, “ah, bom, o general Mour�o pensa dessa forma, ent�o n�o adianta mais ficar perguntando mais do mesmo para ele”. E a� eu fui deixado de lado, at� porque outros atores surgiram nesse embalo, outros fatos aconteceram e fiquei na posi��o que � a do vice-presidente, uma posi��o secund�ria.

O senhor volta a fazer essa comunica��o do governo agora que o presidente tem dado sinais de que n�o deve mais conceder aquelas entrevistas quase que di�rias no Pal�cio da Alvorada?

Se o presidente me der alguma tarefa. “Olha, voc� procure a imprensa e converse a respeito do assunto X”, eu cumpro a tarefa dele. Agora, n�o vou ultrapassar aquilo que considero que � a autoridade dele e que � a tarefa dele nessa situa��o. Ent�o procuro sempre manter uma situa��o, um apoio mais � retaguarda dele. E �bvio que o presidente leva essa dicotomia. Passou uma semana falando, outra n�o fala, daqui a pouco ele volta a falar.

No caso da demiss�o do secret�rio da Receita, esse limite prevaleu?

A demiss�o do secret�rio da Receita, na realidade, j� vinha sendo aventada h� algum tempo. O pr�prio ministro Paulo Guedes sentiu que a posi��o do Marcos Cintra estava balan�ando. E tanto que fomos almo�ar na quarta-feira e ele me perguntou o que n�s �amos fazer. E mal a gente sentou, o presidente telefonou e j� passou a determina��o de que era necess�rio que o Marcos Cintra sa�sse, porque n�o concordava com a quest�o da CPMF, estava gerando muito ru�do.

A CPMF foi a gota d’�gua. A rela��o j� vinha se deteriorando desde l� de tr�s, n�o? Agora, a CPMF era defendida, tamb�m, pelo ministro Paulo Guedes. Como fica agora a proposta de reforma tribut�ria?

 

Uma coisa, todo mundo tem que entender. Quem � o decisor? O presidente Bolsonaro. Podemos pensar as coisas mais mirabolantes do mundo, mas � ele quem vai decidir. Muitas vezes a gente exp�e demais aquilo que est� sendo planejado, discutindo entre muros. E isso toma uma dimens�o grande junto � opini�o p�blica, junto ao Congresso, e o presidente termina por dizer: “n�o, pera�, eu n�o quero essa discuss�o”.

Em um pa�s dividido como a gente tem hoje, muita gente tinha receio de que os militares assumissem o poder no Brasil. Mas o senhor, como vice-presidente, tem sido uma voz democr�tica, que d� uma tranquilidade ao pa�s. Esse � o seu perfil ou � o perfil realmente dos generais?

Existe uma imagem totalmente errada, um desconhecimento por grande parte da imprensa, do que s�o os militares brasileiros. Criou-se uma imagem em rela��o ao per�odo de presidentes militares, tamb�m distorcida. Desconhecem como � a nossa forma��o, como � a nossa maneira de pensar, e fica s� aquele estere�tipo, muitas vezes confundido com figuras que ficaram no passado. Tudo na vida evolui. E uma realidade � que as For�as Armadas brasileiras sempre foram uma institui��o democr�tica. Em todos os momentos da vida nacional se apresentaram para preservar a lei, a ordem, e garantir que a democracia terminasse por vicejar. Essa � uma realidade, independentemente da maneira que se julgue o per�odo de 20 anos de presidentes militares. No futuro, isso vai ser colocado na pauta e vai ser pesado em rela��o a isso. A� entra aquele desconhecimento e essa surpresa, “os generais s�o moderados”. N�o tem nada a ver com moderado. N�s entendemos qual � o papel das For�as Armadas dentro de um regime democr�tico, as nossas miss�es est�o muito bem definidas na Constitui��o. 

Mas o senhor tem sido uma voz em defesa da democracia. Em v�rios momentos, o senhor se manifestou, inclusive agora, nesta semana, em rela��o � declara��o do Carlos  Bolsonaro...

O nosso governo n�o � antidemocr�tico. Acho que se procura colocar uma coisa nas costas do presidente Bolsonaro que ele n�o �. Se fosse antidemocr�tico, n�o tinha concorrido � elei��o.

 

 

Mas, �s vezes, � preciso reafirmar isso, como essa semana, no Twitter, em que o senhor deu uma declara��o refor�ando a import�ncia de estarmos vivendo em per�odo democr�tico. Isso � necess�rio? Por qu�?

 

Para acalmar as coisas, n�? Porque… o Carlos fez uma declara��o que tem que ser perguntada a ele, o que ele quis dizer com aquilo. E a�, obviamente, se o Carlos fosse Carlos Silva, vereador em Quixeramobim (CE), e falasse isso, algu�m estaria dando bola? Ningu�m. Agora, como ele tem o sobrenome Bolsonaro e � vereador do Rio de Janeiro, o pessoal: “oh, meu Deus do c�u, a fam�lia Bolsonaro quer tomar o poder no Brasil”. N�o � assim. Como a fam�lia Bolsonaro vai tomar o poder no Brasil?

S� se tiver apoio dos militares...

N�o existe mais espa�o para isso. Voc�s t�m que entender que, em determinados momentos da hist�ria, isso funcionou. Hoje, n�o funciona mais. O Brasil � muito complexo, uma sociedade complexa. N�o � assim, “p�, manda ligar o motor, fecha o Congresso, fecha isso, fecha aquilo, e muda tudo”. N�o � assim. 

As pessoas podem ficar tranquilas? N�o h� nenhum risco?

As pessoas podem ficar mais do que tranquilas.

Voltando um pouco �quela quest�o do presidente e o poder de comando dele. O ministro Paulo Guedes falou que quer privatizar tudo. O senhor acha que � por a�?

O presidente tem dado sinaliza��o positiva e at� j� me surpreendeu, com ele assim, “privatiza os Correios”. E ele vem pressionando. Os Correios s�o uma estatal emblem�tica. N�o � uma Valec.

Mas uma coisa � a Eletrobras, que carrega junto todas as bacias hidrogr�ficas, porque tem as grandes hidrel�tricas, e a privatiza��o pega o controle sobre a �gua do Brasil. Os chineses t�m muito interesse, e querem entrar com tudo nessa �rea de energia.  H� preocupa��o com o modelo de privatiza��o?

O controle pelo Estado nunca significou que voc� det�m a riqueza na m�o. Nunca significou isso. Ent�o isso � uma vis�o, vamos colocar assim, meio ultrapassada. Temos que ter uma legisla��o que nos assegure efetivamente o controle e n�o a gente deter as r�deas da empresa. E a gente sabe que as empresas estatais nascem sob uma excelente ideia, mas, depois, viram um cabide de emprego e s�o desvirtuadas.

Agora, o senhor acha que tem que privatizar tudo?


A Petrobras, ainda que parte da explora��o de petr�leo, tem que permanecer na nossa m�o. Banco do Brasil j� � uma S/A, a Caixa, desde que bem gerenciada, n�o � um problema. 


O senhor disse que n�o comenta as declara��es do presidente, mas poderia comentar a declara��o do ministro Paulo Guedes, voltando pra crise com a Fran�a, quando ele fez uma descortesia com a primeira-dama Brigitte Macron?

Ele j� pediu desculpas. � aquela hist�ria. A gente que faz palestra — eu fa�o muita palestra — a gente procura de vez em quando dar uma quebrada naquele ambiente de extrema seriedade. � que nem aula. O professor, que � um bom professor, alterna uma conversa descontra�da com um assunto s�rio. Ent�o, algu�m falou algo na plateia e ele falou “ah, � feia mesmo”. Ele j� pediu desculpas, j� identificou que cometeu uma grosseria e o Paulo � uma pessoa, p�, um cara fant�stico.

Desde o per�odo eleitoral, o senhor vem mantendo boa rela��o com os empres�rios. Em geral, eles t�m uma boa circula��o dentro do governo. O que eles falam � que o ministro Paulo Guedes, dentro desse escopo da reforma tribut�ria, n�o vai abrir m�o de desonerar a folha de pagamento para favorecer a cadeia produtiva para beneficiar os empregos, gera��o de empregos e renda. Queria saber como isso est� sendo discutido, a desonera��o da folha, o senhor participa das conversas, tem opini�o sobre o assunto?

Eu concordo com o Paulo na quest�o da desonera��o da folha e ele tinha a vis�o de substituir o imposto que hoje � pago pelo empres�rio em cima da folha de sal�rio por esse Imposto sobre Transa��es Financeiras (ITF). � a troca de um por outro, tanto at� que, na apresenta��o que foi feita era uma gangorra. Criava-se o imposto sobre valor agregado (IVA), vamos lembrar, � um estudo de um disc�pulo do Keynes, dos anos 50, um h�ngaro chamado Kaldor, n�, era chamado inclusive de imposto Kaldor. Criava esse imposto ao reunir todos os impostos federais e n�o metia a m�o em estados e munic�pios, que � uma coisa complicada, j� � diferente da proposta da C�mara, por exemplo, e com a gangorra com esse imposto de transa��es financeiras. Est� sendo discutido no Congresso. Agora, uma vez que n�o vai haver o imposto sobre transa��es financeiras, o Paulo est� tendo que buscar alguma solu��o, por exemplo, reduz aquilo que os empres�rios pagam para sustentar o sistema S, tem a quest�o dos fundos exclusivos que v�rios governos j� tentaram tributar e n�o conseguem tributar mais, e t�m outras medidas, mas n�o sei se esse conjunto de medidas geraria a quantidade de recursos que um imposto de transa��o financeira, que, de acordo com o Paulo, geraria R$ 150 bilh�es de retorno. Ent�o � algo que tem que ser discutido. E a reforma tribut�ria, a melhor coisa, hoje, � que todo mundo j� entendeu que tem que ser feita.

O problema � que cada um tem a sua.

�, mas a� n�o vai fugir de ser discutido dentro do Congresso. Vai ser discutido exaustivamente l� dentro, vai demorar, mas eu espero que, at� o fim do primeiro semestre do ano que vem, esse pacote seja fechado.

Como �  a rela��o do senhor com o Congresso? Acompanha tudo?

O presidente nunca me escalou para essa tarefa. Eu recebo senadores, deputados aqui. Procuro fazer aquela nossa conquista de cora��es e mentes, conversar com eles, passar nossas ideias, aquela coisa, recebo demandas, a� encaminho para ministro A, ministro B, o que a gente acha necess�rio. Falo muito com o (Luiz) Ramos (ministro-chefe da Secretaria de Governo). Ele est� encarregado dessa atividade. Mas n�o sou linha de frente neste trabalho.

Os militares est�o tendo o protagonismo que esperavam no governo?

Olha, n�s nunca quisemos protagonismo no governo. � outra vis�o um tanto quanto distorcida. Por qu�? N�mero 1. As For�as Armadas t�m que estar fora do que � pol�tica de governo. As For�as Armadas s�o institui��es nacionais permanentes, independentemente do governo e de tudo. Elas t�m que ser preservadas. O presidente, por ter um passado militar, escolheu alguns militares para compor sua equipe. Isso � um fato. Desses militares, apenas dois ainda est�o na ativa, que � o almirante Bento e o general Ramos, e me coloco nesse pacote, pois fui eleito junto com o presidente. Estou fora desse pacote. A� ele colocou o Marcos Pontes (ministro da Ci�ncia e Tecnologia), que j� era da reserva. Na �poca, o Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo) tamb�m, que, j� era da reserva, o Tarc�sio (Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura) saiu do Ex�rcito h� cinco ou seis anos. O Wagner Ros�rio (ministro da Controladoria-Geral da Uni�o) tamb�m saiu do Ex�rcito h� algum tempo, porque existe uma gera��o dos anos 1990 que saiu do Ex�rcito, fez concurso p�blico e enveredou por outra carreira. N�o vejo assim “o papel dos militares”, aquela hist�ria da “ala militar”, “n�cleo militar”.

Mas parecia no come�o que tinha esse peso.

Mas n�o tem. Nunca houve esse n�cleo. At� j� respondi a alguns colegas de voc�s que passava-se a imagem que, ao fim do dia, eu ligava pro (Augusto) Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional), pro Santos Cruz, “olha s� pessoal, vamos sentar aqui e vamos nos reunir e ver o que a gente vai fazer amanh�”. Nada, p�. Existe uma coisa que a gente preza muito que se chama disciplina intelectual. A disciplina intelectual coloca que voc� atue na tua �rea, e n�o te meta na �rea dos outros. Isso � fundamental dentro do quartel. Ali voc� tem o batalh�o, tem a primeira companhia, segunda companhia, terceira, cada um tem seu capit�o e comandante. O capit�o da primeira companhia n�o mete a m�o na segunda, sen�o vai dar briga. Cada um no seu quadrado. Isso � extremamente preservado no ambiente militar. 

O senhor acredita que reforma da Previd�ncia vai passar com tranquilidade no Senado?

Vai, vai passar tranquilo. Conversei com o Davi Alcolumbre (presidente do Senado) aqui essa semana e ele me deixou claro isso. Acho que, at� fim da primeira quinzena de outubro, ela estar� votada no Senado.

Em rela��o a Eduardo Bolsonaro embaixador, como est� isso no Senado? Alcolumbre deu algum #ficaadica para o senhor?

N�o, n�o deu nenhuma dica. Agora est� sendo trabalhado esse assunto. O pr�prio Eduardo est� conversando com os senadores. Acho que o irm�o dele, o Fl�vio, tamb�m deve estar ajudando nisso a�, o pr�prio presidente. Ent�o, vamos aguardar. Acho que o presidente parece que s� vai submeter o nome do Eduardo quando voltar de Nova York (da ONU). 

Pois �, essa semana fizeram, inclusive, a sabatina do futuro chefe da miss�o do Brasil na ONU, o Costa Filho. E o senhor acha que d� tempo? Vai fazer apelo j� para votar isso esta semana? Porque no Senado est�o falando “ah, a gente tem que ver se vota porque o governo quer que vote logo para ele poder ir, acompanhar o presidente”.

N�o, o Costa Filho est� votado.

Na comiss�o, mas tem que passar pelo plen�rio...

Mas n�o interessa, porque ele n�o vai conseguir chegar l� a tempo.

N�o consegue apresentar as credenciais, essas coisas todas?

� isso. Existe, como vou dizer, um rito. 

Vai ser o Mauro Vieira mesmo?

�, n�o sei nem se o Mauro Vieira. Acho que o 02 do Mauro Vieira, que � um outro embaixador. O Mauro est� aqui no Brasil, porque tem que ser sabatinado. Ele vai ser embaixador na Cro�cia.

Achei que iam mand�-lo para a Sib�ria.

Cro�cia � mais bonito.

Em rela��o ao ministro Sergio Moro, o senhor acredita que ele est� superando o epis�dio da Vaza-Jato com altivez e se mant�m firme no cargo?

O Moro � uma pessoa acostumada a sofrer press�o. Um homem que, ao longo dos �ltimos seis anos, sete anos, vem trabalhando em um ritmo, vamos dizer assim, forte, com press�es, com riscos de vida, com press�o sobre a fam�lia dele. Ele n�o se abala com essas cosias. Ele � muito tranquilo. Mas muito tranquilo mesmo.

Ele fica at� o fim do governo?

Espero que sim.

Ele vai pro Supremo? O presidente j� disse que quer um ministro que seja terrivelmente evang�lico. N�o � o caso do ministro Moro...

Vamos aguardar a decis�o. A primeira vaga �, no fim do ano que vem, do ministro Celso de Mello. Vamos aguardar o que vai acontecer.

E as elei��es municipais, como o senhor est� acompanhando isso?

O meu partido, PRTB, est� em situa��o complicada, pois n�o atingiu a cl�usula de barreira.

O senhor vai pro PSL?

N�o, eu entrei no PRTB e morro nele. A gente tem recebido aqui pessoas que est�o querendo se lan�ar como candidatos.

Dizem que, no Rio Grande do Sul, s� d� o senhor em pesquisas informais, em assembleias legislativas, em  prefeituras. Falam at� que poderiam ser lan�ados militares nas elei��es municipais e em 2022 tamb�m. O senhor pensa nisso?

�, t�m aparecido alguns companheiros postulando para ser candidato, mas a gente est� analisando. O que acontece � que tem um limite �tico nisso a�, na minha posi��o de vice-presidente, n�? Ent�o tem que esperar, come�ar a campanha, essas coisas, para n�o atravessar o samba. Mas, por enquanto, a gente est� s� observando.

O or�amento est� superapertado, n�o tem dinheiro para nada. Vem o teto de gastos que vai enxugar ainda mais a m�quina p�blica. Como o governo vai sair desse imbr�glio em rela��o ao or�amento?

Estamos sendo pressionados pelo piso que vem subindo, as despesas obrigat�rias aumentando, a� tem a discuss�o que voc� v�, n�? Tem a turma que quer a flexibiliza��o do teto de gastos, ent�o, tirar determinadas despesas, sairiam do teto, uma coisa “tirar a sa�de e educa��o do teto”. Aquela multa do FGTS tamb�m j� foi aventada, de tirar do teto. � uma flexibiliza��o. Outra � mudar e o teto seria infla��o mais 1,5%. Mas, por enquanto, n�s estamos precisando passar a mensagem de que vamos respeitar isso, porque � uma quest�o do equil�brio fiscal, a gente tem que passar isso para os investidores e o resto do mundo, e tentar furar o piso, com uma desvincula��o de receitas. Essa � a ideia que o Paulo Guedes tem. Temos que buscar uma solu��o para isso, sen�o vamos morrer achatados. 

O presidente Jair Bolsonaro escolheu um nome fora da lista tr�plice para a Procuradoria-Geral da Rep�blica e anunciou que espera uma parceria desenvolvimentista ali na PGR. E o Augusto Aras j� declarou que o governo n�o vai mandar na PGR. Na sua vis�o, como � que deve ser o papel de um procurador-geral da Rep�blica?

O procurador-geral da Rep�blica tem que atuar, de acordo com a lei. � simples. Vivemos dentro de um Estado de direito. O Estado de direito significa que a lei vale para todos e tem que ser respeitada. Ent�o, o procurador tem que fazer o qu�? Agir de acordo com a lei. Agora, algo que eu vejo muitas vezes no Minist�rio P�blico e at� no pr�prio Tribunal de Contas, e at� j� conversei uma vez com alguns ministros do TCU, � que, no caso espec�fico de obras, depois que a obra partiu, que o tro�o j� est� na metade, a� algu�m resolve embargar o neg�cio. Porra, � um preju�zo… ent�o, se vai embargar aquilo, vamos embargar antes de come�ar. Vamos analisar bem antes de come�ar e n�o depois. � o �nico problema que vejo nessas atua��es.

Estes oito meses de governo foram muito turbulentos, em alguns momentos dif�ceis at� demais. Nos pr�ximos tr�s anos, a situa��o vai se acomodar ou viveremos tempos sempre agitados e tensos? Nos primeiros meses de governo,  houve muito atropelo, n�o?

�, o que eu vejo. A forma como n�s montamos os minist�rios... A forma como nos relacionamos com o Congresso... O Congresso, sob nosso governo, tem ampla liberdade para atuar. O Congresso n�o est� comprado por um mensal�o, n�? E tamb�m n�o est� cooptado moralmente em um toma l� da c�. “Eu dou minist�rio, dou cargo”. Ent�o, o Congresso tem ampla liberdade para fazer o que quer. Muitas vezes, se critica o nosso governo, principalmente a figura do presidente. “Ah, mandou l� pro Congresso e esqueceu”. � uma forma de voc� dizer, “olha, nossa proposta � essa e agora os senhores discutam a� e cheguem a alguma conclus�o”. Ent�o, � uma forma bem, digamos assim, honesta de voc� ter uma liga��o de um poder com o outro. Agora, o que n�s vemos de uma forma geral? Os dois primeiros anos s�o dif�ceis, s�o anos de ajustes na economia, de modo que os dois �ltimos anos a gente entre j� em um voo sustent�vel, n�o em um voo de galinha.

Voo sustent�vel para a reelei��o?

N�o precisa ser a reelei��o. O pr�prio presidente j� deixou isso claro. O nosso grande objetivo � deixar o pa�s reorganizado, de modo que a gente tenha uma marcha progressiva e um rumo de aumentar efetivamente a gera��o de emprego, de renda e de bem-estar para a popula��o como um todo.

O presidente  comenta que espera  entregar um pa�s melhor em 2023 ou em 2027. Partindo desse pressuposto, de que ele n�o descarta a possibilidade de reelei��o, o senhor sairia como candidato a vice ou se candidataria a um cargo eletivo? J�  se aventou at� Marco Feliciano como o vice de Bolsonaro.

Bom, eu s� entrei na pol�tica porque o presidente Bolsonaro me pediu. Eu n�o tinha nenhuma aspira��o pol�tica. Quando passei para a reserva, no final de fevereiro do ano passado, a minha vis�o era “vou para minha casa no Rio de Janeiro”. Passei 46 anos dentro do Ex�rcito, est� na hora de ter um pouquinho de paz de esp�rito na minha vida. Eu queria ser presidente do Clube Militar, para ter uma atividade que n�o fosse altamente estressante e que eu pudesse ter contato e auxiliar a fam�lia militar e, ao mesmo tempo, ter uma voz perante a sociedade brasileira. Fui eleito presidente do Clube, s� que, um m�s e meio depois, tive que sair. N�o tenho nenhuma aspira��o pol�tica. Se o presidente for candidato � reelei��o e quiser que eu v� com ele como vice-presidente, muito bem. Se ele n�o quiser, se precisar de outra pessoa para compor uma chapa mais forte, seja l� o que for, ok, parab�ns, e eu volto para a minha casa, tranquilamente, sem estresse. 

Nem para ser candidato ao Senado?

N�o. Imagina eu no Senado...


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