
Hoje seria dia de movimenta��o, presen�a de autoridades em Matias Cardoso, no Norte de Minas, onde em anos anteriores houve a transfer�ncia simb�lica da capital do estado para a cidade em 8 de dezembro, por conta da comemora��o do Dia dos Gerais, institu�do oficialmente desde 2011. Mas, no lugar de festa, frustra��o. Alegando conten��o de despesas, diante das dificuldades financeiras, o governador Romeu Zema (Novo) suspendeu a solenidade do Dia dos Gerais, cancelando tamb�m a entrega de medalhas que aconteceria durante a cerim�nia.
A suspens�o do evento gerou protestos de lideran�as norte-mineiras e tamb�m por parte da oposi��o ao governador. O primeiro a dar o grito foi o deputado federal Paulo Guedes (PT), que foi o primeiro signat�rio da proposta de emenda � Constitui��o Mineira, promulgada em dezembro de 2011, que instituiu a comemora��o do Dia dos Gerais como uma das tr�s datas magnas do estado – as outras duas s�o 21 de abril (Inconfid�ncia Mineira, em Ouro Preto) e 16 de julho (Dia de Minas, em Mariana).
“Ao suspender a comemora��o do Dia dos Gerais, o governador (Romeu Zema) est� desrespeitando a Constitui��o do estado, que diz que, em 8 de dezembro, a capital do estado deve ser transferida simbolicamente para Matias Cardoso. Ele est� cometendo um ato de desobedi�ncia constitucional”, dispara Paulo Guedes. O petista lembra que o Dia dos Gerais baseado em estudo hist�rico que mostrou a import�ncia de Matias Cardoso na ocupa��o do territ�rio mineiro no s�culo 17. Ele salienta que o antigo povoado de Morrinhos foi fundado antes do Ciclo do Ouro, em 1650. Da mesma forma, a Igreja Nossa Senhora da Concei��o (padroeira de Matias Cardoso) � apontada por historiadores como a primeira constru�da em solo mineiro, tendo sido erguida em 1695.
O parlamentar afirma que a alega��o de economia de gastos pelo governo do estado n�o tem fundamento. “Esse argumento n�o se justifica porque se trata da comemora��o de um fato hist�rico. Poderia ser feita uma solenidade simples, sem maiores despesas, numa tenda, na C�mara Municipal ou mesmo na igreja de Matias Cardoso”, diz Paulo Guedes.
Discrimina��o
A medida do governo estadual tamb�m foi criticada pelo professor e antrop�logo Jo�o Batista Almeida Costa, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), autor de estudos sobre a ocupa��o do territ�rio mineiro usados na cria��o do Dia dos Gerais. Para ele, o cancelamento da solenidade � uma forma de discrimina��o com o Norte de Minas.
“Existem tr�s datas magnas na Constitui��o Mineira que preveem a transfer�ncia simb�lica da capital do estado para Ouro Preto (21 de abril), Mariana (16 de julho) e Matias Cardoso (8 de dezembro). Se o governador cancelasse os eventos nas tr�s cidades, ele estaria tratando todas igualmente. Mas, se cancela (a solenidade) s� em Matias Cardoso, ele mostra desrespeito ao Norte de Minas. Tamb�m demonstra que n�o conhece a hist�ria da regi�o”, avalia Costa.
O antrop�logo afirma que o “povo catrumano” teve import�ncia �mpar na ocupa��o do territ�rio de Minas Gerais e ajudou a “consolidar a sociedade mineira”. Segundo ele, os “Gerais” (Norte de Minas) surgiram antes das “Minas” (Ouro Preto e Mariana, Ciclo do Ouro). De acordo com o pesquisador da Unimontes, em 1720, o Conselho Ultramarino de Portugal decidiu pela cria��o da Capitania das Minas Gerais,” a partir da incorpora��o da regi�o das Minas aos Gerais”. “O territ�rio do Norte de Minas foi ocupado originalmente pelos ind�genas e depois pelos descendentes de africanos com os seus quilombos. Na sequ�ncia, chegaram os paulistas, vieram os nordestinos. Mais tarde se formaram os mineiros”, descreve Jo�o Batista Almeida Costa.
Para o integrante do Movimento Catrumano (que defendeu a cria��o do Dia dos Gerais), Paulo Ribeiro (sobrinho do antrop�logo Darcy Ribeiro), a suspens�o da solenidade de Matias Cardoso neste domingo “constitui mais um cap�tulo de desrespeito ao Norte de Minas e com a hist�ria da regi�o”, demonstrando tamb�m a desarticula��o entre as lideran�as norte-mineiras.
O que diz o estado
O governo do estado, por meio de sua assessoria, justificou que suspendeu a comemora��o do Dia dos Gerais em Matias Cardoso por causa da “delicada situa��o financeira”, que atribui a um “rombo” de R$ 34,5 bilh�es “deixado pela gest�o anterior”. Tamb�m justifica que � inten��o do atual governo extinguir algumas solenidades de comendas para “evitar gastos significativos” ao estado. “Nesse sentido, outros eventos, que eram de praxe em gest�es passadas, tamb�m poder�o deixar de ser promovidos”, conclui.