Em meio a um cen�rio polarizado, mais da metade dos partidos pol�ticos brasileiros se diz de centro, enquanto apenas um - o PSL, at� pouco tempo atr�s a legenda do presidente Jair Bolsonaro - se considera de direita e sete se colocam como de esquerda. � o que aponta levantamento feito pelo Estado com os 33 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A reportagem questionou as siglas como elas se autodefinem em rela��o � orienta��o ideol�gica. "O PSL � um partido liberal, de direita", informou a legenda. Partido hegem�nico na esquerda do Pa�s h� pelo menos 30 anos, o PT saiu de sua �ltima conven��o nacional, realizada em novembro, como uma agremia��o "de esquerda democr�tica e libert�ria".
J� outros partidos deram respostas "curiosas" quando questionados sobre qual orienta��o ideol�gica seguem. O Solidariedade, por exemplo, se declara uma sigla que segue os preceitos do "humanismo sist�mico", enquanto a Rede se enxerga como um partido "sustentabilista progressista".
O levantamento mostra que, diante da narrativa de polariza��o que coloca, de um lado, parte da direita aglutinada em torno do bolsonarismo e, do outro lado, a esquerda tendo como n�cleo o petismo representado pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, os partidos buscam se afastar dos extremos se colocando, de alguma forma, no centro do espectro pol�tico.
Dez partidos se declaram puramente como de centro: PMB, MDB, PL, PSD, PTC, DC, PROS, Avante, Patriota e Podemos. De centro-direita s�o PTB, Progressistas, PSC, PRTB e Republicanos. J� PDT, PSB, Cidadania, PV e PMN se encontram na centro-esquerda, segundo eles mesmos.
O centrismo traz varia��es de acordo com as classifica��es dadas pelos partidos que o representam. "Acreditamos que o centro seja o melhor ponto para que a gente possa aproveitar o que h� de bom na esquerda, da extrema esquerda, da direita e da extrema direita", afirmou o Patriota. J� o Podemos afirma ter tr�s pilares ideol�gicos: "Mais transpar�ncia, mais participa��o e mais democracia direta".
Para o cientista pol�tico da FGV, Cl�udio Couto, a autodenomina��o de centro � uma tentativa ret�rica dos partidos se mostrarem mais moderados.
"Alguns que se definem como centro s�o claramente partidos de direita, o que n�o quer dizer que seja uma direita radical. J� o PSL a gente n�o sabe o que �, ainda mais depois dessas confus�es que ele se meteu, mas se a gente for tomar pelo bolsonarismo ele seria uma extrema-direita, n�o um direita moderada", afirmou Couto.
Embora n�o caracterize necessariamente uma orienta��o ideol�gica, o termo liberal aparece com frequ�ncia nas defini��es dadas pelas siglas: nove partidos citam a palavra na hora de descrever seu posicionamento. O PSL se considera "liberal de direita"; o PRTB � "liberal-conservador", e "liberal de centro" � como se considera o PL. O PSDB afirma ser adepto do "liberalismo social" e o DEM, uma agremia��o "democrata liberal". Tr�s partidos se dizem "liberal na economia": PTB, PSC e Republicanos. A �nica legenda que se diz puramente liberal, sem maiores pondera��es, � o Novo.
"(Ser liberal) � entender que o cidad�o deve ser o protagonista, e n�o o Estado. O subproduto dessa cren�a � entender que a gente tem que ter um Estado mais enxuto, menos privil�gios e mordomias na �rea p�blica", disse o presidente nacional do Novo, Jo�o Amoedo.
Ao todo, sete partidos se consideram de esquerda: PCdoB, PCB, PSOL, PCO, PSTU, PT e a rec�m-criada Unidade Popular (UP). �ltima sigla a conseguir o registro junto ao TSE, a UP se classifica como um partido que "deve ter no centro de suas a��es as lutas populares e n�o a concilia��o". "Somos um partido de esquerda. Que surgiu a partir do esgotamento de quase todos os partidos de esquerda e da direita tamb�m, que ficou bem n�tido a partir das manifesta��es de junho de 2013", afirmou o presidente nacional da UP, Leonardo P�ricles Roque.
H� diferen�as entre as legendas que se dizem de esquerda: o PCdoB "orienta-se pela teoria marxista-leninista, a qual buscamos desenvolver e aplicar, de maneira original, na realidade brasileira"; o PCB se considera comunista; o PSOL, socialista. Outras siglas ligadas ao campo da esquerda preferem se colocar como "centro-esquerda", embora tamb�m marquem diferen�as entre si. O PDT se apega � pr�pria hist�ria e afirma ter "ra�zes no trabalhismo hist�rico de Vargas".
Ao menos duas classifica��es enviadas � reportagem fugiram das concep��es mais usuais quando se discute orienta��o ideol�gica. O Solidariedade, cujo presidente nacional � o l�der da For�a Sindical e deputado federal, Paulinho da For�a, afirmou ser adepto do "humanismo sist�mico". "O humanismo sist�mico nada mais � que a compreens�o do Humanismo na contemporaneidade", informou o partido, citando tr�s pilares que dizem sustentar conceitualmente sua agenda: a coopera��o e a solidariedade como princ�pios b�sicos e estruturantes de todas as rela��es sociais; a valoriza��o do trabalho humano, e o desenvolvimento econ�mico, humano e social sustent�vel.
A Rede usou uma concep��o p�s-moderna para conceituar seu "sustentabilismo progressista". "A vis�o bin�ria de esquerda/direita, hermeneuticamente potente e importante para as sociedades ocidentais do s�culo 18, n�o responde mais a todas as descobertas, transforma��es e met�foras pol�ticas que presentemente fazem parte da nossa cultura social", disse o partido.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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