Ex-correspondente do The New York Times no Brasil, o jornalista e escritor Larry Rohter apontou semelhan�as entre o comportamento dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, nas redes sociais. De acordo com Rohter, o v�deo publicado por Bolsonaro em que ele aparece como um le�o cercado por hienas � parecido com uma montagem exibida por apoiadores de Trump em evento de campanha de sua reelei��o, no qual o presidente americano pratica atos de viol�ncia contra seus advers�rios.
"As semelhan�as do Brasil com Estados Unidos s�o muitas e alarmantes", disse ele durante o evento Estad�o Summit Brasil - O que � poder? nesta quarta-feira, 30. "A linguagem dos dois v�deos � igual". Rohter classificou o comportamento midi�tico de Trump e Bolsonaro como crises institucionais. Ele disse que o Brasil pode estar mais preparado do que os Estados Unidos para enfrentar essa situa��o. "Eu vejo paralelos, mas sou mais otimista no caso do Brasil", afirmou. "N�s estamos enfrentando uma crise desse tamanho pela primeira vez e n�o temos as ferramentas para enfrentar isso, temos uma Constitui��o do s�culo XVIII. Voc�s (brasileiros) j� passaram por isso e aprenderam a driblar as crises".
Ap�s a palestra, em entrevista ao Estado, Rohter voltou a tra�ar paralelos entre Trump e Bolsonaro no trato com a imprensa. O jornalista comparou a medida provis�ria baixada pelo governo Bolsonaro que desobriga a publica��o de balancetes em jornais e as amea�as do brasileiro de cortar verbas publicit�rias de ve�culos de imprensa ao an�ncio feito por Trump na semana passada de que o governo americano n�o iria renovar as assinaturas dos jornais The New York Times e The Washington Post, ambos cr�ticos � sua administra��o. "S�o tentativas de estrangular a imprensa livre", afirmou.
Amea�ado de ser expulso do Brasil pelo governo Luiz In�cio Lula da Silva depois de publicar uma reportagem em 2003 sobre os h�bitos et�licos do petista, Rohter tamb�m comparou Lula a Bolsonaro. "Bolsonaro � o reflexo invertido de Lula. Ambos t�m instintos autorit�rios e populistas. No meu caso, as institui��es funcionaram. A imprensa brasileira, mesmo discordando da mat�ria, fez a defesa da liberdade de express�o. O Judici�rio deu uma liminar proibindo a minha expuls�o", lembrou.
O pesquisador da Universidade de Oxford Caio Machado afirmou que, diante da forma com que Trump, Bolsonaro e outros l�deres usam as redes sociais, � necess�rio repensar o papel dessas figuras p�blicas nas plataformas. "Nos Estados Unidos, Trump bloqueou um jornalista e a Suprema Corte decidiu contra essa atitude. Se o Twitter serve de Di�rio Oficial, como podemos lidar com isso?", questionou.
Machado participou de um levantamento organizado pela Universidade de Oxford que registrou campanhas de desinforma��o em 70 pa�ses. Esse n�mero representa um aumento de 150% em rela��o ao mesmo mapeamento feito em 2016. "H� uma especializa��o por parte dos agentes pol�ticos que sacaram que, ao influenciar a tecnologia, � poss�vel influenciar a sociedade", ressaltou ele. "Em certos pa�ses vemos os desenvolvimento de um aparato dedicado � internet".
Ele destacou duas estrat�gias empregadas por essas campanhas de desinforma��o: a cria��o de cortinas de fuma�a para distrair o debate p�blico e o ataque �s institui��es e � imprensa livre. "Vejo um desmantelamento das institui��es que foram constru�das nos �ltimos 30 anos", disse. "Na Europa e nos Estados Unidos h� apego �s institui��es. Aqui, temos um apego � personalidade. Tenho medo de que voltemos a personalizar o poder, ao inv�s de institucionalizar o poder".
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