O empres�rio Marcelo Odebrecht confirmou nesta segunda-feira, 7, o acerto de propinas ao PT em favor de Luiz In�cio Lula da Silva, relacionados ao financiamento pelo BNDES de exporta��o de servi�os do grupo em Angola, na �frica. Ouvido nesta segunda-feira, 7, como delator pelo juiz federal Vallisney Oliveira, da 10.� Vara Federal de Bras�lia, disse que manteve o teor de suas dela��es e apontou contradi��es nos depoimentos do pai, Em�lio Odebrecht.
O caso dos neg�cios da Odebrecht em Angola tem Lula como r�u em dois processos penais abertos na Justi�a Federal, em Bras�lia, resultado na Opera��o Janus - deflagrada em 2016 em desdobramento �s descobertas da Lava Jato. O principal, que trata do suposto acerto de US$ 40 milh�es de propinas ao PT pela libera��o dos recursos pelo BNDES, tem como alvos Lula e Paulo Bernardo - ele foi ouvido na sexta-feira, 4, nesse caso. O outro, � o que apura corrup��o, lavagem de dinheiro e tr�fico de influ�ncia contra o ex-presidente e Taiguara Rodrigues dos Santos, conhecido como "sobrinho de Lula".
"Naquela �poca, eu tinha uma conta corrente que eu e Palocci administr�vamos, e que pertencia ao PT, Lula e que, na verdade, era fruto de um combinado de Lula com meu pai. Quando havia pedidos de valores para ajudar o PT, saia dessa conta corrente." A conta corrente est� registrada na "Planilha Italiano", que a Lava Jato apreendeu, que era a contabilidade informal de um cr�dito de R$ 300 milh�es que os Odebrecht reservou para pagamentos ao PT.
Odebrecht afirma que na "Planilha Italiano" havia duas "contrapartidas" - que seriam os neg�cios onde houve cobran�a condicional de propinas - o caso do chamado "rebate", dos neg�cios em Angola e BNDES, e o Refis da Crise. "Esses dois foram de fato contrapartidas solicitadas, e que geraram cr�ditos."
No caso do financiamento de Angola, apontou envolvimento do ex-ministro Paulo Bernardo. "A Planilha Italiano era a conta corrente onde havia cr�ditos que eram colocados em fun��o de pedidos, que eram feitos, principalmente atrav�s de Palocci. Basicamente por Palocci e, no caso do rebate, por Paulo Bernardo."
Contradi��es
Em quase uma hora e meia de depoimento ao juiz da 10.� Vara Federal, Odebrecht confirmou o que sabia sobre o caso e acusou o pai e o ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar de "contradi��es" ao falarem � Justi�a sobre a participa��o do ex-presidente e o acerto de valores.
"Como a rela��o de Lula pertencia ao meu pai, eu tinha que referendar esses valores com ele, buscar a autoriza��o dele. S� que agora ele est� dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores."
Como delator, ele explicou que n�o teve participa��o direta nos supostos acertos com o ex-presidente, mas que tanto o pai, como Palocci e outros executivos relataram pedidos de Lula. Afirmou ainda que manteve o teor de sua colabora��o premiada - homologada em 2017 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ap�s depoimento de sexta, no processo principal, defesas dos r�us viram "recuo" do empres�rio.
"Aquilo que eu sabia, era via Alexandrino e meu pai. E os dois t�m v�rias contradi��es nos depoimentos deles em rela��o ao que me contaram � �poca", afirmou Odebrecht.
"O grande ponto da quest�o � que tem alguns itens, que eu tinha obtido atrav�s de meu pai informa��o de que ou ele tinha falado com Lula, ou ia falar com Lula e eu autorizava. Mas que basicamente nesse momento, ou ele esqueceu, e est� no direito dele, ou ele falava uma coisa comigo e falava com Lula outra. Ent�o isso que precisava esclarecer."
O delator disse que nunca afirmou ter tratado diretamente com o petista sobre propinas e que isso confirma sua dela��o. "Sempre deixei bem claro, em todas minhas colabora��es, em todos meus depoimentos, sempre, n�o s� o da sexta passada na a��o penal do rebate (de Angola), em todas as a��es penais em que eu tive, em toda colabora��o, eu sempre deixei bem claro que nunca tive rela��o nem responsabilidade pelas tratativas com presidente Lula."
Presidente do grupo de 2009 at� 2015, quando foi preso pela Lava Jato - cumpriu dois anos de pris�o e agora est� em regime domiciliar, monitorado por tornozeleira eletr�nica -, Odebrecht disse que a "rela��o de Lula pertencia" ao pai, Em�lio, mas que referendava valores com ele. "S� que agora ele est� dizendo em depoimento que nunca conversou com Lula sobre valores".
"Respondo pela minha colabora��o e pelo o que eu falei. Se pessoas acertaram propinas e disseram que n�o acertaram, eles � que t�m que responder. Posso responder pela minha colabora��o."
Sobrinho
No processo em que Odebrecht foi ouvido nesta segunda-feira, as acusa��es s�o relacionadas aos supostos pagamentos feitos para Lula e para o "sobrinho", relacionados a neg�cios em Angola. O delator explicou que n�o teve envolvimento direto com o caso.
"N�o tive nenhuma rela��o com esse assunto da contrata��o do sobrinho, e o que eu soube, soube depois. Como tamb�m n�o era respons�vel pela rela��o com o presidente Lula, nem constava nos meus anexos. Quando veio a denuncia (do MPF, em 2016) eu ainda n�o tinha fechado o acordo de colabora��o, eu apenas citei em um dos meus anexos o que eu sabia dos fatos", explicou Odebrecht, ao juiz.
O delator voltou a contar que o diretor da Odebrecht em Angola Ernesto Bayard o comunicou, ap�s os acertos, que havia a solicita��o de apoio. "O que eu soube foi que por volta de 2011, que o Ernesto Bayard me alertou, que houve pedido de Lula, n�o sei se a meu pai ou Alexandrino para que n�s pud�ssemos subcontratar o sobrinho dele em Angola."
Odebrecht disse tamb�m que tempos depois Alexandrino tamb�m relatou novo pedido para ajuda ao "sobrinho". "N�o tinha falado nada, porque n�o tinha me envolvido."
Marcelo foi questionado se confirmava a den�ncia do MPF de 2016, inicial do processo, que vinculava o empres�rio � negocia��o com Lula para pagamento de R$ 20 milh�es por meio da contrata��o da empresas Exergia, de Taiguara, em troca do financiamento do BNDES. O delator disse que � falso.
Odebrecht disse que a den�ncia do caso, que o coloca como respons�vel direto pelos acertos e pagamentos a Lula e ao sobrinho, segundo o Minist�rio P�blico, gera uma situa��o "injusta". "Ocorreu quando n�o t�nhamos fechado a colabora��o. Portanto, foi o que o Minist�rio P�blico conseguiu angariar sem a nossa colabora��o." Ele disse que tentou alertar a Procuradoria sobre o fato dele n�o estar envolvido.
"N�o sei em rela��o a todos os fatos, mas o meu envolvimento n�o houve. E a gente, ao meu modo de ver, corroborou isso com v�rios depoimentos de outras pessoas. Mas o Minist�rio P�blico manteve a den�ncia e meu envolvimento, o que criou uma situa��o ao meu modo de ver injusta."
Defesa
O advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse na �ltima sexta que os depoimentos de Marcelo e de Em�lio, somados, deixam claro que "o ex-presidente n�o praticou nenhum ato il�cito que foi imputado a ele nessa a��o."
"N�o h� como sustentar v�nculo com o ex-presidente. Se ocorreu algum fato il�cito, n�o tem qualquer participa��o de Lula", disse Zanin.
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